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Na semana passada fiz a seguinte observação em meio a notícias so­­bre lançamentos de CDs de bandas paranaenses: “E as rádios de Curitiba insistem em não tocar música paranaense e uma das desculpas é a de que não teria produção suficiente.” O radialista, ator e músico Mauro Mueller não gostou e me mandou extensa correspondência. Publico aqui na íntegra. Após, vem uma pequena resposta minha e mais um grande texto de um segundo e-mail do Mauro. Foi lançada a discussão. Com a palavra, os músicos e os radialistas.

Começa por Mauro Mueller:

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Paulo Camargo e Luiz Claudio:

Tenho 28 anos de rádio, 19 de televisão, toco em bandas desde os meus 11 anos de idade, torço pela música curitibana (a melhor do mundo), agora trabalho com rock e esporte, apresento programas de música e de esporte em rádio e televisão, torço pelo Coritiba, Paraná e Atlético. Faço teatro em Curitiba há 6 anos, torço pelo João Luis Fiani, Edson Bueno, Mauro Zanatta, Fátima Ortiz, Marco Zenni e todos os seus bons alunos, sempre dei espaços às bandas locais pelas rádios e tevês por onde passei, sem nunca obter negativa de diretorias às minhas solicitações, fiz projetos para as bandas locais, e hoje faço isso numa rádio que também sempre fez isso e parece que uns e outros fazem que não ouvem e fingem que não vêem.

Estou meio cansado, estou cada vez mais puto da vida de ajudar a cena, dar apoio às bandas, brigar por elas, tocar nas rádios em que trabalho e ler matérias em jornais que dizem que não toca banda local em rádio… talvez por não ter sobrenome importante, por não ser filho de gente graúda em Curitiba (se bem que meu pai foi o primeiro apresentador de telejornal na Tv Paraná Canal 6, isso pra mim é importante), ou por não ser rico, político, sei lá… mas eu sempre trabalhei pelas bandas de Curitiba e nem preciso dizer das coletâneas, do Arromba, de shows e de outras coisinhas que fiz junto com uns malucos a fim de apavorar a cena.

Tudo bem que exista o amor incondicional e eu amo esta cidade sem querer retorno (tenho um poema que diz: “nunca ganhei dinheiro ou fama por causa da musical música curitibana, mas sempre dei voz a quem berra”), mas também posso e me acho no direito de ficar “puto”. E a rádio em que trabalho (91Rock) também faz isso há tempos, portanto me dói pelos outros que também o fazem. E tem muita gente que faz isso aqui nesta cidade, mas não ganha os louros, os devidos créditos, ou pelo menos uma citação na lápide.

Meu nome é Mauro Mueller, atualmente faço teatro, música, trabalho em dois veículos de comunicação, entre eles, sou coordenador artístico da Rádio 91Rock e me sinto ofendido quando uma declaração mentirosa é feita em um grande jornal, como foi a matéria de meia página, assinada por Luiz Cláudio Oliveira, sobre lançamentos de álbuns, na Gazeta do Povo do dia 13 de outubro, quarta-feira, no Caderno G. E lembro que já mandei e-mail para esta mesma pessoa sobre este mesmo assunto há algum tempo. Mas, parece que você, Luiz, insiste em afirmar uma mentira destas.

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Vários e vários músicos curitibanos dão entrevistas no 91Minutos, programa de segunda à sexta aqui na 91Rock, para falar de música, comentar o rock curitibano e para falar de discos, músicas, shows, movimentos e atividades. Todas as semanas temos convidados, gente como Zé Rodrigo, Paulo Juk, Fábio Elias, Carlos Gaertner, e muitos, muitos outros artistas locais que ficam uma, às vezes duas horas no ar.

Em vários horários da rádio, temos participação de músicos curitibanos, pois damos valor às cabeças pensantes locais. Com comentários, programetes, módulos, até para comentar jogos temos a participação de artistas curitibanos e ex-jogadores de Coxa, Atlético e Pr Clube.

Às vezes até de rádios concorrentes, mostrando que somos a fim de unir a cena. No fim do ano passado fizemos um especial em que participaram várias rádios FMs locais e shows ao vivo com as bandas Trapobanda, Relespública, Monster Jam e entrevista com a banda Mônaco Beach, churrasco e uma verdadeira confraternização de natal da música curitibana.

Quando o Ivo Rodrigues morreu, ficamos dando informações do velório, enterro, falamos ao vivo de lá, tocamos Blindagem toda hora e fizemos um especial com Zé Rodrigo, Rogéria Holtz, Rodrigo Vivás, Marcelus e o Blindagem. Fou uma hora ao vivo só com músicas do Blindagem, porque nós demos a verdadeira importância à carreira e a vida e obra dele, um artista acima da média, sensacional. Uma hora ao vivo tocando e falando da banda e da importância do Ivo Rodrigues na cidade, na história do rock curitibano e de como ele era nosso amigo.

