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SERÁ O BOB DYLAN DO SERTÃO?
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DARIO ZALIS/DIVULGAÇÃO
COM VERSÕES EM PORTUGUÊS E SONORIDADE NORDESTINA, ZÉ RAMALHO PRESTA TRIBUTO A BOB DYLAN: PROJETO BACANA, APESAR DE ALGUNS DESLIZES, PRINCIPALMENTE NO FORMATO DO DVD

Capa mequetrefe, hein?! Peguei, olhei, coloquei de volta na prateleira. Voltei outro dia e na dúvida entre o CD e DVD, comprei o registro audiovisual por se tratar de Zé Ramalho. Imensa admiração por ele eu tenho.

Queria ver e ouvir “Tá tudo mudando”, projeto temático do artista paraibano com obras das mais diversas fases de Bob Dylan. O DVD ainda está quente. Escrevo a quem interessar possa.

Tributo bacana, com exceção da falta de criatividade gráfica. Externamente, Zé segura uma “placa” com o título do empreendimento; por dentro, encarte de simplicidade franciscana, uma folhinha com os créditos a serem lidos com lupas. O conteúdo é satisfatório, ainda bem.

Para muitos, Zé Ramalho é o “Bob Dylan do Sertão”. A sintonia com Robert Zimmerman, nome de batismo do homenageado, vem desde quando ouviu o primeiro disco, na Rádio Tabajara. Isso em meados da década de 60, quando ainda tocava em bailes, em João Pessoa “Fui me afeiçoando à obra dele”, lembra Zé.

Afeição, diga-se, nas quilométricas letras com teor existencialista/ subjetivo/ metafórico e no canto quase falado. Zé Ramalho absorveu Dylan, porém acrescentou elementos regionais como baião, xote, galope, o nordeste, enfim. O tom apocalíptico de suas composições e a voz gutural moldaram o estilo.

Pois bem, “Zé Ramalho canta Bob Dylan – Tá tudo mudando” contém 12 canções, a mesma quantidade do disco, versionadas ao português. Para vertê-las, Zé precisou da autorização de Dylan. Que, por sua vez, pediu para traduzi-las em inglês para entender quais caminhos suas músicas tomariam. Aprovou.

São versões livres, algumas muito próximas do texto original. Zé fez a maioria, mas recorreu a letras de Geraldo Azevedo (“O amanhã é distante” / Tomorrow is a long time”, em parceria com Babal), Maurício Baia (com Gabriel Moura, a irreverente “Ta tudo mudando/Things have changed” e com Ramalho, “Rock feelingood/Tombstone blues”, datada através da citação do filme “Tropa de elite”) e Bráulio Tavares (“Mr. Do Pandeiro/Mister tambourine man”, referência direta e deliciosa a Jackson do Pandeiro).

Bonitas ficaram “Não pense duas vezes, tá tudo bem/ Don´t think twice, it´s all right”) e (em inglês satisfatório) “If not for you”, em que a nordestinidade é mais enfática.

Duas versões em especial me chamaram a atenção. Primeira: “Negro amor” (And it´s all over now baby blue), letrada por Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, ainda fica a dever à gravação original de Gal Costa, em 1977 – sem contar que a letra destoa das demais faixas tamanha poesia…

Reprodução
REGISTRO AUDIOVISUAL PECA PELA FALTA DE CRIATIVIDADE NA CONCEPÇÃO GRÁFICA, MAS O CONTEÚDO É COERENTE COM A TRAJETÓRIA DO ARTISTA PARAIBANO

Segunda: por que Zé não releu a versão de Diana Pequeno a “Blowin´ in the wind” (1978) tão clássica e bela e distante do “O vento vai responder”, quase uma tradução literal de Dylan? A canção, aliás, está na trilha sonora da novela “Caminho das índias”.

Lá vem a Bahiana – O projeto apóia-se também na sonoridade que o Dylan do Sertão deu ao Dylan universal. A sanfona faz o comentário de uma gaita; o cajón e percussão sustentam convenientemente a melodia; violões, slides, cítara e o sotaque de Zé Ramalho fazem a distinção.

O DVD tem suas, digamos, peculiaridades. Na faixa título, Zé chama ao palco Roberto Frejat, apresentado com pompa e circunstâncias – e ninguém bate palmas porque as gravações foram feitas em estúdio, sem público. Outro convidado é Robertinho de Recife, co-idealizador de “Zé Ramalho canta Bob Dylan”. Silêncio.

DARIO ZALIS/DIVULGAÇÃO

DVD FOI REGISTRADO EM ESTÚDIO E CONTA COM PARTICIPAÇÕES DE FREJAT E ROBERTINHO DE RECIFE, ALÉM DE ALGUNS COMENTÁRIOS FUGAZES DA JORNALISTA ANA MARIA BAHIANA

Ah, sim: desinteressantes muitas vezes os comentários – viagem, tá ligado? – da jornalista Ana Maria Bahiana antes de cada apresentação. Poderia estar nos extras, talvez em “Documentário” (na verdade, um making of com depoimentos de Zé e músicose cia.) ou em “Mesa redonda” (entrevistas leves e informativas comandadas por Christina Fuscaldo). Quem não quiser saber do lelero lero, basta clicar no tópico “ Músicas”.

Coube a Nelson Motta melhor situar Zé Ramalho, que aparece no vídeo vestindo o indefectível preto. “Ele sabe revelar, como o Dylan, o lado sombrio das coisas com muita poesia”, diz o jornalista, escritor e crítico.

Pronto! É isso! Zé Ramalho da Paraíba dispensa apresentações. Principalmente as didáticas. Zé é grande o suficiente para fazer o que bem quiser.

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Sugestões para comentários:

1) Você ouviu o disco ou viu o DVD “Zé Ramalho canta Bob Dylan – Tá tudo mudando”? O que achou?

2) Qual ou quais músicas de autoria de Zé Ramalho você gosta mais?

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Mais informações sobre o artista no site www.zeramalho.com.br

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