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Curitiba virada em alegria e música
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Vou escrever uma coisinha aqui sobre a Virada Cultural de Curitiba. Quase não escrevi, intimidado que fiquei pelo belo texto da Adri Perin, lá no blog De Inverno. Se quiserem ler texto bom, vão para lá. Aqui resolvi encarar, dentro das minhas limitações.

Na semana anterior à Virada Cultural, lembrei dos versos do Mario de Andrade, “Eu sou trezentos. Sou trezentos e cinquenta” Já previa que seria impossível ver tudo o que queria ver. Do meio-dia de sábado às 18h de domingo, passei por 13 shows em cinco palcos diferentes – alguns com mais tempo e outros menos.

A Virada Cultural – e seus eventos paralelos – foi a melhor coisa que aconteceu à cultura de Curitiba nos últimos anos.

Divulgação/Blindagem
A banda Blindagem abriu o Panelaço na Virada Cultural de Curitiba

O périplo musical começou pelo Panelaço, o evento de inauguração do nome “Sala Ivo Rodrigues”, no TUC, com a Banda Blindagem, que lotou o pequeno espaço e fez o público cantar do começo ao fim. Teve marmanjo chorando e criança cantando, o que mostra a amplidão de alcance da mitológica banda.

Os músicos e produtores Dary Jr. Getúlio Guerra e Ivan Rodrigues tiveram a excelente ideia de pedir a cada uma das bandas que tocasse um música do Ivo. E já outra ideia surgiu, de lançar um disco com estas versões. Tomara que vingue. Entre os espetáculos que vi ali, além do Blindagem, destaco os acreanos do Los Porongas e os curitibanos da Anacrônica, apesar de o show ter esfriado um pouco no final, com a debandada do público em direção ao Pato Fu.

Lamento não ter visto Mordida, A Inimitável Fábrica de Jipes e Terminal Guadalupe. Os goianos do Violins não se acertaram com o som, o que prejudicou o show.

Durante a Virada me disseram que o TUC – agora Sala Ivo Rodrigues – não passa de um buraco mal acabado e que as bandas são ultrajadas ao terem de tocar naquele espaço apertado, mal iluminado, com som péssimo e acústica ainda pior. Bom, as críticas até têm uma certa razão de ser pois o espaço pode e deve ser melhorado. No entanto, o clima de festa, a competência das bandas que vi – e também das que não vi – e a participação do público, a organização, superaram todas as dificuldades. Espero que o Panelaço resista e, assim como a Sala Ivo Rodrigues, melhore a cada ano.

Paulinho e o Barão

Luiz Cequinel/FCC
Prça Generoso Marques lotada no show de Paulinho da Viola.

Voltando ao começo de sábado. Depois do Blindagem, troquei o rock pelo samba e fui ver Paulinho da Viola. Para fugir do sol na cabeça, subi uma escadaria para ver o show na sacada do belo edifício Tigre Royal – o prédio é lindo e se eu ganhar na MegaSena da virada farei ali um novo espaço cultural, prometo pois um espaço daqueles tinha de ser melhor utilizado (ou o Sesc poderia ir encampando todo o entorno do Paço e dar para eu cuidar, hehehe).

Elegante e sóbrio como sempre, Paulinho desfilou seus sucessos acompanhado pela Orquestra à Base de Cordas. O povo cantou e o Barão do Rio Branco, sempre tão solene em seu bronze e zeloso com seus papéis, de repente, sambou com passinhos desajeitados, meio enferrujado de tanto tempo parado, brincando de estátua, era o “Passo da Liberdade”.

O povo dançou. De revesgueio, acho que vi o fantasma do Nireu Teixeira olhando da janelinha de onde trabalhava, no tempo em que o prédio do Sesc Paço da Liberdade era a sede da Prefeitura de Curitiba. Desconfiei que era ele porque tocava uma caixinha de fósforo.

Paulinho foi um rio calmo que passou pela Virada.

Hermeto gastronômico

Do Paço para a Praça da Espanha, chegando nos primeiros acordes da reunião entre a genialidade de Hermeto Pascoal e a erudição da Orquestra Sinfônica do Paraná. Não deu liga. Já na segunda música, decidi que era hora de comer e passear pelo evento gastronômico a ficar nervoso com um espetáculo que não fluía. A praça estava cheia e feliz. Mistura de gentes e de jeitos, é um belo exemplo de ocupação da cidade com auxílio do comércio local.