Eu mesmo disse no ar que um planeta dentro de Curitiba morreu com a saída da Terra do Ivo do Blindagem.

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Foi na semana do Dia Mundial do Rock.

Me ofereci e fui depor em favor da banda King Kong de Conga na justiça, contra o Tihuana, para provar que a música “pula” era plágio da música “pule” da banda local, pois acompanhei os lançamentos das duas músicas, desde o início. Sempre divulguei nas rádios em que trabalhei o andamento do processo. Tenho cópia em meu PC. Isto inclusive daria para fazer uma matéria enorme em seu jornal, porque a banda curitibana ganhou a ação movida na justiça e foi declarada a confirmação do plágio. Vitória para a criatividade curitibana.

Estamos esta semana começando a gravações de programas de auditório com artistas locais. Em novembro e dezembro, vamos fazer especiais de fim de ano com várias bandas locais que são executadas na programação normal da rádio.

Damos atenção para as bandas locais da mesma forma como damos atenção às grandes bandas nacionais e internacionais, executando durante os 7 dias da semana em horários nobres e demais horários da rádio.

Temos um programa maluco, bom demais, o Rádio Caos, que é inteiramente feito por músicos e artistas locais, pirando com poetas, contadores, músicos e suas músicas.

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Hoje a Rádio 91Rock está apoiando a segunda edição do Kaiser Sound. Eu mesmo estou apresentando todos os eventos que desde o ano passado apóia a música curitibana. Com patrocínio e tudo. Você fala que música local não está tocando em rádios locais é porque não vive aqui, ou não ouviu somente para citar os últimos 3 anos a 91Rock!

Você não curte ouvir a rádio em que trabalho? beleza, mas ligue para nós e pergunte antes de publicar afirmando algo que você não sabe. TOCAMOS SIM. E muito. Estou aqui faz pouco mais de 3 anos e na coordenação artística desde março deste ano. E muito antes de eu entrar, já tocava som local aqui na 91Rock.

Só para te dar um pequeno levantamento diário sobre o mês de setembro/outubro:

DAS VELAS
DJOA
GARAGEMODERNA
MAGAIVERS
4 CANTOS
MOTOROCKER
NUVENS

Executadas em horários nobres da rádio: 1, 2, até 3 vezes ao dia.

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Sem contar os grandes nomes da música local e que nós também rodamos de forma geral, como BLINDAGEM, SABONETES, BLACK MARIA, NO MILK TODAY, BEIJO AA FORÇA, RELES (é… ainda tocamos Reles), CORES D FLORES, ANACRÔNICA, NAMASTÊ, DJAMBI, TREM FANTASMA, só para citar alguns.

Então…
A 91ROCK TOCA BANDAS LOCAIS.

Desde muito antes da última vez que você escreveu em sua coluna.

Só fico aqui pensando: Por quê você não admite isso?

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Valeu, Mauro. Acho a tua manifestação muito importante. No dia em que receber mais umas três destas, vou acreditar que o rádio do PR toca as músicas do PR – e não é só porque são do PR, mas porque são boas.

Ah, e mande notícias sobre a programação da rádio que eu também publico (ou no blog ou na Gazeta)

Abraços

L.

P. S. só não ponho a tua opinião na íntegra na Gazeta porque minha coluna tem no máximo 4 mil caracteres

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Luiz:

Tem rádio popular que toca artista local sertanejo. A Rádio Massa Fm, Clube Fm tocam.

Das rádios jovens no “mainstream”, Transamérica é rede, Jovem Pan é rede, Mix é rede.

As Educativas tem audiência mínima, a Lumem a mesma coisa e não tem obrigação com o mercado. Mundo Livre até faz alguma coisinha, mas é pequena em abrangência e cobertura, apesar de ser de uma grande empresa de comunicação. A 91Rock é a única rádio jovem qualificada e quem tem um bom volume de audiência e faz um trabalho com bandas locais e que aparece (de um certo modo) como referência para as bandas locais.

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Não existe televisão que toca banda independente, que faz entrevistas e um programa de qualidade para o mercado da música local.

Como é que a banda independente terá espaço nas rádios se não há rádios além da nossa para fazer virar uma música?

E ainda sai no jornal Gazeta do Povo que não toca música local aqui?

O rádio é um reflexo, nunca um projetor. A rádio sozinha nunca vai estourar o sucesso do artista seja ele local, ou não. Temos que respeitar esse ciclo. Ainda mais quando as bandas são independentes e não tem grana para pagar o tal do Jabá nas tevês e rádios de rede, que agora é “legalizado e comum”.

