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`Muitchas´ histórias: Caetano e Gil, a coisa da baleia, o sete pele…

DENNY FERREIRA/DIVULGAÇÃO
ALÉM DE FATOS ENGRAÇADOS, RIACHÃO FALA SOBRE O ENCONTRO COM CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL, QUANDO VOLTARAM DO EXÍLIO: “ELES DISSERAM QUE FORAM MEUS MACACOS DE AUDITÓRIO. NUNCA VOU ME ESQUECER DISSO”

“Cada macaco no seu galho” com Caetano e Gil foi a glória nacional, né?

Ah, eu guardo essa história de Caetano e de Gil no coração. Eles foram exilados, tiveram a felicidade de retornar ao Brasil e queriam uma música que fosse de acordo com a situação deles. Vieram para a Bahia e fizeram uma reunião com os sambistas daqui. Queriam, juntamente com a equipe da Phillips (atual gravadora Universal Music), uma música para fazer a reentrada no país. Na primeira reunião não compareci porque meus colegas não me deram o recado.

Ah!

Vai escutando. Eu trabalhava num banco (Desenbanco) e quando cheguei na segunda-feira para trabalhar, o sogro do Caetano e Gil, Doutor Gadelha (diretor da instituição e pai de Dedé e Sandra), virou-se para mim e disse: “Ô, Riachão você enfornou a reunião de Caetano e Gil, não recebeu o recado de seus colegas?”. Eu disse: “Ah, doutor Gadelha, amigo meu de samba, dar recado? Isso é coisa mais difícil. É bem capaz de dizerem que já morri”. Ele me levou ao seu gabinete, fez um bilhete com endereço de Caetano e Gil e me pediu para comparecer no sábado seguinte.

A concorrência era forte, né?

É… Combinei que ia saber o que queriam com o malandro aqui. Cheguei no endereço e Caetano disse que estava muito contente, Gil também. Lembro que falaram para a equipe: “Nós fomos macacos de auditório desse homem aqui”. Nunca mais esqueci. Eu estava alegre, feliz, tinha tomado umas cachaças… Caetano e Gil me acompanharam ao violão e cantei vários sambas. Quando cantei: “Chô, chuá, cada macaco no seu galho/ chô, chuá, eu não me canso de falar/ chô, chuá o meu galho é na Bahia”… Vi a turma suspendendo o dedão e gritando: “é essa, malandro!”. Não deu outra. Quanto mais levantavam o dedo mais eu cantava: “chô, chua”. Cantei bastante (risos).

Você se considera um cronista urbano, Riachão?

Eu observo muito as coisas para colocar nas músicas. Todas as músicas que tenho são baseadas em acontecimentos. Por exemplo: aqui, na Bahia, chegou pela primeira vez a baleia. O baiano ouvia falar muito, mas não conhecia. Isso em 1958, 59… eu esqueço datas, os bastidores da Bahia têm as datas certas.

Como foi essa história?

Pois é, um americano trouxe a baleia (chamada Moby dick, morta, exposta à visitação) para Salvador. Eu sai do rádio com dois amigos e vi uma multidão na Praça da Sé. Fomos lá. Na verdade, a gente estava indo para tomar umas cachacinhas nos pontos nossos. Deixei de ir aquele dia para ver o movimento. Fiz o perguntado: “o que é”?”Alguém me respondeu:” a baleia”. Fui conversar com um soldado, na porta. Eu com toda a gentileza mandei: “Meu grande amigo, boa tarde, como vai? Gostaria que me desse a permissão para ver a baleia, nunca vi. Nós somos da imprensa”. (risos)

Essa é boa!

De fato, nos trabalhávamos nos Diários Associados, mas não éramos jornalistas. O soldado se tremeu com a palavra “imprensa” e nos deu o direito de ver a baleia. Fiquei abismado com tudo, inclusive com o tamanho do caminhão que trouxe o bicho: era do tamanho dessa casa. Eu comecei a olhar pra baleia e Deus foi me mandando logo a música. Falei para os dois companheiros: “está chegando uma música, colegas”. (risos). Fui cantar para o americano dono da baleia, que falava português. Ele era alto e eu pequenininho, deste tamanho que você vê. Bati nas costas dele e quando me olhou eu disse: “Ó, ó, samba! Samba em homenagem a baleia”.

E daí?

E ele: “como é o samba”? Eu soltei no ar: “Olha eu vi para a cidade despreocupado/Quando eu cheguei na Sé/ Vi um povoado/Oi “minino”/Fiz um perguntado,/ responderam que a baleia é que tinha chegado/ Eu vi o caminhão da baleia/ Eu vi o cabeção da baleia/ Eu vi o barrigão da baleia/ Eu vi o umbigão da baleia/ Eu vi o rabão da baleia/ Só não vi uma coisa da baleia”. O americano ficou tão empolgado que que me deu cinco mil réis para gravar a música em acetato. Comprei quatro acetatos, um pra mim e três pra ele. Foi a minha primeira gravação.

Vá morar com o diabo, foi inspiração de Deus também, é?
(risos) Foi. Uma vez o Jô Soares me perguntou: “Riachão, você que gosta tanto das mulheres, fala tão bem das mulheres e por que fez uma música como essa?”. Eu respondi e respondo pra você também: nem tudo o que eu componho aconteceu comigo. Essa música eu fiz por conta do ocorrido com um amigo meu. Na hora a música veio, foi inspiração. Ora, se aquela mulher não quer saber de trabalhar, de varrer a casa, de passar e engomar que vá morar com o diabo.

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