Da coluna Acordes Locais, publicada nesta quarta-feira (2) na Gazerta do Povo:
Durante o período em que andou “sumido”, pesquisando o folclore brasileiro, de 1905 a 1912, o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos morou em Paranaguá. A jornalista Rosy de Sá Cardoso, colega aqui da Gazeta do Povo, pesquisou o assunto e publicou um artigo na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, na edição 57, de 2006. No texto, apresenta o programa do que teria sido o primeiro concerto regido pelo maestro carioca em toda a carreira, justamente em Paranaguá. No artigo, uma foto do jovem Villa, de bigode e cavanhaque, que teria sido feita em Paranaguá. Nesta época, o maestro teria dito a João Ghignone, como cita Rosy: “Eu gosto mesmo é de música. Estou estudando muito e ainda vou tocar no Municipal do Rio de Janeiro”.
O jornalista Toninho Vaz, autor da biografia de Paulo Leminski (O Bandido Que Sabia Latim, publicada pela editora Record, em 2001 2001) está levantando uma biografia do maestro e revelou, na revista Bravo de novembro, detalhes da passagem de Villa-Lobos por Paranaguá. Toninho e Rosy conversaram por telefone e trocaram informações, mas há alguma divergência entre os dois.
O concerto dirigindo uma camerata de 17 músicos – chamada Estudantina Paranaguaense –, aconteceu no dia 26 de abril de 1908, no Theatro Santa Celina, já demolido. Diz a revista, baseada na pesquisa de Vaz: “Durante a exibição, fez solos de violoncelo e mostrou uma de suas criações, ‘Recouli’. O compositor se fixou em Paranaguá depois de abandonar o Rio por causa das perseguições impostas pela polícia às rodas de choro. De início, refugiou-se em Niterói, na região de Gragoatá, mas acabou embarcando num navio rumo ao litoral paranaense. Lá trabalhou numa fábrica de banana glacê e apaixonou-se pela filha do coronel Elísio Pereira. O pai da moça lhe deu trabalho em sua empresa de navegação, exportação e importação, onde o músico exerceu por um ano e meio a função de caixeiro-viajante” .
Rosy contesta que tenha havido paixão pela filha do coronel. Segundo ela, houve apenas trabalho. No estudo dela, fica claro que muitas moças parnanguaras passaram pelas mãos de Villa-Lobos, mas para aprender bandolim, uma moda na época, como relata Elfrida Marcondes Lobo no livro Retalhos de uma Vida, citada por Rosy. O maestro teria se tornado, na passagem por Paranaguá, amigo do caixeiro-viajante e músico amador Randolpho Veiga, avô do jornalista Luiz Geraldo Mazza.
Ainda segundo o jornalista e escritor Toninho Vaz, em depoimento à jornalista Paula Nadal, da Bravo, “na estada em Paranaguá, Villa-Lobos teria namorado a filha de um homem chamado Bendazesky, proprietário de uma fábrica de fósforos de duas cabeças, algo absolutamente insólito, ainda que verossímil. Especulações à parte, seu retorno ao Rio ocorreu assim que o pai de uma de suas namoradas o expulsou de Paranaguá, sob o argumento de que o regente não seria um bom partido”.
Homenagem em Curitiba
Há 28 anos existe em Curitiba o Conservatório de Música Villa-Lobos. Já formou centenas de alunos e, dentre os que passaram por ali, está o violonista e compositor Guinga, reconhecido internacionalmente. Além dele, destacam-se também o violonista Jodacil Damaceno e o violonista flamenco David Tavares.
Neste 2009, completa-se 50 anos da morte do compositor Heitor Villa-Lobos e o Conservatório fará suas homenagens no espetáculo Alma Brasileira – 50 anos sem Villa-Lobos, que será realizado no dia 11 de dezembro, às 20h30, no Auditório Salvador de Ferrante, o Guairinha (ingressos a R$ 10 e R$ 5). O espetáculo mistura teatro e canções, sob a direção cênica de Andrei Moscheto e a direção musical de André Prodóssimo.
Na apresentação do programa, uma frase em que Villas-Lobos explica que a sua pesquisa, iniciada nos tempos em que ficou “sumido” e passou por Paranaguá, formaram a sua música, que junta a influência clássica-erudita e o folclore brasileiro: “Sim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Transporto toda a exuberância tropical das nossas florestas e dos nossos céus para tudo o que escrevo”.
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