Se só a rádio tocar e ainda sair matéria em jornal dizendo que não toca, nunca vai acontecer. Você aí no jornal precisa saber o que a rádio está tocando. Depois, fazer matérias com as bandas que estão aparecendo. Eu preciso ler o jornal e ver sobre o que estão escrevendo e tocar o que está em voga e tem a ver com a rádio (e você percebeu que eu estou tocando aqui metade das bandas de sua matéria, portanto estou antenado). A banda tem que ter um bom CD, vídeo clipe, myspace, orkut, facebook, site, de preferência bombando. Quando a galera ir ao show, esses caras devem impressionar o público e fazer a platéia sair do show “babando”.

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E vou ser sincero: Mais da metade das bandas independentes de Curitiba que tem um bom CD gravado, não fazem um trabalho completo e profissional que mereça tocar na rádio. A maioria não tem dinheiro ou quem tem um pouco que ganha em shows (geralmente não ganha cachê com músicas próprias) não usa o dinheiro que tem pra pagar assessoria, seja de imprensa ou de produção. Muito pouca tem alguém fora da banda que ajuda a trabalhar, mandar CD na rádio, mandar matéria no jornal e organizar orkut, facebook, site, um celular de contato. Pode pesquisar. Se for fazer “peneira” de tocar só a banda que é profissional mesmo, vai sobrar pouca banda pra tocar na rádio.

Não posso dar bola para isso, fechar os olhos e tocar pelo menos o que tem de melhor e que tenha a ver com a rádio e esperar o mercado me ajudar. Hoje a banda que estoura aqui na rádio é a Motorocker, e eles tem um público forte, e só agora lançaram um Cd profissional. Mérito para a banda, que tem show excelente, tem fãs, todos os meios de acesso na net. A rádio na verdade está obedecendo um ciclo, pois somos obrigados a tocar a banda, que deu resultados e nós tocamos.

OUTRA COISA:
“O CARA DO JORNAL TÁ POUCO LIGANDO COM A RÁDIO E PARA TEVÊ, A RÁDIO NÃO DÁ BOLA PARA A TV E PARA O JORNAL, A TEVÊ A MESMA COISA, SOMOS UMA RAÇA DESUNIDA E DESINFORMADA, QUE NÃO SE CONSIDERA E NÃO DÁ ESPAÇOS, TALVEZ COM MEDO DE PERDER O SEU ESPAÇO, COISA QUE NUNCA VAI ACONTECER… UMA BANDA DE EMO FALA MAL DA BANDA PESADA E A BANDA PESADA NÃO VENDE A OUTRA BANDA. O DONO DA CASA DE SHOWS NÃO PAGA CACHÊ E NÃO DÁ PALCO LEGAL PARA A BANDA INDEPENDENTE DE MÚSICA PRÓPRIA. ENQUANTO PAGA E DÁ PALCO E SOM BOM PRA BANDA QUE FAZ SUCESSO E VEM DA FORA”.

Resultado:
Não há movimento cultural… lembro bem que fiz um movimento chamado ARROMBA e que reunia mais de 300 pessoas semanalmente num Hotel em Curitiba só para falar de música, trocar informações, organizar eventos e tudo ia muito bem… e depois de um ano que todo mundo se ajudou, começou a entrar um mané aqui, outro ali e queriam transformar as reuniões em uma associação, queriam me transformar em presidente, fazer abordagem de cobrança política em órgãos públicos e eu saí de perto. Em menos de um mês as reuniões viraram discussões chatas e acabaram os encontros. Uma das pessoas montou uma comissão e faz política com isso até hoje, mas a maioria de 95% dos roqueiros se afastou.

Chamo músico para comentar jogo, chamo jornalista de jornal pra dar entrevistas e sua opinião sobre o mercado da bola, quando trabalho em esporte. Mas, vejo que a crônica esportiva é avessa. Na música, a mesma coisa, dou Cd de bandas independentes aos jogadores de futebol, fiz amizade com o Ney Franco por conta do convívio dele como roqueiro, mas ninguém faz isso por aqui. Em São Paulo, o Nando Reis vai direto em programas de esporte. Aqui parece proibido. A Guta fez o livro infantil do Coritiba, legal. O Humberto fez a mesma coisa e foi nas rádios gaúchas para falar sobre o livro. Aqui não conseguimos trazer a Guta pra dar entrevistas na rádio e lá na TV foi a reportagem no lançamento do livro, pois ela tem contrato com a Globo e não poderia dar exclusiva para a Rede Massa, ninguém tem o contato com ela e queria trazer ela aqui na rádio, mas não dão a importância necessária.

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Enfim, essa é a minha visão.

Abx…

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Estou com a sensação de que tem alguém me seguindo: twitter.com/sobretudo