Um jogo simples e bem acabado. Barato para os padrões da indústria (pode ser adquirido por menos de R$ 10). O melhor de Freekscape: Escape From Hell, entretanto, é a origem: Brasil. Irrelevante no mercado de varejo – muitas empresas do setor nem sequer tem distribuição oficial por aqui, pequenos desenvolvedores começam a tirar da gaveta bons projetos que, aos poucos, podem colocar os brasileiros no mapa da indústria dos videogames. “A principal barreira é o dinheiro. O mercado internacional não tem confiança para investir em produtoras brasileiras. Não temos tradição e a pirataria também prejudica”, explica Daniel Garcia, sócio-diretor da Kidguru, produtora de Freekscape e que tem base em São Paulo.
Com todos estes obstáculos, os produtores locais começam achar uma clareira nas lojas virtuais. Sem a necessidade de verbas milionárias, os jogos que podem ser comprados via internet nas lojas da Sony, Nintendo e Microsoft costumam ser mais simples, mas não menos divertidos ou interessantes, como os casos de FlOwer, ganhador de diversos prêmios de inovação, e Braid. Vale mais uma boa ideia do que um grande orçamento.
Neste cenário ainda incipiente, a Kidguru começou a desenvolver Freekscape para ser disponibilizado na PSN para o Playstation 3 e Live do Xbox 360. Depois de conversar com uma grande distribuidora internacional, a equipe optou por portar o game para o formato PSP Mini, vendidos exclusivamente para o sistema portátil. Com isso, o projeto voltou para a prancheta. “O primeiro conceito era muito maior. Foi criado para as plataformas tradicionais. A produtora adorou o jogo e sugeriu para ser feito em PSP. A gente nem sabia como seria o resultado”, diz Garcia. Deu certo.
Construído em uma mecânica tridimensional, mas com o clássico deslocamento de plataforma (direita-esquerda), o jogo brasileiro, dublado e legendado em inglês, conta a história do pequeno demônio Freek que, durante a ausência do chefão do inferno, decide mudar de ares e partir para uma melhor, neste caso qualquer coisa que não seja um lugar quente habitado por uma diversidade de criaturas monstruosas. Para ajudar na tarefa, ele usará um tridente sagrado que permite roubar o poder dos inimigos.
O objetivo é claro: avançar de fase derrubando demônios e resolvendo pequenos quebra-cabeças, no melhor estilo Super Mario World. Tudo funciona: os comandos respondem com perfeição; os gráficos são bem polidos apesar das limitações técnicas (o jogo completo não pode passar de 100 megabytes); a direção de arte, baseada em desenhos animados modernos, é caprichada; e há uma boa variedade de elementos na tela. A crítica especializada recebeu bem o trabalho brasileiro: “A gente está numa média de 8,7 pontos nas notas”, comemora Garcia. “A resposta do público também é superpositiva”.
Tradição e pirataria são dois fatores que não dependem apenas de programadores para que o Brasil ganhe mais destaque no mercado. Porém, com novas ferramentas, muito mais baratas, os desenvolvedores locais agora podem mostrar ao mundo suas ideias. E Freekscape é um ótimo começo. “Independentemente da plataforma, a distribuição digital já é um ótimo caminho para os desenvolvedores. Não temos um mercado capaz de desenvolver um God of War. Temos que começar com jogos pequenos mesmos”, finaliza o produtor brasileiro.