Celinha Honjo, a dona da casa dos cantos e que adora Roberto, me ligou no celular: “Júnior, liga a televisão que o Caetano Veloso está cantando com o Roberto Carlos”.
Havia me esquecido do especial “Bossa Nova 50 anos”, que a Globo exibiu no domingo, a partir de fragmentos dos shows –cantados em verso e prosa mídia afora – em que a Tropicália e a Jovem Guarda cantaram a Bossa Nova. Em especial, Tom Jobim.
Liguei a televisão e Caetano, que eu adoro, estava cantando “Inútil Paisagem” em meio a excessivas cordas e vibratos arranhados. Velô em terno, cor, gesto, luz e convencões orquestrais.
Hum! Para mim, a canção de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira,uma das mais sofisticadas e belas, só alcançam as grandes: Elis, Ella Fitzgerald e Nana Caymmi.O resto é burocracia ou anêmicas releituras.
Tá, mas o que me move a escrever esse post é Roberto Carlos. Que, lá nos primórdios, consentiu em ser um papel carbono do magnífico João Gilberto num disquinho que comercialmente deu em nada (hoje raridade), e acabou sendo o líder da turma do iê-iê-iê.
Foi Robertão e o Tremendão quem deram o necessário sopro pop na MPB. Hoje o “rei” sofre pane criativa, reino sustentado por lembranças.
Especial “Bossa Nova 50 anos”. Roberto ao lado de Caetano que,certa vez, o chamou de pusilânime quando, convertido nas tradições católicas, achou por bem apoiar o veto do ex-presidente José Sarney ao filme “Je vous salue, Marie” (Godard, 1985). Pois é…
O especial. Roberto todo de azulzinho, com o pedestal do microfone ereto, olhinhos fechados (vez em quando espiava a letra das canções no teleprompter rente ao chão) e a emoções sentindo… Tão sem realeza, cantou o maestro soberano. Atualmente a gente ouve e assiste a Roberto com um pé atrás, né?
Momentos solos, cordas sem parcimônias. Clichês sonoros e visuais. E Roberto canta uma, duas, várias. “Eu sei que vou te amar” estava no repertório, claro, né?! Com direito a “Soneto da Fidelidade” (Vinicius de Moraes). As mais “batidas” ficaram para o “rei”.
E numa dessas “batidas”, Roberto Carlos mostrou-se um homem do amor maior: “Insensatez” e, principalmente, “Corcovado”. O versos: ”E eu que era triste, descrente desse mundo”, ao encontrar você eu conheci, o que é felicidade, meu amor” .
Tanta verdade na voz do “rei”… Maravilha sentimental. Roberto tão mortal, humano, régio e distante demais das canções que um dia ele fez. Muitas ainda surtem efeitos, atravessam a alma brasileira. Mas ele perdeu a mão e os sentimentos. O rico passado o ancora.
“A distância” é uma das canções do passado que ainda me tocam, bem como “Desabafo”. Essas e outras estão inscritas na memória de muitos como eu, você, nós dois, vários. A produção musical de Roberto, do final da década de 80 para cá, pouco vento faz. Algo faz boi dormir…
O “rei” cantando o maestro Jobim foi comovente. Gostei de ver e ouvir o intérprete de recursos limitados e, no entanto, incisivos. Quem dera fosse assim nas próprias músicas, na feitura, inclusive.
Eu queria gostar de Roberto Carlos como outrora, mas ele não deixa…
Pergunta: Qual música do Roberto você gosta mais?
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