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Paulinho da Viola: “O tempo me ensinou a valorizar o silêncio”

Sei – sabemos? – que ele dispensa extensas apresentações. Mas quero – devemos! – falar de Paulo César de Batista de Faria. Paulinho da Viola, grande! Na dele, discreto como poucos, genial como poucos, sambista como poucos. Veja: se dependesse de Batatinha, ou Oscar da Penha (1924-1997) , sambista baiano dos tons menores, o cantor e compositor deveria ser ministro do Samba. Fez até letra e música reivindicando. Batata não foi atendido. Ficou a intenção.

Uma colunista social carioca – há tempos – o chamou de “Príncipe do Samba”, título que ele se esquiva, elegantemente, por não se achar o merecedor. Diz pertencer ao veterano Roberto Silva, cuja honraria carrega desde os tempos em que o rádio era tudo.Tudo.

Numa entrevista que fiz com Paulinho, em Londrina, quando se apresentou no Cabaré do Festival de Teatro de Londrina (FILO) resumiu-se a “um vassalo do samba”. Olha, só! Pode, gente?

Paulinho da Viola não dá entrevista. Promove bate-papo gostoso. Vontade de ficar ouvindo o que tem a falar horas e horas. Não altera o tom de voz. Responde a tudo suavemente. Acolhedor. Nobre!!! É nobre. Elegância no trato com o interlocutor sem resvalar – momento algum – em falsas modéstias ou presunções disfarçadas. Sabe o que lhe pertence, dá peso ao que interessa.

Tem pressa de nada. O tempo sobrepõe-se à arte. Saiu ele da casa real como o guardião da realeza de Cartola, Sinhô, Zé Keti, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, entre outras tantos e bambas (ok, “bamba” é chavão, mas eu gosto).

Saudado de várias formas, não sai por aí ostentando o que lhe direto cabe. Tema de doutorado (“Velhas Histórias, Memórias Futuras”, de Eduardo Coutinho, transformado em livro), documentário (“Meu Tempo é Hoje”, de Izabel Jaguaribe) e até em título concedido pelo governo francês de Chevalier de L’ordre des Art et des Letters, em 1985. Aos intensos, iniciados ou curiosos que acompanhem a trajetória no site de Paulinho.


DVD contém 21 faixas, seis a menos que o CD: sucessos revisionados e canções inéditas

Tá! Há 11 anos não lança um disco com canções inéditas.Tem mais de 20 arquivadas.Algumas podem ser conferidas no projeto “Acústico MTV”(gravadora Sony BMG).CD e DVD. Formato desgastado, mas com Paulinho nada soa burocrático (Zeca engomadinho, ops, Pagodinho, gostou e já fez dois).

As inéditas: “Bela Manhã”, “Vai Dizer ao Vento” (que levou “apenas” 11 anos para que, junto com Eduardo Gudin, pudesse chegar ao que lhe soasse soava bem) e “Talismã” (letra de Marisa Monte e Arnaldo Antunes).

Gravado nos dias 24 e 25 de julho, em São Paulo, “Acústico MTV” assenta-senas lojas. As 21 faixas do DVD e 15 do CD incluem sucessos. Arranjos de Cristóvão Bastos.

Tanta coisa bonita revisitada. Revitalizada. “Tudo se Transformou” é de se ver/ouvir com a devida pertinência melancólica. Linda!!!

Claro, durante a gravação foram repassadas várias vezes algumas músicas. Perfeccionismo. Paulinho da Viola, 43 anos de carreira, 27 discos e 65 anos de idade assinalados no dia 12 de novembro. A entrevista a seguir, chegou ao meu computador um dia antes da data.

Guardei com imenso carinho. A seguir os principais trechos do que Paulinho, um pouco avesso às respostas digitadas, enviou. Ao seu tempo. Demorou, mas enviou.

Meu coração se encheu de alegria, Paulinho. Da Viola. Do samba. De quem meu pai, Antônio, tanto gosta e até ensaiou, certa vez, uns passinhos de samba ao ouvi-lo. Felicidade cristalizada na minha memória…

Como explicar que Paulinho da Viola sempre foi “acústico” e aceitar fazer um disco “Acústico MTV”?

Primeiro é preciso esclarecer que meu trabalho nem sempre foi acústico. Trabalhamos com o baixo elétrico do Dininho há quase quarenta anos. Nos primeiros anos de 1980 várias vezes usamos sintetizadores. Por isso, não sei exatamente em que categoria eu me encaixo. De qualquer maneira, não vejo problemas por ter aceitado o convite da MTV propondo um “acústico” para participar do seu Acústico

Você completou 65 anos de idade e já tem 43 de carreira. Esse seria o momento certo de fazer uma retrospectiva da carreira? Como não soar burocrático?

Na verdade, eu não vejo esse projeto como uma retrospectiva. São apenas 15 músicas já gravadas e nem todas fizeram sucesso. Aproveitei a oportunidade para regravar algumas que eu gostava muito e que não ficaram muito conhecidas, sem deixar, é claro, de incluir aquelas de maior sucesso como “Foi um Rio que Passou em minha Vida”, “Timoneiro” e “Sinal Fechado”. Foi uma boa oportunidade para se mudar algumas coisas, criando mais e evitando repetições e, como você disse, sem soar burocrático. Espero que o resultado possa chegar às pessoas que não estão muito acostumadas com essas coisas do samba e que elas gostem.

Você tem um bom material para um disco só com canções inéditas, que você não lança há mais de uma década. Por que aceitou esse convite da MTV em vez de entrar em estúdio e gravar nova safra de canções?

Há anos eu venho conversando e examinando muitas propostas para voltar a gravar. O que me impedia eram as incertezas desse mercado, com tantas mudanças, pirataria, queda de vendas e todo mundo se queixando. Pretendo, em breve, retomar os trabalhos de preparação de outro CD trazendo mais composições inéditas. No momento é me dedicar ao máximo na divulgação do Acústico MTV e fazer muitos shows no próximo ano.

O que o tempo lhe ensinou de mais valioso, Paulinho?

A valorizar o silêncio. Nós falamos demais. Principalmente sobre nós mesmos. Tenho consciência de como é difícil mudar certos hábitos, mas eu venho me esforçando.

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