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Made in China e o Careqa pop
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Da coluna Acordes Locais, publicada às quartas-feiras, no Caderno G da Gazeta do Povo:

Edson Kumasaka / Divulgação
Carlos Careqa e Marcio Nigro: um disco de amor à canção

Made in China, o novo e nono disco de Carlos Careqa (contando com o EP Ao Vivo na Grande Garagem que Grava), era para ser um trabalho rápido, quase confessional, em que o autor falasse sobre o criar, suas alegrias e decepções com a música. Vinha na sequência do intimista Alma Boa de Lugar Nenhum, em que toda a instrumentação era feita só com piano.

O catarinense, que se formou musicalmente em Curitiba e mora em São Paulo, convidou o produtor Marcio Nigro para vestir sonoramente suas composições. Fez uma pré-produção e uma primeira gravação dentro de sua própria casa, colocando ali suas intenções musicais. Aí era só passar para Nigro completar. Pronto, o atraso estava decretado.

Nigro pegou as ideias pré-gravadas e foi mexendo, mexendo, e mexeu, e mais, e só parou depois de um ano de trabalho, muito trabalho. Tocou violão de aço, violão de nylon, baixo, guitarra, teclados, fez samplers e programação midi em quase todas as faixas. Também pôs ele mesmo algumas vozes adicionais. Além dos dois, participou das gravações apenas o baterista Thiago “Big” Rabello.

Quase todas as músicas foram compostas unicamente pelo autor, com exceção de “O Q Cê Tem na Cabeça”, feita sobre poesia de Marcelo Quintanilha; e “Botão de Futebol”, parceria com Adriano Sátiro.

Um disco de amor à canção, de continuidade e resistência. São 14 belas canções, que começam com uma à capela, “Calma Alma”, com Careqa dobrando vozes e mostrando que está cantando muito bem. Ela puxa uma série de composições existencialistas, intimistas, e autoreferentes.

O autor pensa sobre ele e a música, criando algumas canções que poderiam ser chamadas de “meta-lítero-musicais”:

“Calma alma, que um dia a gente voa e todos vão bater palma”, ele canta em “Calma Alma”. “Existir ainda vai levar os meus trocados”, diz a letra de “Existir”. “Ainda atravesso esse meu jeito de agonizar”, em “Crise de identidade”. “Mídia, me entreguei a ti, fiz os teus caprichos”, em “Mídia”. “Vou me desorientar pelo caminho que não vejo. Não invejo nenhum verso no universo deste mar”, em “Gohan de Dois” (o título é uma brincadeira-trocadilho com baião de dois). “A sina da morte não se aprende, viver é sonho sem happy end”, em “Passarinho”, que encerra o disco.

Made in China traz também uma música que é uma tréplica de uma conversação musical com Chico Buarque. Vamos explicar desde o começo.

No CD anterior, Alma Boa de Lugar Nenhum, de 2011, Careqa compôs “Minha Música”, bela canção que no registro do disco teve a participação especial de Chico Buarque. Depois disso, veio o Chico, também em 2011, que trazia a canção “Rubato”, que contava a história de alguém que poderia ter a música que fazia roubada e falava com uma mulher, que mudava de nome no decorrer da letra. Essa “Rubato”, segundo o próprio Chico, foi inspirada na “Minha Música”, que ele havia gravado com Careqa.

Agora, Careqa faz a tréplica com a faixa “Ladro”, que remete a algumas situações das duas músicas anteriores, além de também fazer referência à clássica “Teresinha”, e cita os nomes de mulheres usados por Chico em “Rubato”. Um debate musical muito agradável e criativo.

A canção título, “Made in China”, mais do que uma crítica à “chinalização” dos produtos, reflete sobre a globalização. “O Macintosh tem sangue chinês/ o meu casaco um peruano fez/ e a bicicleta ergométrica, foi um cigano japonês/ …/ Tudo é Made in China/ Tudo é medicina e não vai melhorar/…/ Tudo parece perfeito/ mas o meu prefeito/ não quer trabalhar.”

Este é talvez o disco mais bem produzido de Careqa, não no sentido de capricho, que sempre houve, mas no de ter sido mais trabalhado sobre a sonoridade. Foram encontrados timbres que refletiram o espírito de cada uma das canções, e sons “imaginários”, que encorparam a sonoridade original.

É também é um dos mais trabalhos mais pop do autor. Além de confirmar Carlos Careqa em uma ótima fase como compositor e cantor, mostra Marcio Nigro como um dos grandes produtores do momento no Brasil.

O show de lançamento está marcado para o dia 22 de fevereiro, no SESC Belenzinho, em São Paulo, às 21h00. Junto com Careqa estarão Mario Manga, Marcio Nigro e Claudio Tchernev.

Made in China não teve apoio em nenhuma lei de incentivo, foi bancado pelo próprio artista e também está sendo vendido pelo próprio Careqa. Quem quiser encomendar deve fazer um depósito bancário e mandar um e-mail para o carloscareqa@gmail.com com o comprovante e o endereço para entrega. O valor é de R$ 25,00 com a postagem. Os dados para o depósito são: Banco do Brasil – agência 1514-8 – conta corrente 5440-2, em nome de TGPA Ltda. – CNPJ 01.984.482/0001-24. Vai ser uma boa compra.

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