O tempo passa, o tempo voa, já dizia o jingle de um antigo banco do Paraná. E lá se vão 22 anos desde que “Sonho Meu” estreou no horário das seis da Globo. E a novela é especial por ter sido ambientada em nossas praças, parques e estações-tubo.
Enquanto Santa Catarina e Rio Grande do Sul receberam outras produções ao longo dos anos, Curitiba teve apenas “Sonho Meu” ambientada por aqui – estamos, neste caso, desconsiderando tramas que tiveram breve cenas gravadas por aqui, como foi o caso de “O Astro”, que teve externas no Presídio do Ahu.
“Sonho Meu” foi protagonizada por Patricia França e Leonardo Vieira (que tinham saído do sucesso da primeira fase de “Renascer”) e era inspirada em “A Pequena Órfã”, de Teixeira Filho e trazia a pequena Carolina Pavanelli, que encantou o público como a órfã da história. Os galãs Fábio Assunção e Leonardo Vieira, além da protagonista Patrícia França, eram alguns dos artistas que batiam cartão em Curitiba para a gravação de cenas externas da trama, que contava com coprodução da RPC (então TV Paranaense). Só para entrar no clima do post, a abertura tinha o tema cantado por Xuxa e José Augusto, lembra?
Vasculhando algumas matérias antigas – assinadas pelas jornalistas Elza Oliveira Filha, na época correspondente do jornal O Globo na capital – e de Martha Feldens, do Correio Braziliense, descobri que a ideia de usar Curitiba como cenário foi do diretor Reynaldo Boury, após passar férias na capital, em abril de 1993. “Curitiba parece uma cidade de primeiro mundo, é muito bonita e organizada”, declarou à reportagem.
Locações
Na fase inicial da novela, a equipe comandada por Reynaldo Boury gravou muito na Ópera de Arame, o Parque Barigui, o Jardim Botânico, a Rua das Flores, a Universidade Livre do Meio Ambiente e os calçadões do centro.
Um curtume desativado no Alto da Rua XV serviu de cenário para o incêndio do Lar de Cecília e entre os figurantes estavam 30 crianças, filhas de funcionários da TV Paranaense e uma equipe de 15 soldados do Corpo de Bombeiros. A presença dos atores Patrícia França e Leonardo Vieira – além das labaredas – atraiu um grande público ao local.
“O mais difícil, entretanto, foi a gravação na ópera de Arame. Eram duas mil pessoas, principalmente mulheres, querendo ver de perto seus ídolos e eu tive medo de não controlar. Mas as pessoas foram supereducadas “, contou Roberto Naar, citando que Leonardo Vieira e Fábio Assunção levaram as tietes ao delírio quando apareceram.
A boa vontade, o espírito de colaboração e a educação dos figurantes curitibanos foram elogiadas pelos diretores em matéria publicada no jornal O Globo e assinada pela jornalista Elza de Oliveira Filha em 12 de setembro de 1993:
“A gente grava na rua, faz cenas em pontos de ônibus e outros locais públicos sem qualquer policiamento e sem enfrentar problemas , contou Roberto Naaar, um dos diretores da novela.
Paixão por Curitiba
Ao Sintonizando, Reynaldo Boury, diretor geral de “Sonho Meu” e que hoje comanda o núcleo de teledramaturgia do SBT, revela que se surpreendeu com a colaboração e receptividade que recebeu dos curitibanos. “Gravavamos sempre às segundas e terças, de 15 em 15 dias, e tivemos muitas cenas noturnas ali na Rua XV, perto do bondinho. Os curitibanos se reuniam para ver os artistas, mas era só eu dizer ‘Silêncio!’ que não se ouvia uma mosca”, relembra, contando que é um apaixonado pela capital e confidenciando que deseja realizar outro trabalho por aqui.
O diretor também contou que, logo nos primeiros capítulos, havia uma cena gravada em que o personagem de Fábio Assunção recebia um prêmio e a atriz Debora Duarte participava dessa gravação. “O povo lotou a Ópera de Arame, a Débora Duarte desceria pelo corredor para ir até o palco e eu disse: olha, ela vai descer por ali, mas vocês estão vendo um espetáculo, então, não olhem para ela, não comentem, é uma senhora descendo normalmente. Foi uma maravilha, um comportamento exemplar”, destacou Boury. Além das externas aqui, uma cidade cenográfica no Projac reproduzia uma vila polonesa.
E, se na época não existia o Terrazza 40, restaurante panorâmico que hoje faz sucesso, a solução foi improvisar: e a então Torre de Telepar (nos Mercês e hoje Torre da Oi) serviu de cenário para um almoço envolvendo os personagens de Patrícia França e Fábio Assunção com Curitiba ao fundo.
A novela estreou em setembro de 1993, substituindo o grande sucesso de “Mulheres de Areia” e com um elenco de responsabilidade. Beatriz Segall, por exemplo, lembrava muito Odete Roitman, seu papel de sucesso em “Vale tudo” (1988).
Sucesso no horário das seis, “Sonho Meu” teve a última cena gravada na Ópera de Arame com um show de Xuxa e José Augusto, que reuniu mais 2 mil pessoas e 10 mil do lado de fora. O “Vídeo Show” mostrou os bastidores:
Mesmo tendo sido um sucesso de audiência, “Sonho Meu” nunca ganhou uma reprise na Globo. Boury acredita que um dos motivos é pela qualidade da novela – gravada em tempos pré-HD. Outro motivo também, na opinião deste blogueiro, é o fato de Patrícia França e Leonardo Vieira terem ficado anos na Record.
Independente dos motivos, a torcida do Sintonizando é dupla: que a Globo redescubra a novela no Vale a Pena Ver de Novo ou no Canal Viva. Também torcemos para que a Globo traga outra produção para ser ambientada em terras curitibanas. Porque a gente também merece, né? 😉
____________________________
Bônus: Em julho deste ano, a atriz Patrícia França se reencontrou com Carolina Pavanelli e relembrou a novela. Veja aqui.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad