Rodrigo Lemos acaba de lançar seu primeiro trabalho solo, “Toda a Casa Crua”, com a Lemoskine e produção de algumas faixas a cargo de Joh Ulhoa, do Pato Fu, que já havia trabalhado com a antiga banda de Lemos, a Poléxia, em 2009, no single “Você já teve mais cabelo”.
Este trabalho solo surge depois de dez anos de estrada do compositor. É aguardado há quase dois anos, quando começaram a pipocar na internet as músicas “Maria Lúcia estava em chamas” e “Alice” (esta, inclusive, já virou um belo videoclipe lançado em outubro do ano passado).
Em entrevista ao repórter Rafael Rodrigues Costa, do Caderno G, da Gazeta do Povo, no entanto, Lemos disse que apenas essas duas músicas eram mais antigas e que as outras surgiram em menos de um ano para cá. E foi justamente no ano em que A Banda Mais Bonita da Cidade, da qual Rodrigo também faz parte, bombou no Brasil inteiro, o que obrigou a uma série de viagens e compromissos. Daí viria, segundo o próprio autor, a crueza do processo desde as composições até a finalização das canções. Tudo teve de ser feito rapidamente, em brechas de agenda.
Mas o disco não aparenta a urgência com que foi feito, nem transpira pressa. A mão de Ulhoa com suas inserções eletrônicas e de loopings deixa o trabalho com unidade, mesmo em músicas tão diferentes quanto as quatro que abrem o álbum em sequência. “Nessa Mulher”, a primeira, é uma espécie de “samba-indie”.
Chico e Wilco
A faixa título, a segunda, começa com efeitos, vai para um piano e, pelo arranjo inicial, lembra Chico Buarque, mais especificamente uma mistura da “Samba do Grande Amor”, pela repetição da palavra “mentira” com a música “Construção”, que se funde com “Deus lhe Pague”, na versão do disco de 1971. Não tenho uma explicação mais lógica para isso, apenas um sentimento, a ação de uma não confiável memória afetiva que me assoma.
A aproximação com Chico também se dá pela qualidade dos versos (“Tua cara de ternura sem maldade, toda a cumplicidade / Mentira / A coisa imaculada e intocada, nunca antes explorada/ Mentira / O choro derramado na cidade, que eu jurava ser verdade / Mentira …”), para mim, um dos pontos altos do disco.
Como tem uma pegada mais pop-rock, com guitarras, no imediatismo do Facebook escrevi que a música parecia um encontro entre Chico e Wilco, correndo o risco da comparação morrer atropelada na contramão atrapalhando o tráfego (hoje o risco maior é atrapalhar o tráfico).
A terceira música, “Os Outros”, é uma balada com levada folk bem lenta; e a quarta, “Música de novela”, uma canção bem pop que pode sim cumprir o que promete o título.
Delicadeza
E as variações podem acontecer dentro de uma mesma música, como “Toda Bonita” que começa com batidas de triângulo, traz elementos de bossa-nova e fica quase dance. Já “Cabeça de Disco” é um bom momento de canção “pop chicletão”. Enfim, um trabalho que serve como um catálogo da enorme capacidade de compositor de Rodrigo Lemos, que sabe criar hits delicados.
Delicadeza, aliás, é a marca que une todas as composições e a abordagem dos arranjos e produção, o que contradiz a crueza do título do álbum e a urgência com que Lemos afirma ter feito tudo. É daqueles álbuns cheio de músicas preferidas, em que cada um que ouvir vai escolher seu próprio hit.
As canções estão aí e podem e devem ser aproveitadas por outras bandas, cantores e cantoras.
O lançamento oficial do álbum será no dia 31 de agosto, no Teatro Paiol, mas o disco pode ser baixado pelo Facebook do artista.
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