O Move, novo conjunto de acessórios para o Playstation 3, é uma cópia do Wiimote, controles com sensor de movimentos do Wii. “Não chega nem perto do Kinect”, defendem alguns. Outros críticos afirmam ser uma busca desesperada da Sony em tentar elevar as vendas de seu console para um público maior, mais casual. É caro, se montando o kit completo, com dois controles mais a webcam. Há poucos jogos disponíveis mesmo dois meses após o lançamento. Vendeu menos que o sistema da principal concorrente, a Microsoft. Todas as frases anteriores estão corretas. O Move é tudo isso, uma cópia, uma estratégia para aumentar o público, caro – no Brasil custa R$ 799 – e tem uma line-up patética. Mas este primeiro parágrafo inteiro também contém muitos erros.
Comecemos por uma análise mais atenta sobre a comparação direta com Wiimote. É uma cópia sim. Contudo, tem uma precisão muito maior (chega a ser ridícula a comparação). Claro que, com o tempo entre o lançamento dos dois controles, a Sony não poderia lançar um produto do mesmo nível. Com o jogo que vem no pacote oficial, Sports Champions, a diferença se torna muito clara. Não dá para usar os velhos macetes do Wii, como ficar sentado só fazendo movimentos curtos com o punho. Por ter uma precisão muito maior, jogar pingue-pongue, por exemplo, exige que o jogador fique de pé e tenha um bom espaço ao seu redor. A raquete acompanha a mão do jogador e os movimentos têm que ser muito parecidos com o de uma partida real – não se preocupe que ainda não é preciso saber jogar pingue-pongue de verdade. O principal diferencial é um sensor específico para eixo Z, inexistente no controle original do Wii, que calcula com certa fidelidade a movimentação de profundidade.
Já a comparação com o Kinect é um pouco injusta, pois são dois produtos diferentes. O Move é muito mais mecânico e não abandona completamente os controles, apesar de ter jogos interessantes baseados 100% no Playstation Eye (câmera). No Kinect, o sistema mapeia o corpo dos jogadores para que tenham uma experiência sem contato fisico com o videogame. O produto da Sony não chega nem perto do concorrente neste quesito, o que parece ter sido mais uma questão estratégica do que falta de competência. Provavelmente a aposta foi baseada no sucesso do Wiimote.
O Playstation 3, até então, era considerado como o reduto do “hardcore gamer”, aquele cara que se vangloria em passar muitas horas tentado solucionar os mais difíceis quebra-cabeças do mundo dos games. Na maioria, um pessoal quase fundamentalista e que não gosta da proliferação de jogos casuais. Os principais títulos exclusivos caminhavam justamente para agradar este público. Resistance, Uncharted, Killzone 3 estão aí para provar a tese. Eis que chegou o Move e causou um abalo sísmico no meio. “O PS3 entregou os pontos”, devem ter pensado os mais radicais. De certa maneira, eles tinham razão. Desde a chegada do acessório, as produtoras passaram a anunciar uma enxurrada de títulos focados em experiências mais leves e que envolvam a família inteira.
Tecnicamente, o Move é um produto muito bem acabado, com precisão ímpar. Os jogos iniciais que acompanharam é que não estavam no mesmo nível. Sports Champions fica aquém de Wii Sports, por exemplo. Nenhum jogo conseguiu tirar elogios da crítica. Este é considerado por este colunista o maior erro da Sony.
O acaso, no entanto, deu uma ajudinha. Aos poucos, começou-se a notar que o novo controle é perfeito para os jogos de tiro em primeira pessoa. Foi então que os hardcore games começaram a olhar de forma diferente e notaram uma janela de oportunidades: melhor performance em disputas on-line, movimentação mais fluida e mira precisa. Sem falar em acessórios de terceiros que transformam o controle em uma réplica de metralhadora. O tiro da Sony meio que saiu pela culatra. Os jogadores gostaram. Os produtores, sempre de olho na demanda, começaram a anunciar, para breve, uma série de atualizações para que os jogos já lançados ganhassem compatibilidade com o apetrecho. Com isso, o PS3 terá, provavelmente, o melhor ano da sua história. A Sony, no fim das contas, acertou errando.