Se depender do curitibano Alex Kipman, o mundo inteiro estará rebolando em frente aos televisores nos próximos meses. Diretor de incubação do Xbox 360, ele está a frente do principal lançamento do mundo dos videogames deste ano, o Kinect, um acessório acoplado ao console que usa sensores de imagem e de som para abolir o uso de controle das mãos dos jogadores. O produto chegará oficialmente no Brasil no dia 18.
Filho de diplomata, Kipman viveu apenas os primeiros quatro anos na capital paranaense, mas não a abandonou completamente. “Eu tenho minha família inteira aí e vou direto. Visitei a cidade em maio e vou quase todo o natal”. Com 31 anos, morou em diversas cidades pelo mundo, mas se encontrou em 2001, quando começou a trabalhar como programador na Microsoft. Há quatro anos, assumiu a direção de novos projetos do setor de games da empresa, quando, durante uma visita a Curitiba, teve uma ideia revolucionária: acabar com os botões dos videogames. “Melhor jeito de ver o futuro é inventá-lo”, costuma dizer. De passagem por São Paulo para o lançamento do produto no Brasil, Kipman concedeu, por telefone, uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.
Quando você decidiu que queria trabalhar com games?
Comecei a jogar videogame quando tinha cinco anos. Me apaixonei por este estilo de arte e aprendi a programar. Desde então fiquei mais imerso neste ramo.
Como surgiu a ideia do Kinect?
Eu estava em uma chácara bem linda em Curitiba. Num lugar onde não havia nenhum tipo de tecnologia. Pensei em como seria se a tecnologia fosse usada só para nos ajudar. Se olhar para o mundo de hoje, a tecnologia nos escraviza e cada vez vai ficando mais complicada, com mais botões e instruções. Eu queria fazer o oposto. Fazer a tecnologia desaparecer.
Como?
Os botões e teclados eram uma barreira, que deixavam algumas pessoas intimidadas. O que queria era apagar os controles e botões e fazer com que a tecnologia desaparecesse para utilizar o melhor controle do mundo, nós. Queria mudar o mundo onde temos que aprender tecnologia para um em que a tecnologia nos entenda. No nosso mundo (Kinect), você só entra em frente ao sensor e ele te reconhece. Sabe a diferença entre você, seus amigos e familiares. E também reconhece voz. Além de ver você pode falar que o sistema o escutará. A ficção científica virou um fato científico pela primeira vez com o Kinect. Quando as pessoas entram na frente dizem ‘Uau! Essa coisa realmente funciona’.
O Kinect é uma evolução dos sensores de movimento do Wii?
É completamente diferente. Não existia nenhum jogo até agora em que você pudesse usar o corpo inteiro. Nenhum que pudesse usar voz e conversar com o sistema naturalmente. Nenhum jogo que te conheça, em que você entre na frente do videogame e te diga quem você é. Que te coloque dentro do jogo sem ter que apertar botar ou calibrar nada. Esta combinação cria experiências mais emocionantes no jogador. Uma relação mais emocional com estas criaturas imaginárias. Com o Kinect, estamos criando cores novas que nunca existiram antes.
Quem vai jogar o Kinect?
Todo mundo. Nós já tínhamos e vamos continuar tendo o melhor console para o pessoal hardcore (como são chamados os jogadores mais experientes). Agora estamos tentando mostrar que conseguimos fazer outras coisas com um portfólio diversificado. No lançamento do Kinect, preparamos lançamentos mais casuais para mostrar a elasticidade do nosso leque de jogos.
Mas o Kinect só terá jogos mais simples?
Já anunciamos cinco jogos que são hardcore.
Antes do lançamento, um dos maiores temores era de que o acessório apresentasse um baixo tempo de resposta entre os movimentos dos usuários e os jogos, como ficou evidente em algumas apresentações públicas para a imprensa.
Isso não existe. Quem fala isso geralmente é porque não jogou ainda. Se tivesse qualquer tipo de lag você não poderia jogar jogos de corrida, por exemplo. É tudo em tempo real.
O Kinect transcenderá os games e chegará a outros aparelhos, como computadores?
Esse mundo de liberdade da tecnologia começa em novembro com o Xbox 360, mas é uma coisa muito maior. Mas não posso dizer mais nada.
Como um curitibano pode chegar ao topo da indústria de games?
Não é fácil. É preciso acreditar e trabalhar duro. Meu trabalho é 1% inspiração, 1% sorte e 98% transpiração. Quem trabalha duro ganha na vida.