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“Se não tem vídeo, não existe”. Foi pensando assim que Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz, casal que forma o grupo Música de Ruiz, depois da produção e união de seis anos, três discos e dois filhos decidiram gravar um DVD. A sociedade visual, acostumada a passar boa parte da vida em frente a uma tela assim o exigia. Assim, o terceiro e bom disco São Sons, agora também é imagem. O DVD, acompanhado do CD, foi lançado oficialmente em Curitiba na sexta-feira passada.

O vídeo foi gravado ao vivo em agosto de 2012 na capital paranaense, durante um show no Teatro da Faculdade de Artes do Paraná, com incentivo do mecenato subsidiado da Fundação Cultural de Curitiba. Além do casal, a banda da apresentação foi completada por Dú Gomide (guitarra e voz), Érico Viensci (baixo e voz), Alonso Figueroa (acordeon e teclados) e Denis Mariano (bateria), além das participações especiais de Kléber Albuquerque e Bernardo Bravo.

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As imagens em preto e branco marcam uma estética de intimidade – não dá para falar em intimista, pois há belos rocks extrovertidos no espetáculo – de todo o grupo, mas principalmente do casal. As músicas se espalham em temáticas que vão desde ansiedade da separação até a indústria cultural atual. Com uma base instrumental sólida e criativa, as canções desfilam letras apuradas e bem-acabadas, que sobrevivem sem acompanhamento musical, algo um tanto raro nos dias de hoje.

O Música de Ruiz e o espetáculo São Sons ainda têm shows marcados para Campinas, Santos, Londrina, Rio de Janeiro, Goiânia, Belo Horizonte e na Espanha. Mas a dupla está também perto de se separar temporariamente.

Ruiz e Leminski

Estrela Leminski está com a atenção dividida com um outro projeto, registrar em disco as músicas de seu pai, o compositor e escritor Paulo Leminski (1944-1989), que acaba de ter lançado o livro Toda Poesia (Companhia das Letras, R$ 45) que, como o nome diz, contém toda a produção do poeta mais aclamado de Curitiba.

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Os discos não serão de poemas musicados. São as músicas e letras em parcerias feitas por Leminski com vários autores. O projeto prevê a gravação de dois álbuns com aproximadamente 30 músicas no total, metade delas inéditas.

As gravações vão começar em breve, com produção de Fred Teixeira e as participações especiais já confimadas de Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro e Zélia Duncan. Outras devem vir, pois vários artistas já pediram para participar, mas dependem do acerto de agendas.

Além disso, outro projeto, já aprovado pela Lei Rouanet, prevê um songbook com todas as letras feitas por Leminski, com registros de gravações caseiras incluídas. Mas não para por aí. A irmã de Estrela, Áurea, já tem praticamente pronto um DVD-ROM com todo o acervo digital do escritor, que deve ser lançado em abril.

Por outro lado, Téo Ruiz deve lançar um livro sobre a produção musical, tendo como base de pesquisa a autoprodução dos músicos de Curitiba. É uma extensão da sua dissertação de mestrado sobre a indústria cultural, cursado na Universidad de Valladolid, na Espanha.

Música de Leminski

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Aproveitando o lançamento do livro Toda Poesia, já estão marcados dois shows só com músicas de Paulo Leminski. O primeiro será em São Paulo, no dia 8 de abril, com participação do escritor, compositor e pesquisador Zé Miguel Wisnik. Em Curitiba, está marcada uma apresentação na Livraria Cultura no dia 20 de abril.

Por enquanto, o repertório desses shows – ainda pode mudar algo durante os ensaios – terá as seguintes músicas: “Luzes”, “Polonaises”, “Mudança de Estação”, “Filho de Santa Maria”, “Não Mexa”, “Verdura”, “Nóis Fumo”, “Diversonagens”, “Dor Elegante” e “Valeu”.

Entrevista

“É como abrir um álbum de família”
Estrela Leminski, cantora

Estrela Leminski assumiu a missão de mexer no baú com a produção artística do pai, Paulo Leminski, e tirar de lá o acervo musical criado pelo poeta curitibano morto em 1989. O objetivo, nas palavras dela, é colocar as canções na “boca do povo”. Segue a entrevista de Estrela à Gazeta do Povo:

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Qual é a sensação de remexer no baú de músicas do teu pai?

