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NOEL ROSA EM NOVOS CANTOS
| Foto:
NELSON FARIA/DIVULGAÇÃO
Veteranos e novatos interpretam obras emblemáticas de Noel Rosa: Roberta Sá é quem mais se destaca no único projeto de visibilidade que assinalou os 70 anos de morte do “Poeta da Vila” ou “Filósofo do Samba”, no ano passado

Que relação julga que existe entre o amor e a música?

Romeu e Julieta morreram ignorando-a. Acho,porém, que a relação seja a mesma que existe entre a casca de banana e o escorregão.

(Resposta atribuída a Noel Rosa)

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O Brasil das datas redondas não deu tratos à bola nos 70 anos de morte de Noel Rosa, no ano passado. Quer dizer, um tributo aqui, ali, acolá houve, porém a data passaria batidinha no mercado não fosse o disco “Uma noite…Noel Rosa”. O DVD, aportando em breve, também integra a parceria entre a MP, B Discos e Universal Music.

O projeto coletivo sustenta-se com canções emblemáticas compostas por Noel e parceiros entre 1929 e 1937. Veteranos e novatos alternam-se nas 15 faixas. A moçada diz mais!

Roberta Sá é o grande destaque. Única representante feminina, Ela interpreta com segurança e elegâncias três faixas: “O X do problema”, “Pela décima vez” e “Silêncio de um minuto” (com as cordas graves do violão dando um acento “fúnebre”). Roberta não precisa provar mais nada: o samba lhe cai tão bem quanto sua voz de delicada modulação.

Diogo Nogueira e Maurício Pessoa ficaram, ao menos no CD, com apenas uma faixa cada. O primeiro vem com dolência – e timbre próximo do pai, João Nogueira – e dá recado certeiro em “Conversa de Botequim” (Noel-Vadico). Ao segundo coube a pouco conhecida “Você vai se quiser” (1929). Deveriam ter mais espaço.

Há quem não dê muito bem conta do recado. Faltou imponência ao cantor e compositor Rodrigo Maranhão na mais delineada (melodia e letra) declaração de amor à Vila Isabel (“Feitiço da vila”, com Vadico). Maranhão acerta mesmo nos tons menores e reergue-se no dueto com Zé Renato (“Palpite infeliz”) e na solo “Pra que mentir?” (Noel-Vadico) tão bem compreendida ao violão de sete cordas(Marcello Gonçalves) e acordeon (Marcelo Caldi).


“Uma noite.. Noel Rosa” foi gravado ano vivo: mesmo com algumas performances burocráticas, disco comprova a atualidade literária e melódica do artista

NEY, BOSCO E PAGODINHO – O registro audiovisual de “Uma noite… Noel Rosa” (o título poderia ser mais interessante bem como o projeto gráfico, né?) aconteceu no Rio de Janeiro, em dezembro do ano passado. A base instrumental é do grupo Anjos da Lua: Galotti e Mariana Bernardes (cavaquinhos), Pedro Hollanda e Rubinho Jacobina (violões), Pedro Miranda (pandeiro) e Sandrinho (tantan e tamborim).

Todos com participação vocal com exceção de Sérgio Krakowski (pandeiro e reco-reco) e Dr. Guilherme (percussão). O pessoal encerra o disco no pot-pourri “Adeus/ O orvalho vem caindo/Até amanhã”. O disco tem presença de outros músicos como Alfredo Del Penho (violão de sete cordas) e Eduardo Neves (sopros).

Zeca Pagodinho e João Bosco gravaram, respectivamente, em estúdio, “Fita amarela” e “Um gago apaixonado”. Pagodinho e aquela coisa de sempre. Bosco recorre às características firulas vocais e pronto.

Ney Matogrosso – o tempo é favorável a esse homem! – participa ao vivo em “Último desejo” e “Três apitos”. O canto dele é tão digno quanto o de Araci de Almeida e Marília Batista, que souberam maximizar o que provinha do “filósofo do samba”, como o locutor César Ladeira se referia a Noel.

Zé Renato é quem faz a ponte entre emergentes e incensados. Sintonizado com as tradições e o canto orgânico, a ele foram destinadas “Com que roupa” e “Rapaz folgado”. Essa última acendeu o estopim da polêmica – a MPB agradece – entre Noel Rosa e Wilson Batista.

As “farpas” teriam começado em 1933 quando Batista compôs – e Sílvio Caldas gravou – o samba “Lenço no pescoço”, que Noel não gostou nadinha por fazer apologia ao malandro. Respondeu com “Rapaz folgado” (o subtítulo é “deixa de arrastar o teu tamanco). Sucederam-se “respostas” sarcásticas (“Mocinho da vila”/Batista; “Palpite infeliz”/Rosa) e até pesadas (“Frankstein da vila/Batista; “João ninguém”/Noel – nessa paira a dúvida se era para o rival, o folclore é maior).

REPRODUÇÃO
Em 26 anos de vida, Noel de Medeiros Rosa compôs mais de 250 canções: boêmio, homem de muitos amores, gênio da raça

CRAQUE DAS MELODIAS E LETRAS – Noel de Medeiros Rosa nasceu no dia 11 de dezembro de 1910. Morreu aos 26 anos e cinco meses, conforme o historiador Sérgio Cabral, responsável pelo material de divulgação, mais elogioso que informativo.

Vida desregrada, boêmio, admirador de Sinhô, pretenso “doutor” (abandonou a faculdade de Medicina no terceiro ano), violonista (começou tocando bandolim), homem de amores, intenso! Noel veio sob pressão do fórceps que causou afundamento maxilar. Lutou contra a tuberculose, perdeu.

Legado musical, mais de 250 obras. “Era um compositor maravilhoso mesmo sem parceiros, pois, além de ser um dos nossos melhores letristas de todos os tempos, era também um craque para compor melodias”, escreveu Sérgio Cabral.

Ano passado marcou também os 97 anos do nascimento de Noel Rosa. No centenário haverá tributos de todas as espécies. Por favor, não esqueçam de incluir Roberta Sá. A moça sabe de tudo o mais.

REPERTÓRIO DE “UMA NOITE…NOEL ROSA”

* Fita amarela (Noel Rosa) – Zeca Pagodinho
* Um gago apaixonado (Noel Rosa) – João Bosco
* Conversa de botequim (Noel Rosa- Vadico) – Diogo Nogueira
* O X do problema (Noel Rosa) – Roberta Sá
* Pela décima vez (Noel Rosa) – Roberta Sá
* Silêncio de um minuto (Noel Rosa) – Roberta Sá
* Com que roupa (Noel Rosa) – Zé Renato
* Rapaz folgado/Deixa de arrastar o teu tamanco (Noel Rosa) – Zé Renato
* Feitiço da vila (Noel Rosa- Vadico) – Rodrigo Maranhão
* Palpite infeliz (Noel Rosa) – Zé Renato
* Pra que mentir (Noel Rosa-Vadico) – Rodrigo Maranhão
* Você vai se quiser (Noel Rosa) – Maurício Pessoa
* Último desejo (Noel Rosa) – Ney Matogrosso
* Três apitos (Noel Rosa) – Ney Matogrosso
* Adeus (Noel Rosa-Ismael Silva-Francisco Alves) / O orvalho vem Caindo (Noel Rosa- Kid Pepe) / Até amanhã (Noel Rosa) – Anjos da Lua

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