Alguns comerciantes parece que não acreditaram na força da Virada Cultural. No show do Paulinho da Viola e no meio do de Hermeto, acabou a cerveja nas redondezas e até refrigerante ou água gelados estavam difíceis de encontrar. No domingo, andando pelo centro com o amigo Márcio Renato dos Santos, não acreditávamos quando víamos pessoas procurando lugar para comer e beber na hora do almoço e tudo fechado. Nem o Shopping Itália abriu. Os coreanos e chineses, mais trabalhadores, cansaram de vender pastel e Kaiser quase gelada.

Bicicletário Fora da Casinha

Silvio Lopes
Público faz uma roda de ciranda em um dos shows do Bicicletário

Depois de pequena pausa para atividades familiares, corri lá para o Bicicletário Livre do Centro Cívico. Ali acontecia o “Fora da Casinha” que se fez sem o dinheiro da Virada Cultural. Tudo às próprias custas dos músicos e produtores, com apoio da Rádio 91 Rock e da Gramofone.

Clima parecido com o da Praça da Espanha, mas mais alegre. O povo dançava e cantava ao som de Real Coletivo Dub. Fez-se roda de ciranda na grama, entre malabaristas e muita gente de bicicleta – afinal ali é um espaço desbravado pelo coletivo Bicicletada.

Universo em Verso Livre entrou no palco e lançou mais alegria ritmada ao público que se esbaldou no início da noite.

Bom ver gente arregaçando as mangas e mandando ver. Não é só de leis e auxílios oficiais que se faz a cultura. Ela nasce do povo e dos artistas e assim se fez a ação Fora da Casinha. Com liberdade, criatividade e muito trabalho. O resultado foi um alto astral indescritível. Só quem esteve lá para saber. Tem mais texto e fotos sobre o Fora da Casinha em post aí para baixo deste blog que vos escreve.

Passada rápida pelo show do Roberto Carlos (leia aqui um texto do Marcos Xavier Vicente sobre o show do rei) para depois voltar ao TUC, mas sobre ele já falei.

Arrigo, Clara Crocodilo e o Paço

Antônio Costa / Gazeta do Povo
Arrigo, Thayane, Bel e Daniella à meia-noite e meia, no Paço da Liberdade, cantando Clara Crocodilo

Pulo direto para o show de Arrigo Barnabé com a Orquestra à Base de Sopro, comandada por Sérgio Albach e com as participações especiais das cantoras Thayana Barbosa, Helena Bel e Daniella Gramani. Sensacional. Era meia-noite e meia e tinha quase o mesmo tanto de gente do show do Paulinho da Viola. O arranjo para a orquestra caiu preciso para a proposta da ópera rock “Clara Crocodilo”, que completa 30 anos de existência. Tinha gente na platéia com menos idade e que cantava todas as músicas.

E os coreanos e chineses, únicos bares abertos nas redondezas, recebendo um público bem diferente do que costumam na madrugada de sábado neste ponto de tráfico e prostituição de Curitiba. E viva a diversidade e a cultura!

Domingo tremendão

Walter Alves/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Erasmo Carlos fechou a programação de shows da Virada Cultural

No domingo, de ressaca da correria do dia anterior, acordei tarde e perdi o Copacabana Club. Disseram que estava muito bom, assim como também me disseram que um dos melhores shows foi o da Sandra de Sá, no sábado à tarde. Não vi, mas confio em quem me falou.

Cheguei ao Paço no final do show da Mart’Nália. Final mesmo. Só ouvi os últimos acordes e os aplausos. Então restou passear pela Feirinha e ir almoçar no Cachorro, na Boca Maldita, antes de curtir a delícia que foi o show do Erasmo Carlos. O Paço ficou lotadão. Mais que nas outras atrações. Foi o ápice de todo o evento. Diversidade e animação na platéia e um show feito com categoria de um ícone da música brasileira.

Erasmo é um “hitmaker!” Tudo o que ele compõe vira ouro e está nos corações e mentes de gerações de brasileiros. Depois disso, posso dizer que a Virada Cultural de Curitiba foi tremendona.

Emoção com Janaína

Findei a jornada vendo o show da Janaína Fellini, no projeto “Mulheres e Canções”. Eita voz gostosa e com interpretação emocionante que chega a comover. Dela ainda falarei mais por aqui em outra oportunidade. Por isso me seguro agora.

Deu vontade de continuar por ali pelo bicicletário pois o clima era muito agradável. Não deu, infelizmente, mas fiquei muito contente pelo que vi e pelo que não vi em todos os eventos que deixaram Curitiba virada de alegria e música.

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Estou com a sensação de que tem alguém me seguindo: twitter.com/sobretudo

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