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Matheus Duarte, músico, compositor e produtor mineiro radicado em Curitiba, lança neste sábado (13/10) à noite no Era Só o que Faltava a sua nova banda e também nome de disco: “Match”. Assim como fez na Trivolve, o novo trabalho é também construído com dedicação e muita criatividade. Música dançante que conta histórias. Vai direto ao assunto, fazendo as coisas parecerem simples. O trio, além da guitarra tem o baixo de André Nisgoski e bateria de Val Ofílio. Com participações especiais como dos parceiros Bruno Sguissardi (que coproduz o disco) e Mônica Bezerra, além de Ruth Varella e Lincon Senger e da esposa Thali Sugisawa, que também fez a produção executiva do trabalho.

Pop-rock com groove e pitadas de música brasileira e eletrônica. Músicas de fino acabamento, apesar de quase toda desenvolvida em trio. Falam de encontros fugazes que podem durar uma eternidade (“Mais um minuto”), do interessante ponto de vista de um pequeno engraxate: “olha quanto dinheiro andando pela cidade” (“O engraxate”); da vida feita de planos seguidos de planos: “não precisamos mais ficar pensando distante/ Estando tão perto” (“Planos”); de vozes que povoam a cabeça (“Invisível”); de incertezas românticas (“Dois dias”).

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O discurso, intencional ou não, que permeia todo o disco é o do tempo que pode ser escasso ou espaçado, “o que seria de nós? Se há tanta vida guardada em 60 segundos”, e os encontros e desencontros. Mas também é a cidade como pano de fundo, seja nos olhos do engraxate, ou na mobilidade que impulsiona sonhos, amores e passeios. Andanças urbanas.

Neste encontro de mobilidade pela cidade, a música “Enchendo a barriga de som” é uma das mais bacanas do disco. Lá vai a letra:

Eu ando o tempo todo a pé
Toda a cidade conhece o meu passo estranho
O asfalto já sabe quem é
Você não vai querer me ver dançando
E é bem bacana caminhar pensando
Cantando qualquer coisa que saltite na mente
É sempre bom marcar o tempo pra seguir em frente
Esse negócio abre o apetite
Engano a fome com uma música diferente

Enchendo a barriga de som
Enchendo a barriga de som

Aonde quer que eu vá eu vou a pé
Independente da sua vontade eu vou me deslocando
De um bairro pro outro desse lugar
E é bem bacana caminhar pensando
“E aí, já terminou?
Tá pronto?
Vai demorar?
Ah tá”

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Enchendo a barriga de som
Enchendo a barriga de som

Letras e poesias boas são aquelas que se mantém abertas a todo tipo de interpretação (tá, lá vou eu com minha mania de análise interpretativa literária). Esta acima por exemplo, à primeira ouvida me levou a pensar no mendigo que anda pela cidade e para em frente a vitrines de lojas que têm algum tipo de música rolando. Então começa a dançar com passos ritmados. É bem bacana vê-lo, parecendo feliz em sua loucura, com suas roupas rasgadas, possivelmente com fome, mas dançando feito um John Travolta nos embalos de um sábado à noite.

É um devaneio meu pois a letra não tem nada disso. Fala apenas de uma pessoa caminhando na cidade e com algumas músicas saltitando na mente. Poderia ser você ou eu, ou um outro mendigo, ou Isis, Perséfone ou qualquer outra deusa, Zeus, ou os próprios Match. Caminhando com fome e enchendo a barriga de som. Pronto. Fim das literatices por hoje.

Matheus Duarte é um poeta urbano que tem cérebro e barriga cheios de som. Ou de sons, muitos sons. Com tempo ou sem tempo os sons sobressaem. Por isso todos os dias são dias de Match.

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A seguir, republico o release de apresentação do disco, escrito pelo jornalista Kiko Ferreira, pois quando a coisa é boa é melhor republicar do que chupar:

Groove que enche barriga, a música do MATCH é prova audível que é possível ousar sem medo. E usar as sólidas escolhas para definir um som que muita gente com décadas de experiência e subidas ao pódio ainda não alcançou.

Liderado pelo cantor, compositor, guitarrista e produtor Matheus Duarte o MATCH tem André Nisgoski na baixo e Val Ofílio na bateria. Um power trio sem a marca do virtuosismo inócuo e viajante, mas com a energia de uma geração que não desperdiça tempo nem recurso.

