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A teimosia dos músicos do Paraná
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Da coluna Acordes Locais, publicada toda quarta-feira na Gazeta do Povo:

Músico é um bicho teimoso. As portas batem na cara dele, as cascas de banana se esparramam pelo chão em busca dos seus pés, a dura realidade desafina a vida todinha, mas o músico que é músico persiste. Caso mais recente que confirma a tese é a da banda Telesônica. Philippe, Vinicius, Heberthy e agora também a Babi são duros na queda. Há cerca de dois anos lançaram o primeiro EP, “Caso faça frio” e, apesar da qualidade, pouca coisa aconteceu. Todos tiveram que se virar e se dedicar a trabalhos mais lucrativos fora da música. Felizmente para nós, a danada da música não os deixa. Agora, arrumando um tempinho aqui, um espacinho ali, lançaram sete músicas no segundo EP, “Escapatória”. Embora a produção seja caseira, dá para sentir o cuidado e o apreço deles pelo que fazem. Você pode ouvir e baixar tudo pelo endereço deles no MySpace. Agora, segue uma entrevista feita via e-mail:

Divulgação / My Space
A banda curitibana Telesônica lança seu segundo EP, “Escapatória”

1 – Todas as músicas do novo EP têm vocal distorcido, por que esta escolha?

Pode parecer estranho mas a opção pelo vocal distorcido vem de duas situações distintas. Somos fãs de filmes antigos e temos apreço por praticamente todos os gêneros. Mas os de ficção científica tiveram bastante influência no processo. Queríamos passar a idéia do Low-fi agregado aos efeitos disponíveis para voz, passando a impressão de estarmos neste cenário trash e oitentista, típico dos filmes low-budget que marcaram nossa adolescência. Além disso, também optamos pela voz distorcida em função da busca pela singularidade. Queríamos soar diferente das demais bandas de Curitiba.

2 – Se a banda está um tanto dispersa com os trampos que dão dinheiro, como está sendo o processo de composição e arranjos das novas músicas?

Com toda certeza no nosso caso em específico não dá apenas para viver de música aqui em Curitiba. Fazemos músicas autorais e não pretendemos ser o “Oasis Cover”, entende? Claro, o mix do nosso repertório com as covers representa a nossa vontade de expormos ao público aquilo que nos motivou a fazer música. Sendo assim, somos obrigados a termos empregos em paralelo e claro, isso atrapalhou o processo de composição do novo EP, mas não a ponto de abortarmos o projeto.

Divulgação
O quarteto curitibano Telesônica acaba de lançar o EP Escapatória

3 – O que inspira a banda nas composições?

A inspiração vem principalmente da própria música. É muito difícil ouvirmos Wilco ou Neil Young e não querermos compor algo.

4 – Um leitor do blog comentou que vcs lembram os Strokes. Eu já encontrei no primeiro trabalho uma inspiração em Los Hermanos. Quais são as influências? E a comparação com outras bandas é boa ou é ruim?

Strokes e Los Hermanos fazem parte da nossa geração. Todos temos mais de 20 anos e menos de 30. Essas duas bandas escreveram boa parte da história dos anos 2000, então é natural que eles influenciem não só o nosso som mas uma porrada de outras bandas. Em suma, as nossas influências variam de Jobim à Cobain.

Com relação à comparação, achamos natural. Antes de nós milhares de bandas surgiram no mainstream. Então sempre soaremos como a “banda X, Y ou Z” para alguém. Estar no ramo de músicas autorais é pôr a cara pra bater.

5 – A programação de shows e viagens para divulgação do novo EP continua ou está suspensa?

Nós estamos fazendo shows mas apenas em Curitiba e periodicamente. Buscamos exposição mas não super exposição. Lógico que gostaríamos de fazer sucesso mas primeiro temos que fazer isso por nós mesmos, pelo prazer de tocar, conciliando a música com as nossas obrigações extra-música. E até em função disso, as viagens estão vetadas. Já a divulgação online continua no mesmo ritmo do primeiro EP.

6 – O que está achando do cenário musical paranaense?

Olha, é difícil comentar sobre o cenário paranaense porque ele se divide em diferentes pólos e nichos que fogem um pouco da nossa compreensão e imersão. Aqui em Curitiba, por exemplo, Sabonetes, Copacabana Club, Fuja Lurdes, Charme Chulo, entre outras bandas, estão conseguindo, através das ferramentas disponíveis na internet, uma exposição muito bacana e que merece respeito. No norte do estado tem o movimento Psychobilly, que é super forte. Resumindo, acho que o cenário é próspero mas desestruturado.

7 – O que ajudaria a mudar para melhor este cenário?

Pode parecer lúdico demais, mas mais integração ou consenso organizacional entre as partes. Há uma falta de comunicação entre os atores que compõem o cenário. O que eu quero, às vezes, não é o que o dono do bar quer. E o que a mídia quer, não é o que o empresário quer. É um exercício político. Mas tudo gira em torno das bandas. Daqueles que amam fazer música e muitas vezes são mal-tratados pelos demais atores locais. Sem a banda a coluna não teria linhas, o bar não teria público e o empresário não teria receita. É um ciclo vicioso mas há esperança. Não temos do que reclamar.

8 – Recomende bandas ou músicos que os paranaenses têm que ouvir.

Ultimamente temos garimpado o que rola no cenário independente de Nova Iorque. Deste ambiente destacamos duas bandas: Dirty Projectors e Vampire Weekend. As duas já estouraram mundialmente, mas muita gente ainda não conhece. Se atendo aos clássicos, recomendamos Teenage Fanclub, Galaxie 500, Tom Petty and The Heartbreakers e Modest Mouse. E finalmente, dentro da esfera nacional: Julio Reny ou Cowboys Espirituais, Plêiade, Wry, Popelines, Superguidis e Stratopumas.

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