A Banda Mais Bonita da Cidade e o show no Guairão

Pouco mais de 21h de um sábado chuvoso e a bela voz anuncia A Banda Mais Bonita da Cidade. O pública vibra. A cortina vermelha vai abrindo devagar sob aplausos e gritos entusiasmados da audiência que lotava plateia, primeiro e segundo balcões. O quinteto de músicos perfilado foi sendo mostrado e o agito dos fãs aumentando. Naquele momento, não eram apenas cinco pessoas sobre o palco do Guairão. Era a música do Paraná sendo consagrada. Era a primeira oração de um banda que merece transportar para a vida o sucesso que fez na internet. Era o resultado de muitas orações da música do Paraná.

Ao palco, naquele momento, subiam todos os músicos que trabalham pela cena cultural do estado. Desde os que já estiveram ali também no Guairão, como Blindagem, Gralha Azul (no qual toca Dorival, o pai da cantora Uyara Torrente) e os músicos da Orquestra Sinfônica…, mas também aqueles que sequer vão chegar perto do teatro e que tocam na mais suja e perdida birosca dos grotões do Paraná profundo. Os que não têm dinheiro para trocar as gastas cordas do violão ou da guitarra, também estavam ali representados, presentes espiritualmente. Os que tocam e os que não tocam nos rádios, nas tevês e na internet também recebiam os aplausos naquele instante.

Ali com a banda de maior sucesso do estado, estiveram mais do que os convidados, os compositores e músicos Luiz Leprevost, Thiago Chávez, e Diego Perin (Banda Gentileza) e todo o bando que subiu para cantar “Oração”. Estavam representadas também os trabalhos das bandas das quais eles fizeram versões – Lívia e os Piá de Prédio, com a “Submundo Autofágico”, Mordida, com “Lado Frágil”, Poléxia, com “Garotos de Aluguel”, etc.

Um show que correspondeu à enorme expectativa, que arrancou lágrimas e sorrisos, que fez o público cantar e participar ativamente, nas palmas, gritos e, até, lágrimas. Importante: muitas crianças presentes cantando as músicas.

A cenografia já recepcionava os fãs antes mesmo de se abrirem as cortinas, espalhando móveis e objetos pelo palco, como a representar as peças de um apartamento. Desde a penteadeira, que não poderia faltar, até uma geladeira (que entra em ação na música “Mercadoramama”, passando pela poltrona, onde Uyara arrancou lágrimas cantando “Nunca”, de Vitor Paiva (banda Os Outros), acompanhada pelo excelente e emotivo piano de Vinícius Nisi. À frente, um tapete com almofadas, onde o grupo fez uma espécie de luau na versão acústica de “A Balada da Contramão”, de Rodrigo Lemos (Vini tocando um pianinho de brinquedo).

Ao fim a banda repetiu o que já vinha fazendo em shows menores, com a música “Oração”, o megahit instantâneo do YouTube. Uyara começou cantando, recebeu uma rosa jogada ao palco por um fã e logo em seguida todo o bando que participou do clip começou a subir ao palco para criar o clima de festa da já histórica gravação em Rio Negro. O público de pé cantava e no palco confetes e serpentinas. Uyara desceu, continuou a cantar pelo meio da plateia e foi até o saguão do teatro. Muita gente não entendeu o que estava acontecendo e ficou estática em suas poltronas esperando o retorno, enquanto os mais ligados já cantavam e dançavam junto com a banda lá no saguão.

Emoção do começo ao fim e a grande ciranda de encerramento foi um espécie de apoteose musical deste show que representou e honrou todos os que trabalham com música e são ligados ao Paraná (quer essas pessoas admitam isso ou não). Um espetáculo para grandes palcos e grandes festivais. Mais bandas deveriam pensar nisso.

Fazendo cena

Lotar o Guaíra com um belo show e ainda deixar uma vontade de “queromais” na audiência é o ápice, mas não é toda a cena da música paranaense. No mesmo sábado, Curitiba fervia com muitas outras atividades ligadas à música do estado e aqui eu cito apenas algumas, para comprovar que a música daqui está em alta.

No Teatro Paiol, a banda Maxixe Machine fazia um show em parceria com o antológico baiano Paulo Diniz (“I Wanna to go back to Bahia”).

No Teatro da Caixa, a banda Isca de Polícia junto com Arrigo Barnabé fazia um tributo a Itamar Assumpção. Arrigo e Itamar se formaram musicalmente no Norte do Estado. Leia mais aqui.

Na Cinemateca de Curitiba, estreava o filme “Ultralyrics”, sobre o poeta Marcos Prado, de Rafael Lopes; e “Para Limpar Lágrimas, Paulo Leminski”, direção de Cristiana Miranda. Prado e Leminski foram poetas e compositores curitibanos.

No Peppes Bar, acontecia mais um sábado do projeto Férias Fora do Eixo, com bandas autorais e nesta edição apresentaram-se ali a Match (show e clipe excelentes, apesar de alguns problemas técnicos) e a ParanoiKa que inicia a caminhada como banda autoral, apresentando bons momentos.

No Jokers, acontecia uma eliminatória do Klein Rock Contest, com as bandas lavalsa, Lasttape, Modales, Trip de Luxe, Labrador e Te extraño!

Seis atrações no mesmo sábado, na mesma cidade, em endereços diferentes, todos ligados à música do Paraná. Isso sem falar em muitas outras badalações pelos bares e palcos, das quais nem fiquei sabendo.

Afinal, tem ou não tem música de qualidade no Paraná?

—

Vídeos do show no Guairão da Banda Mais Bonita da Cidade que já estão no YouTube

Lado Frágil