Nascido em Belo Horizonte e atualmente radicado em Curitiba, Matheus resolveu entrar na música aos oito anos, quando ouviu Led Zeppelin e pediu uma guitarra pra mãe. No meio dos anos 90 já tocava profissionalmente e, entre 1998 e 2006 liderou o grupo Poronga Joke, matriz de uma sonoridade pop bem cuidada e aprimorada em 2007, nos Estados Unidos. Lá trabalhou com a cantora Reah Valente como produtor, guitarista e compositor, com apresentações em espaços de respeito, como o antológico Whisky a Go-Go em Los Angeles.

De volta ao Brasil, logo estava na capital do Paraná. Lá montou o circo, ocupou os palcos, criou um grupo, produz artistas e trilhas e fez do Nico’s Studio sua sede e ponto de referência. Toca guitarra na banda Trivolve e participa de projetos de amigos e músicos afinados com suas ideias cada vez mais claras e objetivas.

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Com groove no coração e no estômago, o MATCH apresenta uma bem temperada fusão de guitarras setentistas e sintetizadores, bateria com pegadas de anos 60 e 70 e batidas eletrônicas de timbres e velocidades atuais. Vintage e moderno, sem soar exagerado, nem datado. Tudo dançante, em clima de balada. Até as baladas.

Com produção assinada por Bruno Sguissardi, amigo de longa data e roqueiro incontestável o disco tem como referências básicas, identificáveis nas primeiras audições, Jamiroquai, Grand National, Kasabian, Lenine, Groove Armada, Stone Temple Pilots.

O disco abre com “Mais Um Minuto”, uma chamada pra pista com peso, dançante, eletrônica.

Segue com “O Engraxate”, com um pé no som psicodélico da geração Woodstock e bem vindos truques de estúdio, como inserção de som ambiente e um coral gravado na escadaria de um prédio de Curitiba. A história da letra, real, ouvida em 97 Foz do Iguaçu, é de um engraxate que pretendia ser médico para ajudar o próximo.

Com bateria sessentista e piano com timbre baseado num sample gerado no lendário estúdio Abbey Road, “Me Ensina a Sambar” tem ar quase didático, na proposta de uma cantada de alto grau de funcionalidade, cercada de eletrônica bem dosada por todos os lados.

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“Planos”, a primeira assumidamente romântica, é a única faixa com desenhos de cordas.

“Enchendo a Barriga de Som”, primeira faixa de trabalho do disco, abre com um clima de Cream e pinta de tintas psicodélicas o velho drama do artista que faz música e esquece da vida prática. “É bem bacana caminhar pensando” é a frase que fica da música, que sintetiza o conceito do disco.

Um amigo que não se vê, mas sempre se sente, é o tema da dançante “Invisível”, um rock com guitarras marcantes, bateria eletrônica convivendo bem com bateria rock’n’roll.

“Troca”, grandiosa como um tema do U2, é outro tema que convida à dança e apresenta o arranjo mais elaborado do trabalho.

Mais cinematográfica e descritiva, “Dois Dias” é outro tema romântico e parte de um beijo real no arco do Washington Square, em Manhattan.

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Meio que uma atualização de nostalgia, “Desenho” é uma música original do Poronga Joke, de 2002, que Matheus transforma num tema mais rasgado e dançante, com um mix de guitarra e teclados, bumbo real e eletrônico demonstrando o livre trânsito entre os dois universos.

O disco termina com “Não Fique Parado”, um rock’n’roll na linha sing along que reafirma o talento do compositor e sua veia pop que lhe garante boas chances de sucesso num mercado ávido por boas idéias executadas com esmero.

Num momento da indústria em que a produção de fonogramas costuma se amparar mais na utilização de efeitos e programas de edição do que na produção de música consistente, o surgimento de uma banda como o trio MATCH é promessa de dias melhores.

A música, bem composta, bem embalada, com roteiro lógico e feita com conhecimento de causa, pode ser creditada à habilidade do trio, que já subiu ao palco com grandes estrelas e tem larga experiência de estúdio.

Em parceria com André Nisgoski e Val Ofílio bem firmada, dentro e fora dos palcos, Matheus usa, no disco, a boa experiência adquirida nos Estados Unidos e no Brasil. E promete uma carreira de sucesso para um grupo que chega ao primeiro disco com personalidade.

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Por Kiko Ferreira, Belo Horizonte-MG.

Novembro de 2010.

Sábado, dia 13 de Novembro
Local: Era Só o Que Faltava (Curitiba-PR)
Horário: A partir das 21h
Entrada: R$ 15,00 [convertidos em consumação]

Site oficial: www.matchmusic.com.br

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