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Carlos Careqa e “A Alma Boa de Lugar Nenhum”
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Carlos Careqa está lançando seu oitavo disco, Alma Boa de Lugar Ne­­nhum. Um trabalho diferente, apenas voz e piano. A cada canção um pianista. A cereja deste bolo é a presença de Chico Buarque cantando “Minha Música”. O disco traz canções próprias, em parcerias (tem Itamar Assumpção e Ruy Werneck de Capistrano) e versões de mú­­sicas do dramaturgo Betold Brecht, além da presença marcante da dupla Arrigo Barnabé e Paulo Braga.

São canções sem refrões, algumas difíceis de cantar ou assobiar. Não é para ouvir no carro. Não dá para dividir a atenção com o trânsito. As letras têm sentido duplo ou triplo.

Este texto sobre o novo Careqa será dividido em dois. Não cabe tudo neste espaço. Aqui, primeiro, vai um papo com o Careqa, feito por e-mail. Uma entrevista em que ele explica al­­gumas coisas. Na semana que vem, termino a entrevista e comento mais sobre o disco.

Como surgiu o projeto de fazer um disco só com canções voz e piano?

O projeto surgiu quando conheci o Paulo Braga, um excelente pianista que trabalha muito com o Arrigo. Sempre gostei do jeito que ele toca o piano. Daí foi amadurecendo, passando inclusive pelo André Mehmari (outro grande) que conheci num trabalho que fizemos dedicado ao Brecht em 2006. Fui juntando as peças e vi que um disco de piano e voz seria muito bom neste momento em que queria falar algumas coisas “políticas” relacionadas à minha vida e à vida do Brasil atual.

A atonalidade e as mudanças de andamento, assim como a forma de interpretação, foram ideias originais das composições ou surgiram quando foi pensado o arranjo?

Bem, não acho que tenha tanto atonalismo neste disco, tem algumas frases aqui e acolá. O Arrigo (Barnabé) fez o arranjo da música que o Chico (Buarque) gravou, então ficou parecendo atonal, mas não é não, ele usa séries para “apimentar” o arranjo. No fundo a música é bem simples.

A música mais estranha do disco é a “Samba do Budista”, que é do Chico Mello. Aí sim, ele usa uma escala indiana pouco conhecida por nós, e parece atonal.

As mudanças na forma de interpretação são decorrência dos arranjos mesmo e do tipo de música a ser cantado. Sempre fui meio assim mesmo, acho cada canção única e, por isso, interpreto de um jeito peculiar cada uma delas. Mas tudo foi acontecendo no decorrer do processo mesmo, junto com os arranjadores, que foram dando pistas para eu interpretar deste ou daquele jeito.

E a presença gloriosa do Chico, como se realizou? Houve uma aproximação entre vocês?

Puxa, foi mais simples do que se pensa. Eu mandei a música para ele, e, quatro dias, depois recebi um e-mail dele dizendo que topava gravar e que tinha gostado da música. Tudo que falam do Chico é verdade mesmo. O cara é um cavalheiro, generoso e muito bom músico. Ele chegou ao estúdio com a música decorada, sabia cantar direitinho. O Arrigo foi junto para o Rio de Janeiro, onde gravamos, e ficou espantado com o profissionalismo do cara. Sempre fui muito ligado às coisas do Chico e jamais pensei que o encontraria nesta vida. Mas aconteceu assim. Eu fiz esta música por causa do Arrigo, numa ópera que fizemos em 2001. O tema da ópera era mais ou menos este, o fim da música, e assim tive vontade de fazer uma canção. Quando fui pedir o arranjo para o Arrigo, perguntei para ele como deveria cantar essa música, ele me disse que seria legal se eu cantasse a la João Gilberto, então me acendeu uma lâmpada, e por que não chamar o Chico Buarque? Foi assim que tive a ideia.

Como surgiu a ideia do video com a música cantada pelo Chico em que você vai raspando a cabeleira? E como ficará teu cabelo daqui para a frente?

Eu já queria fazer a capa deste disco com a cabeça raspada. Uma mudança radical. Então, quando fui fazer as fotos, já premeditamos tudo. Gravamos o vídeo e fotografamos a raspagem… O cabelo vai crescer… Eu gosto mesmo é de cabelo comprido, ainda que ralos e brancos…

Divulgação/Edson Kumasaka
No videoclipe de “Minha Música”, Carlos Careqa raspa a cabeça
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