Conheci B. B. King de um jeito que não recomendo a ninguém.
No início dos jurássicos anos de 1980, quando era ainda mais ignorante do que sou hoje, ouvia blues de segunda via. O britânico, isto é, pelo viés de Rolling Stones, Eric Clapton e cia. O brasileiro, de Ângela Ro Rô, Blindagem e outros. E as releituras roqueiras americanas, principalmente Jimmi Hendrix. Perguntei então para o meu amigo, o músico e jornalista Carlão Gaertner, o maior conhecedor de blues por perto de mim, o que ele me aconselharia de ouvir para entrar mais no meio de blues. Ele desfilou todos os nomes tradicionais e arrematou com algo mais ou menos assim: “mas se você quiser algo que respeite o tradicional e ao mesmo tempo tenha uma pegada mais atual, mais pop, vá no B.B. King que é a melhor opção”.
Eu fui. Logo que saiu no Brasil, comprei o álbum (o vinil naquela época era conhecido como LP, de long play) “Love Me Tender”. Não poderia ter feito escolha pior. Não que o disco seja ruim, mas é um dos mais comerciais e sem espírito blues do eterno amante de Lucille. Está mais para baladas country (nada contra, também gosto), com toques românticos e alguns arranjos de cordas excessivos.
Fiquei meio assim com o amigo Carlão e também com o B.B. King. Será que aquela seria mesmo a melhor indicação? Não falei nada para nenhum deles, mas também não desisti e continuei a peregrinação. Afinal, eram os dois de confiança e a melhor coisa do disco era justamente Lucille, que em qualquer lugar sempre se destaca com seu jeito único, inimitável. E, como diz o título de uma das músicas daquele álbum, “You’ve Always Got the Blues”
Meu segundo disco de King foi “Lucille”, de 1968, achado em um sebo, meio riscado (sim ainda vinil, que depois, já no fim dos anos 90, troquei por uma versão em CD). E o interesse por blues só cresceu de lá para cá. Nos bons tempos da Estação Primeira, mantive com meu irmão (outro dos grandes conhecedores do gênero em Curitiba e também chamado de Carlão), um programa de blues. Tínhamos também uma loja de discos, a Jukebox, que vendia muito rock pesado alternativo e entre o hard, punk, trash, metal e suas muitas variantes, também ali se insinuavam os disco de blues e B.B. King era sempre um dos mais vendidos.
Mas estou solando e desviando o caminho, voltemos aos 12 compassos essenciais. O fato é que comecei pelo pior de B.B. King e acredite que o pior dele é, no mínimo, bom. Para provar veja e ouça ali abaixo vídeos de músicas que estão neste disco:
Valeu Carlão, pela indicação. Sei que você deve estar triste por esta perda, mas lembre do que ganhamos com o rei e do que vocês me deram.
Do pior disco dele:
O adeus de Eric Clapton:
Com Clapton e outros grandes guitarristas:
E lembre de alguns momentos de B.B. King por Curitiba: