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PODE ENTRAR, NOVO TEMPO!
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De branco, claro! E sempre e tanto. O cheiro de defumador articulando intentos: menos de avalanches internas e externas. Vaso de plantinha com florezinhas oferecidas e isentas de semiótica.

Sem muitos ritos: o branco, o cheiro, Senhoras de Aparecida e Desatadora dos Nós na correntinha de ouro dada por quem foi minha voz quando em vida – Santa Virgem Maria, vós que sois mãe, a minha. Contas dourada, azul celeste, alva, ekãs.

A reza doméstica e prática – com vigor maior, obviamente -, um breve canto em iorubá. Valei-me. Pode vir 2009, cá estou.

Música alta. Antes e depois do empenho espiritual, alta. Nada de retrospectiva pessoal, quero som, vozes, harmonia. O que tinha que ser afastado por mim foi – viva eu, viva tu e segue paz.

Música alta, pés descalços, gente ao lado, falando, gritando, abraçando, beijando, colando-se por segundos – o ano novo é melhor que o Natal, não há peso de harpas nem aquele disquinho da Simone.

Se bem que em festa de ano novo já peguei o violão e a turma reunida logo já pedia: toca aquela, aquela, aquela outra e aquela e lá pelas tantas o goró bateu atravessado e todo mundo de branco, um pouco amassado, é verdade, cantando “Ouça”. Pode? Pôde.

Ano novo vale tudo. Vale o entusiasmo de querer abraçar e beijar efusivamente e, no desencontro dos afetos, dar um selinho sem querer na boca da tia. Ela se saiu bem: eu te amo, Juninho! Eu também te amo, tia Lola!!

Sem música não há cristão feliz. Que seja a tal “Adeus ano novo velho/ feliz ano novo/ que tudo se realize…” Se mantra fosse, muita gente não comeria superstições: sementes de romã, 12 bagos de uva, colheradas de lentilha com a nota de um dólar debaixo do prato. Os tais pedidos.

As roupas íntimas da cor do desejo – a gente não sabe o que é isso, nem onde colocá-lo. Saúde eu quero, dinheiro o suficiente para manter a espinha ereta.

Professora Doralice Araújo sugeriu (ela pode!) e eu aceitei fazer um post, conforme escreveu, com temas ajustadíssimos às celebrações da passagem do ano. Listinha não, canções que remetessem a vibrações boas. Algumas nomeadas e outras, citações.

A primeira que me veio à cabeça foi “Novo tempo” (Ivan Lins- Vitor Martins). Adoro! Versos marcantes: “No novo tempo, apesar dos castigos/ Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos/ pra nos socorrer”. Vontade extra de encarar o que vem à frente. Polimento no espírito libertário.

2009 está batendo à porta. Peço que bata com punhos leves, que os assombros venham com cautela e as boas novas não sejam meras contrapartidas. Dias melhores, mistérios vergados, a tolerância após um ano que se vai e deixa poucos brilhos e alguns friúmes.

Tá, não foi dos piores. Mas em que ano seremos melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo? “Dias melhores” (Rogério Flausino), boa sacada, breve reflexão para que não sejamos os mesmos anualmente.

Ainda para refletir – agora, que seja – vem de Guilherme Arantes. Melancolicamente bela, “Amanhã” sempre é evocada até mesmo em frases de MSN. Deu o que tinha dar, mas provoca reações em pedras alojadas no lado esquerdo. “Amanhã/ ódios aplacados,temores abrandados/ será pleno”.

Um pouco de auto-ajuda não faz mal a ninguém e para encerrar a seção “cá com meus botões”, a radiofônica “Enquanto houver sol”, dos Titãs. A alguém servirá.

Ano novo, 2009. Vamos ao alto-astral, à elegância dos sentidos, os pensamentos generosos – mesmo voláteis – e tudo de bom e do bem. Samba! Interessante: no ano novo, até o pessoal do bate-estaca se rende a um sambinha cheio de bossa. Os de sempre, mas sambas. Ou vai falar que ninguém, independente do grau etílico ou da mesmice pairando à ceia, não cantarolou uma dessas duas: “Deixa a vida me levar, vida leva eu” ou “Como será o amanhã, responda quem puder”. Tem que chamar 2009 com mais vigor e verdade.

Horas, dias, meses inéditos. Jesus-Maria-José, vem aí bom tempo? Chico Buarque assegura: “O pescador me confirmou/ Que o passarinho lhe cantou/Que vem aí bom tempo”. Tomara.

Monica Salmaso canta isso tão bonito, precisa ouvir! Lulu Santos prevê: “Eu vejo um novo começo de era/ De gente fina, elegante e sincera/ com habilidade pra dizer mais sim/ do que não”. Quero esse tempo.

A subjetividade, claro. A árvore, a divindade, o tempo, tempo, tempo, tempo do Caetano (“De modo que meu espírito, ganhe um brilho definido/ e eu espalhe benefícios”). Felicidade urgente para todos, Cláudio Zoli.

Porque tem vida nova esperando e os inevitáveis embates, os acordos selados, amores supostos, salas prontas, camas desarrumadas, os lençóis macios, é preciso saber viver. Porque, acima de tudo, há indícios de serenidade, o cotidiano, a poesia por ler, discos amontoados e um risco no ar – pode dar certo!

Tem vida nova, idade a mais, o espelho por onde meu rosto vai se emoldurando. Tem o otimismo e as flechas sorrateiras por se desviar, alguma dor aqui e ali. Desesperar jamais, aprendemos muito nesses anos: “Afinal de contas não tem cabimento/ Entregar o jogo no primeiro tempo”. (Ivan Lins – Vitor Martins). E vamos à vida.

2009, um momento. Não bata forte na porta, repito. Quem pode mais é Deus do céu! Maior é Deus, pequeno sou eu. Benjoim impregnado. Estou pronto. Vibrado, um estrondo. Sou! Pode entrar!!

REINAUGURAÇÃO
(Carlos Drummond de Andrade)

Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,
entre a desmistificação e a expectativa,
tornamos a acreditar, a ser bons meninos,
e como bons meninos reclamamos
a graça dos presentes coloridos.

Nossa idade – velho ou moço – pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos
e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,
a exata beleza que vem dos gestos espontâneos
e do profundo instinto de subsistir
enquanto as coisas ao redor se derretem e somem
como nuvens errantes no universo estável.

Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos os olhos gulosos
a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos
Esta é a magia do tempo
Esta é a colheita particular
que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,
no acreditar na vida e na doação de vivê-la
em perpétua procura e perpétua criação.
E já não somos apenas finitos e sós.

Somos uma fraternidade, um território, um país
que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro
e desenvolve na luz o seu frágil projeto de felicidade.

…………………..

Bom novo tempo para todos!

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