A pedidos, republico aqui o texto que escrevi para o Caderno G sobre o show do Luiz Felipe Leprevost na Virada Cultural.
Curitiba tem um novo poeta pop. O grande poeta pop da cidade sempre foi e será Paulo Leminski. Em uma lista breve aponto outros três: Alice Ruiz, Thadeu Wojciechowski e Marcos Prado. Eles sempre procuraram juntar a poesia e a música. Há outros, mas este texto não é sobre uma lista de poetas da cidade. Tampouco vou falar de Emiliano Perneta e os que existiam antes que o rock rolasse.
Leminski alcançou repercussão nacional incontestável e atualmente é a referência. Nesses dias está recebendo uma mega exposição no maior museu de Curitiba sobre a vida e a obra dele. Pois a algumas centenas de metros do Museu Oscar Niemeyer, em plena Boca Maldita, neste sábado de Virada Cultural, um novo poeta da cidade foi aclamado popularmente. Batizado nos afagos do público que, aos milhares, com os braços para o alto e a plenos pulmões cantavam seus versos. O novo poeta pop de Curitiba é Luiz Felipe Leprevost. Não, leiam bem, eu não escrevi que ele é o sucessor de Leminski.
Há anos ele vem cortejando este posto e se preparando para esse momento. O próprio lembrou depois do show, em conversa comigo e com o compositor e parceiro Troy Rossilho, que há dez anos era um cara muito desafinado. O desafino serviu de desafio e Leprevost venceu e neste sábado colheu o troféu.
Poeta pop. Poeta rock
O espetáculo teve uma embalagem sonora perfeita para a ocasião preparada por Eugênio Fim, o produtor musical do espetáculo e que tocou guitarra, contrabaixo e cuidou da programação eletrônica. No palco ainda estavam Vina Lacerda (bateria), Fernando Alves Pinto (baixo e serrote), Chiris Gomes (vocal e danças), Letícia Sabatella (vocal e danças) e a participação mais que especial de Troy Rossilho.
Poeta profano
Leprevost cantou e declamou, foi do rock à balada, passando pelo pop, sempre com muita energia e permeado de poesia, muita e emocionante poesia. Acostumado com saraus entediantes para quem não é do ramo (e às vezes até para os que são do ramo), eu duvidava que a poesia desse certo em um grande palco no meio da Boca Maldita. Feliz engano. Deu muito certo, a ponto de, quando desceu do palco, Leprevost foi aclamado aos gritinhos e aos berros por fãs que se postaram junto à grade que sepra os artistas do público para recebê-lo.
Quem diria, poeta, quem diria que iria chegar o dia em que tudo o que você dissese seria poesia pop? Pois a poesia subiu ao palco e brilhou. Em parte porque se transformou em canção. Também porque, repito, a ambientação sonora de Eugênio Fim estava excelente. Mas se tivesse tudo isso e a poesia fosse ruim … Bom, eu iria falar que não daria certo, mas me lembrei do tchas, tchus e se eu te pego da vida, então deixa pra lá.
Poesia crua, poesia dura
Quando cheguei próximo ao palco, Leprevost e cia cantavam “O medo tem cu e quem tem cu tem medo” (não, calma, não vou dizer que este é um grande verso), música que faz referência à violência e ao medo diário que nos assombram. Ao final da música, uma homenagem a Silvia Patzsch, artista e produtora que foi baleada em um assalto em Curitiba há poucos dias e se recupera em uma cama de hospital (saúde e força para ela).
Leprevost faz poesia urbana profana insana sacana que tem tudo a ver com palco. E se você ficou com a impressão, pela música acima, de que é apenas apelação, engana-se, também tem apelação, mas tem inteligência e sensibilidade em doses bem maiores.
Mesmo alguns que acreditam que nunca escutaram nada de Luiz Felipe Leprevost, é apenas porque não prestaram atenção no nome do autor de algumas das músicas da Banda Mais Bonita da Cidade, nem das de outros músicos de Curitiba que já chegaram ao disco.
Poeta em disco
E agora, outra boa notícia, Leprevost prepara seu primeiro disco “solo” (coloquei entre aspas porque ele é um cara gregário e que parece nunca estar solo), com produção do mesmo Eugênio Fim. Já tem algumas coisas rolando antecipadamente na internet, ainda sem o tratamento final, mas que já te darão uma amostra do que virá por aí.
Pois se você perdeu ou não se deu conta do que estava acontecendo na Boca Maldita neste sábado dentro da Virada Cultural, a aclamação do novo (cada vez que escrevi a palavra “novo” aqui, fiquei com receio, pois ele vem há anos conquistando espaço com muito trabalho) poeta pop de Curitiba Luiz Felipe Leprevost, fique com algumas músicas dele:
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