De uma amiga de redação: “Recebi, acho que está mais pra você”. Algo assim, as palavras ditas perdem a exatidão com os dias corridos. Um CD. Um ponto de interrogação: quem é ela cantando Newton Mendonça (1927-1960)?
Cris Delanno, muito prazer! O álbum, de 2002, girou – ainda gira – tantas vezes até todas as canções prosperarem em mim. Que voz! Roberto Menescal na produção, arranjo,guitarra, violões. Na retaguarda. Maravilha!
“Caminhos Cruzados – Cris Delanno canta Newton Mendonça” é um dos meus discos prediletos. Sempre às mãos quando faltam palavras, tardes amenas, tempo de encantamento maior. “Seu amor, você”. Para sempre essa, aquele, aquilo tudo.
Foi através desse projeto que passei a acompanhar – não assiduamente, confesso, mas com olhar atento – o trabalho dessa norte-americana de nascimento. “Meus pais foram estudar nos EUA e eu e meu irmão nascemos lá. Mas vim para o Brasil com três anos. Sou completamente carioca”, responde Cristiane Silva de Britto. Delanno veio ao próprio gosto.
Mais que verbete do dicionário Houaiss de MPB, Cris tem formação erudita – participou de algumas óperas como integrante do coro infantil do Municipal do Rio-, mas verteu-se em intérprete popular de refinada técnica e apurado gosto musical.
Dois pilares: a Bossa Nova e Roberto Menescal, um dos sinalizadores do movimento a quem considera seu “pai musical”. “Sou totalmente seguidora da Bossa Nova pelo simples fato de que é muito rica melódica e harmonicamente. Meus ouvidos precisam disso pra ficar felizes”, diz. ”Tenho influência de outros estilo, é claro. Não vivi a época em que a Bossa Nova aconteceu, por isso acho natural querer misturá-la com outros elementos”, complementa.
Cris tem timbre vocal bonito. Agridoce! Seguro, sobretudo! Um bom título da correta discografia é “Eu e Cris” (2003), parceria com Menescal. Também consta “Nara – uma senhora opinião”, que recebi de Cláudio Olesko – leitor do blog e homem de impressionante cultura e visão musicais.
O projeto veio do espetáculo homônimo, de 1999, e tem contornos históricos – em “Carcará”, por exemplo, Cris imprimiu releitura que não fica à sombra de Bethânia ou mesmo de Nara, a homenageada. Eis uma intérprete.
Disco novo e outras bossas – Cris Delanno está formatando um novo projeto. Deverá chamar-se “Quintal da nossa casa – o amor e outras estórias”. Autoral. Produção de Alex Moreira, companheiro de música e vida.
Parcerias em conexão: Joyce, George Israel, Black Alien, Hyldon e outros – entre eles, Carlos Lyra e Alex em “Só quero amor”. “Estamos gravando de forma artesanal. Só queremos que a música tenha tempo pra amadurecer”, avisa.
Paralelo a isso, Cris e Alex Moreira estão com o espetáculo “1 Banquinho, 1 laptop…” onde acontece a fusão de clássicos com a tecnologia. Tem Caymmi, João Donato, Menescal e Bôscoli, Freddie Mercury, The Police e mais um tanto de gente boa.
Ah, sim, ela permanece atenta à convocação em discos e shows do BossaCucaNova, que vem promovendo roupagens atuais a memoráveis canções. É a voz feminina, digamos assim, do trio formado por Alex Moreira (teclados), Márcio Menescal (baixo) e o Dj Marcelinho Da Lua.
“Esse encontro me possibilitou uma abertura muito grande experiências. Viajamos o mundo inteiro. A maneira de misturar o tradicional com os sons eletrônicos me acrescenta muito até hoje, abre um leque de possibilidade muito grande”, avalia.
Tem Nico Rezende também , avisa ela, com quem subiu em palcos e registrou presença no DVD “Paraíso invisível” – dele regravou “Perigo”, um dos hits radiofônicos de Zizi Possi na década de 80.
Cris vem percorrendo um caminho bacana, saibam!
Mais informações sobre a artista no www.crisdelanno.com
Falar em Cris Delanno é, de uma maneira geral, associá-la a Roberto Menescal. Como se deu essa parceria, até que ponto ele a influencia na sua trajetória?
O Menesca (tá vendo o que dá dar intimidade pras pessoas?) é o meu pai musical. Foi ele quem me deu a primeira oportunidade de gravar um CD, gravou comigo um CD de voz e guitarra (que responsa). Assim que fiz minha primeira música com o Alex Moreira, um samba, ele fez um arranjo e a gente tocou em um show que fizemos. É o jeito dele. Ele é uma pessoa muito generosa. O meu encontro com o Menesca tem influências musicais (totalmente) e também pessoais. O profissionalismo dele, a cabeça aberta, sem preconceito das coisas e aberto às coisas novas são inspiradores.
