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Friozinho renitente não, Doralice? Estamos na primavera e os ipês em ramalhetes; alguns nem esperaram o tempo exato para a exaltação e, agora, arriam seus excessos. Eu gosto da primavera porque há gritos de auto-estima de flores e árvores. Tempo de glória, metafísica, concordâncias subjetivas.

Sabe, Doralice, primavera para mim é sinônimo de rosa. Não é minha flor favorita, gosto mais das margaridas e geométricas tulipas. Vermelhas e lindas. O Brasil gosta das rosas: vermelhas, brancas, amarelas, morena de Caymmi, mocambo de Bororó, dos ventos de Buarque/Bethânia porque Lufã pediu, esculturada por Deus e Pixinguinha.

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Removi a primavera na folha do Sagrado Coração. Alguns batem continência a calendários – um dia a mais de setembro de um ano a mais – e os ansiosos riscam xis nos números e o tempo não tem parada.

Pois bem, Doralice, você me “encomendou” algo sobre o que lá fora se anuncia. E recomendou não esquecer a “Primavera” (Cassiano- Sílvio Rangel) que o Tim Maia eternizou. Essa é para ser cantada em todos os ânimos.

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“Porque (é primavera)/ te amo (é primavera)/ te amo, meu amor/ trago essa rosa (para te dar)”. Tá vendo, a primavera tem várias cores, mas rosa predomina. Somos roseirais em flor, pelo menos essa é a intenção dos corações não embrutecidos. Fazemos o possível, certo?

Há muitas canções, digamos, primaveris. A maioria alia-se ao sentimento maior: o amor, menos que isso não dá. O poeta Vinicius escreveu e Carlos Lyra musicou a lacônica “Primavera”. Versos tão enraizados: “Estrela, eu lhe diria/ desce à terra, o amor existe/ e a poesia só espera ver nascer a primavera/ para não morrer”.

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O poeta Moraes com o maestro Jobim-Brasileiro também associou melancolia à estação – dizem – mais bonitinha do ano. “O tempo que o amor não nos deu/ toda a infinita espera/ o que não foi só teu e meu/ nessa derradeira primavera”.

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Francisco Buarque de Hollanda, o Chico, versionou dos cubanos Pablo Milanés e Nicolas Guillén algo tão bacana. Vê só: “Quem lhe disse que eu era/ riso sempre e nunca pranto? / como se fosse a primavera/ não sou tanto/ no entanto, que espiritual/ você me dar uma rosa / do seu rosal principal”. Tem rosa, “Como se fosse a primavera”.

Doralice confesso: gosto da produção de Beto Guedes, mas não me atrai o timbre do mineiro. Porém, não me coloco surdo e mudo diante de “Sol de Primavera”, feita com Ronaldo Bastos. “Quando entrar setembro/ e a boa nova andar nos campos/ quero ver brotar o perdão (…) Sol de primavera/ abre as janelas do meu peito”. Você gosta?

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Braguinha e marchinha rimam em “Primavera no Rio” (1934, registrada por Carmen Miranda: “O Rio amanheceu cantando/ toda a cidade amanheceu em flor/ os namorados vêm pra rua em bando/Porque a primavera é a estação do amor”).

Tem, veja só, “Vem é primavera”, do Tito Madi e Arnoldo Medeiros, gravada por Claudette Soares, em 1969. Eu a entrevistei, certa vez, e fiquei encantado.

Tarefa difícil puxar pela memória canções que falam em primavera no título. Fui aos discos de onde saltaram frases bem bonitas, vozes de todas as extensões e intenções. Do Google vieram as tais flores de plástico que os Titãs regam com obviedade. Não gosto!

As flores vão até onde podem ir. Ainda sou bem moço, prestes a colher quarenta e quatro primaveras e isso dói pelo lugar-comum. Eu não descolo flores, só sob licença poética.

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Uma vez recebi um monte de flores e fiquei tão sem jeito…Ganhei novamente, nossa! E era primavera, te juro! Amei, como eu amei! Caligrafia torta e os versos: “Quando o inverno chegar… É primavera, te amo”. Tim Maia e a grossa seiva. Ainda está para acontecer música mais bonita, né?

Doralice, eu bem que te disse que primavera é sinônimo de rosa. De Rosinha Passos, que desabrocha tanto lá fora e aqui no Brasil ainda não foi “colhida” com merecimento.

Com Walmir Palma, assim ela canta a “Primavera”: “Estou setembro, é primavera! / meu coração amanheceu feito jardim/ num alegretto inusitado, as borboletas/ vão espalhando grãos de pólen a granel/ terra fértil, mãe feliz, e tudo aceita/ há comunhão nesta estação, entre ela e o céu”.

Ela e eu. Por ser primavera e porque você deu o mote, me veio imediatamente uma canção que minha mãe gostava muito. “Estão voltando as flores” (1961, marcha-rancho de Paulo Soledade). Ela gostava da Dalva de Oliveira. Altemar Dutra a regravou. Simone trouxe à tona em 1979, quando eu era mais alegre e jovem.

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Estão voltando as flores
(Paulo Soledade)

Vê, estão voltando as flores
Vê, nessa manhã tão linda
Vê, como é bonita a vida
Vê, há esperança ainda

Vê, as nuvens vão passando
Vê, um novo céu se abrindo
Vê, o sol iluminando

Por onde nós vamos indo
Por onde nós vamos indo

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No pé de trocadilhos, tem sempre uma florzinha pra cheirar e ouvir.

Doralice, ando tão à flor da pele…

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Sugestões para comentários: Qual flor você mais gosta? Qual música marcou uma de suas primaveras? Espaço aberto