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Bernardo Bravo, uma das metades do duo Félix Bravo, lança seu primeiro disco solo em show neste sábado no Teatro do Paiol, em Curitiba. A lépida e atenta Rafaela Cardoso, colaboradora número 1 deste blog, ouviu e conta para nós o que sentiu ao mergulhar nos braços de “Arlequim”. E lá abaixo eu complemento com uns pitacos.

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Gentil, assim como seu autor, foi como o “Arlequim” de Bernardo Bravo chegou pra mim. Minimalista e tendo como único instrumento o piano, pelo qual tenho verdadeira paixão. Esse álbum nos condiciona com carinho além das expectativas.

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Eu realmente tinha receio de que o primeiro disco solo do Bernardo viesse a se assemelhar com o trabalho que ele faz no FelixBravo (que também é ótimo, fica aqui a recomendação). Mas não, ele provou que a diversidade é um de seus fortes. Agora, penso, que receio bobo, né?! ..rs

Com voz que abraça a gente toda vez, Bernardo nos oferece variações das quais talvez imaginássemos não se encaixar num trabalho dele. Mas para infelicidade de uns, e felicidade de outros, as variações casaram perfeitamente.

Nesse disco, como na maioria dos que tenho ouvido, não dá pra ter músicas preferidas, são todas tão bacanas que fica difícil escolher uma ou duas. Mas é claro, que sempre tem umas músicas que a gente põe pra repetir insanamente. Na minha lista de mais tocadas estão: “Carnaval em Curitiba”, Composta pelo maranhense Phil Veras após visita em Fevereiro à terra dos pinheirais, me conquistou e tá difícil de largar. É daquelas canções que você nem sabe explicar por que gosta tanto, sabe? Esforçando-me para escrever uma explicação plausível.. é uma musica genuína, agridoce como a gente gosta (pelo menos eu gosto) e que apresenta o quão gostoso é o nosso Carnaval, mas vai além disto, talvez o grande barato esteja em não conseguir explicar o porquê de ser tão boa. Mas uma coisa eu sei, Bernardo arrasou na interpretação. Sabia que devia ter “dado bola” para o Phil Veras quando minha irmã me apresentou o disco dele. Então minha gente não façam como eu e vão atrás desse piá!

A já velha conhecida na voz de Troy Rossilho “Inimaginável”, que na versão presente em “Arlequim” ganhou suavidade. Gosto de pensar que uma versão complementa a outra. Cada uma tem sua significação. A versão do Troy é um grito exterior, pra ouvirem que “..eu vou fazer turismo dentro do próprio organismo / eu vou me aventurar no meu centro..”, já a versão feita pelo Bernardo Bravo, é um grito interior, é a hora de encarar e convencer a alma, hora da aceitação pessoal.

Outra que vive repetindo no Ipod é “Coisado”. Muito bem humorada, e eu realmente achei que deu pra captar o bom ou mau humor curitibano. E para acompanhar, a potente e muito bela voz de Amanda Pacífico.

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“Zeppelin” composição de Lívia Lakomy que na interpretação com Bernardo, muito boa por sinal, traz esperança, muita doçura e vontade de viajar pra ver o mundo inteiro lá fora e guardá-lo na memória.

Vale atenção para a “canção de ninar romântica” “Lua Madrinha”, a versão de “Trago” gravada inicialmente pelo Música de Ruiz – Estrela Leminski e Teo Ruiz –, “Blues” em que mais é perceptível as variações na voz de Bernardo que falei no começo. É uma canção solar que enaltece as relações entre casais de uma maneira deliciosa. “Saudade”, de Chiquinha Gonzaga, influência forte que costuma “aparecer” nos trabalhos do Bernardo, que compôs a letra. Resultando em melancolia e lembranças. A latina “Santa Maria” que posso imaginar em imagem na Confeitaria das Famílias num dia chuvoso. “Cangote” que celebra o amor e o cangote, lugar que as mulheres tanto gostam de serem tocadas e beijadas. E por último, a teatral e divertida “Manjubinha” composta por Octávio Camargo e Chiris Gomes.

Os pianos do disco ficam sob os cuidados de Fábio Cardoso — que anteriormente fez um trabalho sensacional em “Vendo Amor” do Alexandre Nero, e em “Arlequim” dá mais motivos para achá-lo tão bom — e dos ótimos Bruno Piazza e Vinicius Nisi.

Bernardo me surpreendeu com este disco, e a cada vez que ouço me apaixono mais por essa belíssima obra. E afirmo que já é um dos melhores discos autorais do ano no Paraná. Esse “Arlequim” sozinho meus amigos, é muito melhor que a Colombina e o Pierrô juntos.

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O compositor e cantor Bernardo Bravo continua, assim como no duo Félix Bravo, fazendo música lenta. Canções para quem se esquece e se acha por quase uma hora dedicando-se apenas a ouvir. Lentamente.

Depois de Carlos Careqa com seu disco “Alma Boa de Lugar Nenhum”, Bernardo também adere a acompanhamento único de piano, dando a tarefa das teclas a Bruno Piazza e Fábio Cardoso na maioria das canções, e a Vinicius Nisi em “Inimaginável”, música inigualável de Troy Rossilho e Luiz Felipe Leprevost.

Bravo fica à vontade para brincar com a voz e as interpretações. Craque nos graves, sofre um pouco nos agudos. Parece que a intenção é a de se ver mais como intérprete, já que aparece como autor em apenas 6 das 14 faixas: “Cangote”, parceria com o sempre ótimo Dú Gomide, “Blues”, “Coisado”, “Santa Maria” (parceria com o violonista, compositor e arranjador André Prodóssimo), “Beijador” (parceria com Cauê Menandro) e uma surpreendente parceria com Chiquinha Gonzaga, fazendo a letra para “Saudade” (música nada fácil para cantar, como sentiu o autor da letra).

O trabalho se mostra interessante também pela apropriação que Bravo faz de canções marcantes na voz dos intérpretes e autores originais. Casos de “Inimaginável”, como notou a Rafaela no texto acima, e de “Trago” (Estrela Leminski / Teo Ruiz / Fábio Navarro). Bem no estilo dele, deixou-as bem mais lentas, sentimento à flor do fio da navalha na pele.

O show deste sábado no Paiol promete. E o Arlequim triste e emotivo nos dará o conforto das boas canções e interpretações.

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Ouçam Bernardo Bravo: