Antes que você comece a ler o texto sobre o Tim Festival, quero avisar que eu fui ao show de má-vontade. Pronto, agora você já está avisado e só continua se quiser.
Fazia tempos que eu não via a Pedreira cheia. Não estava totalmente lotada, mas tinha quase o dobro das pessoas do ano passado. Acho que uns 12 mil, 15 mil talvez. Quase a metade desses pegou o mesmo ônibus que eu, o Nilo Peçanha. Sabe aquele micro-ônibus bonitinho e que é até confortável, desde que não tenha mais que 18 pessoas? Pois é, a URBS, mesmo sabendo que tem show na Pedreira, resolve não interferir no planejamento do transporte coletivo e deixa tudo por conta das empresas, que estão pouco se lixando para nós, os clientes delas. Daí que foi uma viagem de ônibus bastante, digamos, “aconchegante”. O trajeto, que normalmente é feito em, no máximo, 20 minutos, demorou 50 minutos. No meio do caminho, lembrei que havia esquecido o set list, que a colega Juliana Girardi, da Gazeta (essa menina é fera!) me havia gentilmente passado. Se tiver de confiar na minha memória, azar de você.
Em uma semana em que as coisas não estavam indo lá muito bem, e como eu moro a poucas quadras da Pedreira, a tentação de ir direto para casa foi grande. Mas resisti para estar aqui, escrevendo para vocês um pouco das minhas imprecisas impressões sobre os shows. Na entrada, uma inexplicável fila quilométrica, enquanto mais próximo da entrada, um grande vazio. Alguém poderia ter feito a fila seguir mais rápido. Muita gente perdeu show por causa da demora. Por isso, a Pedreira foi enchendo aos poucos.
Não vou falar de todos os shows pois o primeiro eu perdi. Mas graças a Deus, Alá, Krishna e ao meu pai-de-santo preferido, cheguei a tempo de ver a Björk, que era a que eu mais queria ver entre todos os quatro shows. É um arraso desde o início, com a montagem do cenário. Os banners com enormes e lindos peixes. Pouco antes dela pisar no palco, o público fez o espetáculo atirando para cima suas pulserinhas fosforescentes. Entra então, em fila indiana, já tocando, o fantástico Icelandic Wonderbrass. Um grupo de 10 garotas islandesas que tocam instrumentos de sopro, todas fantasiadas (um clima a la Cirque Du Soleil). Então entrou ela, com seu pequeno tamanho e grande estatura.
Camaleônica, neste atual trabalho, “Volta”, une os sopros, cordas e eletrônica numa mistura que parece improvável , mas que pelas mãos dela, deu totalmente certo. No meio da galera, curtindo o show, estava Fernandinha Takai, do Pato Fu, que se confessou uma grande fã de Björk . “Tenho todos os discos, todos os DVDs, que adoro ver”, disse. Ela contou que decidiu vir a Curitiba só para ver o show e que gosta justamente desse lado camaleônico da islandesa. “Ela está mudando sempre e isso que é o bom”. Pato Fu vem a Curitiba no dia 9 de novembro, fica avisado para quem gosta, mas agora voltemos a Björk.
O show foi simplesmente sensacional. Ela muitas variações de clima entre uma música e outra e por vezes dentro da própria música. Passa de algo totalmente percussivo para uma melodia complexa, assim num piscar de olhos. Uma hora está dançante, outra inebriante. A música que faz dançar faz também rezar. A percussão mântrica de uma das músicas transforma-se em um cântico oratório na seguinte. Tudo com muito charme e coesão. O som que agora era terra, daqui a pouco vira espaço. Assim como as luzes de laser que saíam do palco para iluminar as copas das árvores. Assim como as fitas que saem como num passe de mágica das mãos da cantora. Assim como os papéis que são arremessados para o alto por um canhão, no fim do show. Ulisses Galetto, do grupo Fato, também estava por lá, gostou e notou que esta grande artista tem muita coragem. Sim, ela tem coragem para fazer um show desses num lugar grande como a Pedreira e com um público que poderia não ser receptivo pois a maioria estava lá para ver The Killers. Mas grandes artistas como Björk acabam se impondo e o público respeitou e curtiu.
No bis, as Wonderbrass fazem um semicírculo e Björk fica no meio. Performance total, com movimento, som e os papéis prateados voando sobre a platéia. Um grande final para um grande show. Ainda bem que eu fui.
A troca do palco da Björk para o pequeno palco dos Arctic Monkeys foi demorada. Já estava achando isso e o amigo Maringá, que entende tudo de palco (tanto que até quer ter um só para ele) confirmou: “dava para fazer em 15 minutos”. Não marquei, mas foi bem mais.
Os macacos do ártico entraram no palco mostrando o que é o velho e bom rock’n’roll. Pesado, rápido, sem firula, mas com dedicação e boas letras. A cada música uma porrada. Para mim, incomodou um pouco a guitarra com o reverbe no máximo em algumas músicas. Os arctic pecaram, mas só um pouco. O show foi tão rápido quanto eles, quando parecia que iria esquentar ainda mais, acabou. Eles depositaram as guitarras no chão e foram embora. Não teve nem bis.
Mais uma eternidade de intervalo para arrumar as luzinhas, madeiras e florzinhas no palco e às 0h31 desta quinta-feira, começou o vídeo de introdução do The Killers, para a alegria da galera que já estava ficando cansada. Três minutos depois e os rapazes com sua pose de glamour e rockstars entram no palco. A produção dos Killers instruiu assessores e seguranças para proibir as fotos. Os fotógrafos foram para fora de seu cercadinho e até maquininhas pouco potentes eram ameaçadas de serem retiradas das mãos dos fãs jornalistas na lateral do palco. Que bobagem. Sobre o show, se na Pedreira tinha umas 12 mil ou 15 mil pessoas, eu parecia ser a única que não gosto do The Killers, então, prefiro não falar nada. Vamos lá, galera, passo a bola para vocês falarem do show do The Killers. É só clicar aí embaixo e mandar sua mensagem. Um dia, quem sabe, eu escreva aqui porque não gosto da banda e não gostei do show.