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Sim, os jogos estão ficando cada dia mais fáceis. Os produtores fizeram uma troca clara nas atuais gerações: menos desafio e mais imersão. Com isso, reduz-se o sentimento de frustração e uma possível quebra na experiência. Alguns lançamentos exigem tão pouca habilidade que podem ser finalizados em poucas horas, sem nenhuma morte, apenas seguindo o roteiro pré-estabelecido. São os jogos “roteirizados”, que descambam para uma “hollywoodzação” como as campanhas solo da série Call of Duty. Muitos gostam. Mas nem todos. Tem quem ainda lembre com carinho como era perder a pele dos dedos tentando passar de fase no Megaman II.

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Dark Souls, lançado recentemente para Xbox 360 e Playstation 3, quer preencher este vazio. Sem ser menos envolvente, no entanto. Alia níveis de dificuldade extrema com uma fascinante exploração de ambiente costurada com uma história apenas sugerida, seguindo a linha de seu antecessor Demons´s Souls, lançado em 2010.

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Num universo fantástico dominado por monstros, os protagonistas são mortos-vivos em busca de sua humanidade há muito tempo perdida. Fugidos do Asilo dos Mor­tos, eles precisam percorrer um longo caminho para encontrar o se­­gredo que quebra a maldição que os atinge. Não muito mais é revelado, e as poucas informações do enredo precisam ser arrancadas de outros personagens no vasto mapa a ser explorado. Não há li­­nea­ridade na narrativa. Logo no co­­­­meço o jogador, ao escolher um caminho qualquer, pode ser deparar com inimigos muito fortes que podem liquidá-lo com um ataque. O melhor é recuar e tentar outro tra­­jeto. Até os mais fracos dos inimigos precisam de muito esforço para serem tombados. A tática é aque­­la presente em quase todos os RPGs, ir enfrentando os menos fortes, melhorar de nível e desenvolver o personagem para os monstros es­­tupidamente letais nas fases finais.

Os comandos são tão simples que podem induzir ao erro. Trata-se, afinal, de um jogo complexo. A simplicidade nos comandos (golpe forte, golpe fraco e esquiva) ajuda o jogador a focar na ação, tornando praticamente invisível o uso do joy­­stick. Também é preciso tentar entender como funciona a mecânica de acúmulo de itens na tentativa e erro. O jogo não congela para se gerenciar o inventário, um perigo. Além disso, não há descrição dos itens. Uma faca velha é apenas uma faca velha. Sem le­­gendas de ajuda, o jogador terá que exercitar seu poder empírico testando os objetos encontrados para saber quais realmente valem ser carregados.

A FromSoftware parece não querer abrir concessão aos mais casuais. Até o tutorial de ajuda tem parcas informações. Basicamente ensina a se movimentar pelo mapa. O resto será fruto do suor do jogador e de muita leitura, no manual e nos fóruns pela internet.

Em Dark Souls a exceção é sair vivo. O jogo cria situações em que se torna quase impossível não morrer. Como enfrentar um gigantesco monstro usando apenas uma espada torta? Somente se entregando à morte. E por diversas vezes até conseguir achar uma fragilidade na fera. Para piorar, quando se morre perde-se toda a experiência acumulada, que fica presa ao corpo. Para recuperá-las, o jogador precisa encontrar o local onde foi abatido. Ou seja, enfrentar tudo de novo, com menos força e armas. O que faz jus àquela máxima: quando maior o risco maior a recompensa.