Você está com o show “1 banquinho, 1 laptop…”, composto por clássicos da Bossa Nova, jazz e pop americano. A roupagem moderna, a seu ver, minimiza possíveis releituras burocráticas?
Estou totalmente com o show do banquinho. Eu e o Alex (meu parceiro de vida e musical) estamos direto no “banquinho”, fazendo vários shows. É um show bem leve, divertido, tudo a ver com a forma que estou vivendo. Menos dramático, sabe? A roupagem “moderna”, por assim dizer, é apenas o uso de elementos da tecnologia que não existiam tempos atrás. São ferramentas novas que utilizamos para mostrar nossa arte, sempre respeitando a riqueza com a qual a música foi composta.
Você está preparando um disco novo. Autoral, é isso? Fale um pouco sobre esse trabalho? Quando sai?
Esse é o nosso xodó. Estamos investindo nosso tempo na criação das músicas fazendo encontros aqui em casa. A gente aproveita que o Alex é um excelente chef de cozinha e acaba pegando os parceiros pela boca. Já rolou com o Black Alien, um ótimo poeta com quem a gente fez uma valsa; o George Israel, com quem a gente está fazendo uma salsa, etc. A música ganha muito com a cumplicidade, por isso estamos fazendo encontros da forma antiga. Não rola a mesma vibração pela internet. Só em situações muito especiais como uma música que fiz com a Joyce. Mandei por e-mail uma bossa-bolero com a idéia da letra, um tema e ela devolveu uma letra linda!!!
Eu e o Alex temos feito algumas só entre nós. Letra e música. Isso já rendeu até canção pra filme. Estivemos com um diretor de cinema americano que vai fazer um filme que se passa no Rio e em New York. Ele contou a história e, no dia seguinte, a gente ligou pra ele com a música que é história do filme: “Saudade”. Dá pra perceber que estou bem feliz com isso tudo. Comecei a compor tem um pouco mais de um ano e tanta coisa boa está acontecendo que vou continuar indo nessa. Estamos gravando de forma artesanal. Sem previsão pra acabar, muito menos lançar. Só queremos que a música tenha seu tempo pra amadurecer.
Há algum conceito sonoro ou literário a rondar esse projeto?
O nome do CD será “Quintal da nossa casa – o amor e outras estórias”, porque é bem o que estamos vivendo, a forma como estamos fazendo as músicas. Às vezes estamos em casa e pinta uma idéia e começamos a desenvolver. Daí, vêm as músicas e os parceiros. A gente encontra as pessoas e pensa: “aquela música que a gente tá fazendo tem tudo a ver com fulano”. A gente chama pra compor e vai fazendo som. Com relação ao conceito sonoro, a gente está descobrindo. O produtor é o Alex. Para dois sambas que fizemos e um choro temos o Cristóvão Bastos fazendo os arranjos. Vamos para o estúdio com músicos de primeira e gravar o arranjo do maestro. Estamos achando a sonoridade do CD. Acho que quando gravarmos as cinco primeiras músicas vamos poder definir melhor.
Somos o país das cantoras. Por que você canta, Cris? Qual sua proposta e o que a diferencia das demais intérpretes?
Eu canto pelo simples fato de adorar cantar. Quando não estou em silêncio ou estou cantando ou assobiando. Não comecei a cantar porque achava que tinha uma proposta definida. A primeira vez que cantei num barzinho, com uma banda formada por amigos, pensei: “É isso que eu quero fazer pra sempre!” Procuro misturar a técnica com o estilo que a música pede e o que o meu coração manda. Às vezes dá certo.
Seus discos são sofisticados, adoro. Quais alcances tiveram até agora? Seu público ainda está em formação?
Espero que sim! Não sei bem o alcance que tiveram. Às vezes nos lugares mais improváveis vem alguém e diz que tem um CD meu, que curte. Fico muito feliz de ter gente que gosta do que faço com tanto prazer. É um privilégio.
Eu não gosto de determinados gêneros musicais, as tais canções populares desvairadas, assumo. Sempre que pergunto a artistas o quê ou quem não lhes interessam ou pouco acrescentam à música brasileira, algumas respostas são burocráticas, evasivas. E você, Cris, o quê ou quem não lhe diz respeito?
É claro que se você pegar os estilos mais distantes do que eu faço eu vou me identificar menos, mas o que eu realmente não gosto é de música malfeita. Aquela canção meio grudenta, brega, por exemplo, tem o seu lugar, arrebata e, confesso, é muito bom de cantar. Já tive essa oportunidade. É quase uma catarse. Música que só tem um batidão e não tem melodia eu perco o interesse muito rápido. Não gosto muito de escutar.
A pergunta é simples: a música traz que tipo de benefício a você?
Interessante você me perguntar isso nesse momento porque sinto que a música sempre me deu muito prazer de fazer e agora com a composição parece que multiplicou esse prazer. É uma novidade que estou adorando e poder fazer música em casa é muito bom! É uma experiência única e estou muito, muito amarradona em fazer!
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