Mulherinhas de Curitiba, correi. Acaba de sair mais um livro de vampiro.
Amantes da cidade-modelo, correi. Acaba de sair um livro com fotos de Curitiba
Arquitetos, correi. Acaba de sair um livro com detalhes especiais de uma singular arquitetura curitibana.
Ah, mas não é nenhum livro da Stephany Meyer. Também não é um livro de cartões postais. Muito menos uma obra técnica sobre arquitetura, ou outro bom livro de Jaime Lerner. Mas é livro com texto de vampiro e fotos de locais especiais de Curitiba.
O nome do livro é “A eterna solidão do vampiro” e trata-se de uma interpretação (quase que escrevi imagética, imagine) em fotografias, de trechos da obra de Dalton Trevisan (sim, o vampiro de Curitiba, vá, não diga que não sabia).
A literatura transfigurada, reinterpretada, traduzida, transliterada em imagens. O fotógrafo é aquele que escreve com a luz, é o poeta da luz.
Qual é a Curitiba de Dalton Trevisan, ou melhor, da literatura de Dalton Trevisan? O fotógrafo Nego Miranda impôs-se o desafio de mostrá-la. Expôs esta urbe incerta que está presente na memorabilia dos personagens deste escritor que faz da cidade ela própria um personagem. Uma cidade sem tempo e sem espaço, mas com o dom da ubiquidade, que tudo sabe, vê e esconde. Um cidade que não é da fachada, mas a dos bastidores. Ao mesmo tempo íntima e distante. Difícil e dada. Despudorada senhora da casta elite exposta a Nelsinho e seu dentinho canino de ouro.
E o poeta da luz venceu o desafio. Fugiu do relato, desviou o oficialismo, driblou o cartão postal e … criou. Eis uma Curitiba imprecisa, tremida, desfocada, escura e impiedosa. Eis uma Curitiba vazia, com seres solitários, que espia por detrás da cortina, pelo buraco da fechadura. Eis uma Curitiba que sussurra palavrões em ouvidos virgens, sem tirar o palito do canto dos dentes. Eis uma Curitiba onde em cada esquina “um Raskolnikov te saúda, a mão na machadinha sob o paletó”. Eis a Curitiba, aquela que não é mais.
Nunca antes na história deste país (parece que já ouvi isso antes) vi casarem-se tão bem textos e imagens. Linguagens absolutamente diferentes. Um universo imaginário recriado pela fotografia. Mas engana-se quem pensar em uma ilustração. Não, as duas linguagens conversam e conservam-se, tão íntimas quanto independentes.
Como diz Letícia Magalhães, autora da apresentação e que selecionou os textos, a literatura de Dalton Trevisan aproxima-o de um pintor ipressionista, mas, acrescento eu, com o uso dos tons sombrios. Assim foi, para este trabalho, a fotografia de Nego Miranda. Desprendeu-se dos contornos, deu-nos um outro ângulo, um outro olhar. Por vezes, como se fôssemos o olho do Nelsinho ou da corruíra louca ou do próprio vampiro a espreitar sua presa que, também, somos nós.
Amantes de literatura, amantes de fotografia, amantes das artes e de Curitiba, correi. Acaba de sair um ótimo livro.