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O som e a matemática de Umuarama chegam ao Grammy com Nevilton
| Foto:

A banda Nevilton foi indicada como finalista do Grammy Latino. Mais informações sobre o prêmio, vocês podem ler nesta reportagem de Tatiane Salvatico, da Gazeta de Maringá.

O vídeo da banda que foi escolhido tem uma história bem interessante. Por isso republico abaixo um post que fiz sobre ele em abril deste ano. E junto estão o próprio vídeo e mais o making of que revela como ele foi feito.

Vai lá:

Rafael Avancini
Atriz com máscara de Nevilton em making of da gravação do clipe

O power trio Nevilton, comandado pelo vocalista que emprestou seu nome diferente à banda, acaba de lançar um videoclipe muito louco. Vocês poderão saber a história dele na versão do diretor Edson Oda logo ali abaixo.

O clipe é sobre a música “Tempos de Maracujá”. Uma reflexão sobre o tempo, o desgaste, e um sonho estranho. Sobram cicatrizes e lembranças e ele nunca mais será o mesmo.

Música boa e clipe bem legal que, agora, o Oda conta como criou, planejou e se descabelou lembrando aulas de matemática para concluir.

O Clipe de “Tempos de Maracujá” na versão do diretor:

Tudo começou há quase dois anos, quando sentei com o Nevilton e o Lobão para contar a ideia do clipe para o Tempos de Maracujá. Era o segundo clipe que eu criava. Sendo que a banda do meu primeiro se desmaterializou pouco tempo depois de eu entregar o vídeo.

Traumas à parte, queria fazer desse projeto algo diferente. A intenção era criar um clipe quase que matemático para a bela música da banda. Para ilustrar tal ideia apresentei uma série de filmagens aceleradas de mim mesmo, coladas toscamente num Final Cut. Com isso tentava convencê-los que aquilo iria virar uma contagem regressiva de relógio digital, com números perfeitos. Era um vídeo com três de mim (ridiculamente vestidos de verde e abraçados a travesseiros da mesma cor), ridiculamente deitados no chão e fazendo posições ridículas que lembravam números em contagem regressiva. Basicamente ridículo.

Os músicos olharam bem pra mim e antes que eu pudesse me desculpar já me responderam “vamos nessa!” Foi aí que eu pensei: “estamos perdidos.”

Começamos os testes.

Primeiro definimos a duração de cada segundo desse cronômetro humano.
Analisando a batida da música, a cada 14 segundos tínhamos aproximadamente 10 tempos. (Ou seja, 1 Tempo=1,4 segundo)
Assim, se a música tinha 4 minutos (240 segundos) ela teria uns 170 tempos nessa proporção. O que nos levou aos 2:20 iniciais.

Paralelamente começamos a trabalhar nas coreografias dos atores que provisoriamente éramos nós mesmos. Tínhamos que definir quais seriam as melhores posições para representar cada número, quanto tempo o ator ficaria fixo naquela posição e quanto tempo levaria para ele mudar para o próximo número.

Nos testes vimos que o ator demorava 7 vezes mais que o tempo normal para fazer tudo isso (se fixar no número e mudar). Ou seja, se nosso 1 Tempo equivalia a 1,4 segundo, isso significava que precisávamos de 9,8 segundos (7×1,4) para toda transição (4 segundos para firmar o número e o restante para a troca).
Como solução decidimos filmar tudo em 30 minutos de coreografia mais lenta e depois acelerar 7 vezes para conseguir os 4 minutos do clipe.

30 minutos…

A intenção, claro, era sincronizar todas as variações da música com coreografias específicas para cada variação do som. O problema, no entanto, era sincronizar a música de 4 minutos com essa filmagem 7 vezesmais lenta de 30 minutos. Pra isso tentamos reduzir a velocidade da canção 7 vezes e tocar na filmagem. Mas isso só gerou um som irreconhecível do capeta.

A solução foi gravar um metrônomo que dividia a nossa unidade desacelerada de tempo (9,8s) em 7 tempos. Um “tac, tac, tac, tac, tac, tac, tic” que nos orientaria quando as trocas de números deveriam ser feitas e quando deveriam começar e acabar as coreografias ao redor dos números.
E quando esses 7 tempos de tic e tac fossem acelerados 7 vezes, surgiriam tempos de 1,4s, o que faria tudo casar perfeitamente com nossa música em tempo normal.

Por fim, para nos guiar melhor na direção, todo o roteiro não seria escrito em papel, mas num vídeo de 30 minutos, ao som das 7 batidas incessantes a cada 9,8 segundos, que nos indicavam toda as transições durante a filmagem.

Pronto.

Feita toda essa matemática, agora só faltava a matemática mais complicada de todas.

Como conseguir pessoas, móveis, tecidos, equipe, objetos, figurinos, atores, luzes, sem ter uma verba, produtora ou patrocínio?

É, devíamos ter pensado nisso antes.

Mas no final acho que essa foi a parte mais interessante do projeto: essa nossa matemática sem lógica de reunir tanta gente que nem se conhecia pra fazer um clipe nascer do zero, do nada. (0 x 1000 ≠ 0)

Fica aqui nossa gratidão para cada pessoa que teve a vontade/paciência/saco/bondade/ compromisso para participar desse projeto. Um projeto de horário de almoço, de fim de semana, de feriado, de período depois do expediente, de domingo de manhã pós balada, de todos aqueles tempos livres que a gente investiu nesses quase dois anos.

Bom, espero que vocês gostem de toda essa matemática. Até porque foi bem mais instrutiva que qualquer cartela de Kumon que eu tenha feito.

Agora o making of:

Agora o clipe oficial:

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