O Green Day recuperou a graça do som sujo, rápido e direto no começo dos anos 90, quando a meninada se dividia entre boy bands e cabeludos performáticos. Não era a melhor banda do mundo, mas conseguiu uma boa fatia de atenção impulsionada por bons clipes que se repetiam à exaustão na MTV. Reposicionaram-se nos anos 2000 com um visual “emo”. Com músicas mais leves e pegajosas conseguiram, pela segunda vez, entrar no mundo adolescente. O grupo agora tenta um terceiro passo já seguido por colegas – Aerosmith, Metallica, Van Halen e Beatles – levando seu repertório para os videogames com Green Day: Rock Band, disponível para Wii, Xbox 360 e PS3.
Existem produtos que são fruto de um casamento perfeito e, outros, apostas mais arriscadas. No primeiro encontram-se a versão anterior do jogo musical da Harmonix, braço da MTV americana, em que trazia uma espécie de “docgame” (nem perca tempo procurando no Google. Este termo acaba de ser inventado por este colunista) que contava a história, de forma interativa, da maior da banda de Liverpool. Além de se divertir ao reproduzir, de forma estilizada, obviamente, as canções dos Beatles, o jogo trazia um modo em que o jogador poderia acompanhar quase todo o trajeto do grupo. Um produto com um acabamento invejável, que vinha com um kit completo de instrumentos musicais de plástico reproduzindo os originais. A qualidade da banda é inquestionável e os jogos musicais ainda estavam em seu topo. Daí o risco do atual lançamento.
A primeira constatação é que Green Day não é Beatles. E toda aquela comoção, expectativa e “hype” não foram reproduzidos com o novo game. O segundo obstáculo talvez seja um pouco maior: o mercado está saturado. Desde 2005, com a lançamento de Guitar Hero para o Playstation 2, quase todo mundo tentou tirar um naco do novo estilo. Várias franquias foram criadas, houve uma promessa de renascimento da indústria fonográfica e vendeu-se uma quantidade enorme de guitarras de plástico, chegando ao ponto de muitos acessórios serem vendidos em pacotes exclusivos com os jogos, obrigando o consumidor a ter mais de um instrumento de brinquedo. O refluxo não tardou e estes joysticks começaram a ficar mais tempo nas prateleiras. Enfim, a fórmula dos jogos e o excesso de lançamentos em um curto espaço de tempo podem estar provocando um início de crise num setor que, a princípio, parecia promissor.
Mas, é bom lembrar novamente, Green Day não é Beatles. Assim como fazem um rock sincero e sem firulas (ou pelo menos faziam nos anos 90), os músicos só querem conquistar os jovens em mais um flanco. Sem histeria ou pompa. Sem milhões de investimentos em marketing. A versão de Rock Band do grupo americano é sincera neste sentido. Traz quase todos os hits (“Basket Case”, “She”, “When I Come Around” e “Wake Me Up When September Ends”) de uma carreira marcada por oito álbuns, alguns extremamente inspirados, como Dookie (1994), outros nem tanto (21st Century Breakdown, 2009). Como era de esperar, os avatares são fidedignos aos músicos. Mesmo de soslaio, é fácil reconhecer o vocalista e guitarrista Billy Joe Armstrong, o baixista Mike Dirnt e o baterista Tré Cool, inclusive em seus trejeitos.
Também não há a pretensão de que o game sirva como uma espécie de documentário da banda, recriando o ambiente dos shows de forma cronológica, apesar dos principais estarem lá. Apenas as turnês de Dookie, American Idiot (2004) e 21st Century Breakdown estão presentes. A fase independente ficou de fora.