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O mundo do entretenimento mudou e poucos notaram. A indústria fo­­nográfica se desfez nos últimos anos. O cinema luta contra o compartilhamento maciço em redes peer-to-peer. Entre os livros, há a incerteza se as livrarias digitais não serão a abertura das portas para a pirataria. O pensamento analógico está completamente assustado com a garotada digital. Mas uma indústria nascida entre bites e bytes nada de braçada em meio a tantas incertezas. Os jogos eletrônicos nunca venderam tanto e foram tão populares, principalmente com a massificação dos sensores de movimento. São hoje o produto cultural que mais dá retorno. É recorde atrás de re­­corde. Como mostra o mais novo game da série Call of Duty, que rendeu inimagináveis 360 milhões de dólares apenas no primeiro dia de lançamento e se tornou a maior arrecadação da história. Bateu o recorde anterior que pertencia justamente a um titulo franquia, Mo­­dern Warfare 2. As 5,6 milhões de unidades vendidas geraram um faturamento que coloca no bolso os maiores sucessos da música, cinema ou literatura. Harry Potter é fichinha perto de COD: Black Ops.

E a crítica posta nesta coluna reiteradas vezes se faz mais uma vez necessária. Os veículos culturais simplesmente esnobam categoricamente a relevância pop dos games. No acompanhamento da imprensa diária, as análises referentes aos videogames normalmente ficam encravados nos cadernos de informática/tecnologia – um certo tipo de segregação que diz muito. Para os jornalistas, parece haver consenso que games são um produto estritamente técnico e que não devem ter narrativas artísticas interessantes. É só mais um “gadget”. Os cadernos de cultura poucas vezes lembram que existe uma plataforma que conta histórias interativas. Os jornais (de qualquer tipo, impresso, online…) estão presos a velhas formas, naquela cultura analógica. A cada dia o medo ou desconhecimento sobre o novo fica mais evidente. Quantos críticos de videogames o caro leitor conhece? Pro­­vavelmente se a mesma pergunta fosse feita sobre críticos de cinema pelo menos uns dois ou três nomes pipocariam na mente. É mais fácil vender a falsa ideia de que Woody Allen ainda é relevante do que tentar compreender toda uma cultura nova.

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Ninguém pode afirmar precisamente os motivos do sucesso da plataforma. Entre os fatores, provavelmente está o crescimento de uma geração acostumada a receber muitas informações de diversas fontes. Games são um ambiente completamente fragmentado, é preciso ler, escutar, interagir e acompanhar a montanha de informações que aparecem na tela nas mais diversas formas. Também há a boa sacada dos produtores casarem a história principal com diversos complementos on-line, o que afasta de vez a pirataria e garante a lucratividade do negócio.

Call of Duty: Black Ops, lançado neste mês para todos os principais videogames, é a síntese perfeita. Um jogo de tiro ambientado nos anos 60 (Guerra Fria, Vietnã, espionagem) que alia narrativa inteligente, jogabilidade extremamente calibrada e um excelente modo multiplayer. Diminui um pouco o tom da polêmica. No lugar de matar inocentes em um aeroporto, como no ano passado, o jogador se deparará com a possibilidade de acabar com a vida de Fidel Castro e mudar a história de Cuba. Com muito menos decibéis, as críticas contra a fase foram encabeçadas principalmente por órgãos ligados ao revolucionário cubano. “O que os EUA não conseguiram em 50 anos, agora tentam através de um jogo”, dizia uma mensagem publicada no site Cuba Debate.

As missões se passem em flashbacks do protagonista Alex Mason enquanto está sendo torturado. Apesar de ser um bom recurso para misturar os diferentes anos em que se passa cada fase, mantém uma estrutura bastante linear, o que agradará quem está mais preocupado apenas em matar inimigos. A temática é diferente de Modern Warfare, ambientado em guerras modernas, mas o produto final é muito parecido e com um acabamento melhor. Não é menos do que os fãs da série esperam e pode superar as mais de 20 milhões de cópias vendidas do jogo anterior. De bônus, os jogadores poderão se divertir com o modo “zumbi”, quando figurões históricos, como John Kennedy, Fidel Castro e Nixon, são encurralados em um shopping cercado por mortos-vivos.

– Alguém aí ainda usa o Twitter?