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UM SHOW DE SOLIDARIEDADE A SANTA CATARINA
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RENATO FORIN JR/ARQUIVO PESSOAL
GERALDO AZEVEDO, DURANTE SHOW OCORRIDO SÁBADO EM LONDRINA: MÚSICAS CONSAGRADAS E RECENTES APRESENTADAS A UM PÚBLICO ACOLHEDOR, QUE ENVIOU MEIA TONELADA DE ALIMENTOS ÀS VÍTIMAS CATARINENSES

Bacana ouvir a platéia fazendo coro em tantas canções! Eu me emocionei especialmente em duas: “Veja (Margarida)”, tão coberta de saudade de um tempo feliz, dedos no meu violão para tocar e cantar para a moça que amava a canção e eu a ambas (o desejo ainda estava à procura do onde); e “Bicho de sete cabeças I e II”, desabafo cortante, a triste constatação de entrega dos sentimentos a mãos erradas (“não tem coração que esqueça, cresça e desapareça”).

Outros tempos, novos tempos! Metáforas atravessadas em mim no show de Geraldo Azevedo, sábado (dia 29), no (praticamente lotado) Teatro Ouro Verde de Londrina. Quase duas horas diluídas em clássicos e obras recentes, na empatia estabelecida com o público que deu um show à parte.

Além de cantar, aplaudir, manifestar-se espontaneamente (“você está em casa”), as pessoas deram um show a parte: levaram mais de meia tonelada de alimentos não perecíveis a ser enviada aos desabrigados de Santa Catarina.

Música de qualidade, sensibilidade a toda prova, solidariedade num só espaço. Bonito quando o Brasil acode a si mesmo; deveria ser sempre assim, independente de catástrofes. Louvável mesmo assim ver a manifestação – em meia a tantas – de ajuda aos nossos vizinhos. A arte do auxílio! Somos assim…

No palco, Geraldo Azevedo – vindo pelo projeto cultural ConstruSom, da construtora Vectra – foi dando seu recado com canções conhecidas e ainda por se ser melhores apreendidas. Outras ainda arquivadas num canto da afeição.

RENATO FORIN JR/ARQUIVO PESSOAL
COM MAIS DE QUARENTA ANOS DE TRAJETÓRIA, O PERNAMBUCANO GERALDO AZEVEDO DEMONSTROU A INCRÍVEL HABILIDADE INSTRUMENTAL E APURADO SENSO ESTÉTICO EM SHOW DE VOZ E VIOLÃO

Entre “Dia branco” (com Renato Rocha), “Dona da minha cabeça” (com Fausto Nilo), Moça bonita (parceria com Capinam), “Caravana e “Talismã” (ambas com Alceu Valença), preciosidades melódicas e literárias como “Chorinho de criança” e” O que me faz cantar” (extraídas do mais recente disco, “O Brasil existe em mim”, 2007) e a bela “Inclinações musicais” (parceria com Renato Rocha, “Quem inventou o amor/ teve certamente inclinações musicais”).

Falou e cantou suas águas. Mais precisamente as do São Francisco, rio tão levianamente mexido e remexido, que deu mote ao novo álbum a ser lançado no início do próximo ano. Participações importantes e distintas: de Maria Bethânia a Fernanda Takai, de Djavan a Ivete Sangalo, alguns. O repertório deverá abrigar “O ciúme” (Caetano Veloso).

O artista pernambucano enfatizou o descaso com os recursos hídricos do planeta. “Se houve uma terceira guerra será por causa da água”, disse. “Todos deveriam plantar flores e acender velas às margens dos rios, que é onde se busca a vida”, complementou.

Nem todos os recitais de voz e violão se garantem, é certo. Não foi o caso de Geraldo Azevedo, instrumentista admirável e apurado melodista. Mais de quatro décadas na estrada. No palco, não utilizou-se de personas ou artifícios; mostrou-se por inteiro. Há verdades no que emite.

A tradicional conversa com a platéia teve também momentos de descontração, quando mostrou, durante execução de uma música, os dedos a um produtor. O que ele pedia? Uma lixa para aparar a unha lascada. “Uma unha pra gente que toca é muito importante”, disse. Gargalhadas. “Eu não me lembro de ter vindo a Londrina”. Alguém da platéia diz que veio, sim. “Véio, me ajuda a lembrar então”, devolveu.

Geraldo deu seu bom recado musical. O público aplaudiu e muito. O público, aliás, merece palmas também. Pelo acolhimento ao artista e generosidade à população catarinense. Bravos!

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