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No Front de Frankfurt

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Cantemos, ó bondosa musa,
a bravura dos nossos soldados,
nobres entre os nobres escolhidos,
robustos entre os robustos privilegiados,
que com a pena em punho forte
jamais desistem da batalha.

Com dedo de ouro apontados
para enfrentar os perigos e
as reviravoltas do fado adverso
e da luta insana contra as traiçoeiras
e inquietas tropas de leitores,
de ferozes críticos, de indiferentes
e de vagas estrelas da posteridade.

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Ó, musa, bondosa musa,
proteção te peço aos bravos guerreiros
que acima do vulgo que zomba se elevam
pelo poder do talento e da imaginação,
mas que se defendem e atacam apenas
com escudo precário de papel e tinta.

Ó, musa, bondosa musa,
serenai os mares e os ares
— calmaria e mansas águas, por favor —
para os que atravessam o oceano em prosa
e navegam pelo céu em poesia.

Ufanistas sem causa e para-quedas,
sem armas dos mecenas assinalados,
só com a farda de tecido inculto e belo,
singram e sangram por todos
os que aqui ficam boquiabertos e calados,

Da estirpe de Homero, do porte de Virgílio,
do ímpeto de Shakespeare e das asas de Joyce.
Abraçam o longe, apontam frases no nada
e miram versos na amplidão.

Ó, musa, bondosa musa,
um salve te peço a nós, não convocados
para com honra e orgulho
defender a pátria das letras lá longe,
além-mar, lar e bar.

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Piedade te imploraria, ó, musa,
se nos fosse dado o puro dom
da mais chorosa lamentação.
Apenas te peço, entre todas a mais bondosa,
não nos cubra já com o fino véu da mortalha
e o grosso manto da indiferença.

A pátria das letras também mora em nós
que em seu reduto erigimos a fortaleza.
Sempre prontos para a luta mais renhida
— ontem, hoje, amanhã e sempre —
a imaginação a serviço da nação.
Antes que a danação da dura bomba
do esquecimento caia sobre todos nós.

Rui Werneck de Capistrano, 15 livros
publicados no Clube de Autores.