Eu tenho a sensação de terminar um trabalho que ele não fez, o de concentrar o seu repertório e se colocar como compositor. Ele tinha muitos amigos cantores e intérpretes [Caetano Veloso, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Gilberto Gil, Paulinho Boca de Cantor]. Ele contava com o fato de eles gravarem suas coisas. O que por um lado não o colocou em evidência como compositor [aliás, ele dizia que não tinha tempo pra indústria cultural, porque tinha uma obra pra construir], mas por outro lado, deixou uma pilha de fitas gravadas. Quando eu ouço essas fitas é como abrir um álbum antigo de família, ouvi demais tudo aquilo, porque minha infância foi o auge da produção musical dele. Na minha cabeça, ele era tão compositor quanto escritor. Porém, em virtude de mil acontecimentos, esse é um lado que as pessoas desconhecem. Além disso, ele tinha muitas parcerias. Em Curitiba, em especial com o pessoal da Blindagem e com o Marinho Galera. Ele era múltiplo em tudo que fazia, então já transitava entre vários gêneros musicais e sabia bem o que dar de letra pra cada parceiro. E pra ele letra era letra, poema era poema.

Mexer neste baú te influencia? Mexe com você pessoalmente e musicalmente?

É um material que me toca muito. Por um lado, me dá muita vontade de compor, mas me dá vontade de cantar e uma ansiedade de colocar isso na boca do povo logo, e pra isso tenho pressa de terminar os CDs e começar a fazer os shows logo. É um repertório riquíssimo, canções muito boas e muito atuais. Isso me impressiona, a habilidade e facilidade que ele tinha de fazer coisas tão musicais com tão pouco conhecimento de teoria musical [quase nenhuma, ele foi autodidata no violão]. Mas uma coisa me preocupa, o fato de eu ser compositora também e ele não ter se colocado assim tá causando uma baita confusão. Por mais que eu fale e explique, sempre sai por aí que eu vou musicar poemas dele. Não existe isso! Meu sentido é realmente trazer a público as que são letra e música dele [mais de 50 e a maioria inédita], além de reunir algumas parcerias famosas, que muita gente não faz ideia que são dele, como “Luzes”, “Filho de Santa Maria”, “Dor Elegante”, “Promessas Demais”, e “Verdura”, porque acabaram ficando famosas pela interpretação de outras pessoas e marcaram a trajetória delas [gravadas por Arnaldo Antunes, Zizi Possi, Itamar Assumpção, Zélia Duncan, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, respectivamente]. Isso dispersou sua obra musical.

Você faz uma distinção entre o Leminski (aquele cara que era escritor e compositor famoso) e o teu pai?

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Sim, tenho que separar bem as coisas. Embora seja difícil, porque ele mesmo misturou vida e obra, e fazia da rotina dele um criar constante. Mas, na hora de trabalhar, é mais que isso, tenho que me dividir em três, minhas memórias afetivas, o escritor que admiro e o cara de quem administro a obra [junto com a minha mãe e irmã]. Isso é um trabalho a parte, chato, mas necessário. Tem muita gente sem noção nesse mundo, em especial na internet. Já passei por cada uma! Como um cara que mudava uma palavra de cada poema e postava dizendo que eram poemas dele “intertextuais”. Ou gente que vem falar da morte dele como se eu não tivesse sentimento nenhum. Esquecem que eu também tô viva. Não sei o que passa na cabeça das pessoas. Parece que tá todo mundo mais sensível com o coletivo e cada vez mais cruel e frio no trato pessoal. Além disso, como meus pais são artistas conhecidos, quando alguém os critica é difícil separar as coisas. Quem gostaria que outras pessoas fiquem falando mal de seus pais por aí? Do ponto de vista musical, também separo, porque esse poeta famoso gerou uma enxurrada de parcerias póstumas, que nesse momento não são meu foco. Não quero que, de novo, o poeta ofusque o compositor.