Gols, dribles e passes desconcertantes é a resposta que eu queria para a pergunta do título deste artigo. Eu estava lá no quando Ronaldinho recebeu uma bola na entrada da área, deu um chapeuzinho em um zagueiro, driblou outro com um toque oportunista e chutou a bola entre o goleiro e a trave. Foi o primeiro gol do gaúcho com a camisa da seleção brasileira. Era a Copa América do Paraguai, em 1999, e o técnico era Wanderley Luxemburgo, o mesmo que vai recepcionar o jogador agora no Flamengo. Eu trabalhava como repórter e cobria a seleção brasileira para a Folha de Londrina. Mas o Ronaldinho que volta agora ao Brasil pouco se parece com aquele garoto que começava a ser chamado de craque de bola.
Qual será o Ronaldinho que retorna, 12 anos depois? O que ele veio fazer no Brasil?
Até ele entrar em campo, essa pergunta continuará no ar e mesmo o mais inflamado flamenguista deve estar com uma pontinha de dúvida sobre o futebol do rapaz.
Que o gaúcho sabe jogar, ninguém duvida, mas ele ainda estaria com vontade de jogar? Ainda estaria com tesão de entrar em campo e enfrentar os zagueiros botinudos e os árbitros condenscendentes? Teria paciência para encarar concentrações, viagens e torcedores irracionais? Teria espírito de equipe e abnegação de atleta para deixar de lado as festas constantes para as quais será exigida a sua presença. Teria ele força de vontade para dizer não aos inúmeros amigos (muy amigos) de ocasião sempre com uma proposta mais legal e festiva do que simplesmente jogar futebol?
O retorno começou mal. O leilão promovido pelo irmão Assis com os clubes locais foi constrangedor e aético. O que fizeram com o Grêmio não se faz (a não ser que a história não seja exatamente esta e que o clube tenha contado só um lado). É claro que um profissional deve ter liberdade para escolher e trabalhar na empresa que fizer o melhor convite. Mas prometer e não cumprir, dar a palavra e depois voltar atrás não é atitude de bom profissional.
O leilão, as promessas não cumpridas, a impressão de que o jogador escolheu o Rio por casua mais das baladas do que pela proposta de trabalho, tudo isso deixa uma mancha no retorno de Ronaldinho. A única maneira de limpar é fazer aquilo que ele sempre soube fazer: jogar futebol muito bem. Resta saber se ele ainda continua sendo um atleta, um jogador de futebol que se diverte exercendo a profissão, ou se prefere se divertir longe do campo.
O que Ronaldinho veio fazer no Brasil? Por enquanto ainda tenho muitas dúvidas se conseguirei vibrar e ver de novo em campo pelo menos alguém que lembre aquele moleque que vi no Paraguai.
Em tempo – Gosto de ver a volta de bons jogadores ao Brasil. Desde que eles não sejam uma decepção.
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