A realização de mudanças visando novas oportunidades e a valorização da família não são apenas elementos essenciais da cultura cigana, mas também podem ser vistos no mundo da bola.
Nascido em Assis, cidade do interior de São Paulo, o atacante Laércio Ramos, do Iguaçu, veio de família humilde e não teve vida fácil durante a infância. Ele morava com a mãe Valdecleide e mais seis irmãos. A mãe era cozinheira e levantava de madrugada para trabalhar e sustentar os filhos. Separada, ela assumiu a função de mãe e pai na família.
Aos 13 anos, Laércio tomou uma decisão e saiu de casa para tentar a vida como jogador de futebol. A partir desta nova etapa entrou em ação o cigano da bola.
Laércio iniciou numa escolinha do bairro em Assis. Logo em seguida surgiram os primeiros testes em clubes do Paraná e Minas Gerais. Começou no (PSTC) de Londrina e depois foi para o Cruzeiro. A passagem e os gastos eram bancados pelo dono da escolinha onde deus os primeiros passos no mundo da bola.
Em 1999, veio para Curitiba tentar a sorte no juvenil do Paraná Clube. Passou no teste, mas bateu a saudade da família e voltou para a terra natal. Dois anos depois, recebeu um convite do gerente de futebol do Coritiba Oscar Yamato e foi fazer uma avaliação nas categorias de base da equipe alviverde. Não deixou a segunda oportunidade escapar e apresentou seu cartão de visita ao clube chegando ao profissional em 2004.
Decisivo e com o faro de gol afinado, a estreia com a camisa do Coritiba foi num clássico Atletiba no Couto Pereira. Deu o passe certeiro para o gol de empate de Capixaba. O primeiro gol de Laércio no Coxa aconteceu durante uma partida da Taça Libertadores da América contra o Sporting Cristal em Lima no Peru.
O cigano da bola teve passagens por clubes da Suíça, Finlândia e Áustria. Laércio teve uma desilusão com o futebol em 2010. Recebeu uma proposta para jogar no Vietnã. Enfrentou 3 dias de viagens de avião entre conexões até chegar ao destino. Ficou por um mês fazendo avaliação e depois descobriu que a história era bem diferente, pois o limite de estrangeiros era de três atletas por jogo e desta forma não teria espaço para atuar nos clubes.
Na sequência, o atacante retornou ao Brasil e passou por várias equipes. Foram 13 no total. O último clube no profissional foi Fast Clube de Manaus no primeiro semestre deste ano. Levado pelo treinador Cláudio Marques, o jogador teve uma passagem rápida e conturbada. Ele jogou apenas uma partida e foi expulso, saindo do clube em seguida.
Sua carreira no amador está sendo vitoriosa. Ano passado, foi campeão com o Iguaçu e marcou o gol do título, ajudando a tirar o time da fila após 20 anos sem conquistas na Suburbana.
No último sábado (20), o cigano da bola balançou a rede e marcou o gol que garantiu a vitória sobre o Trieste no clássico dos Italianos, em Santa Felicidade. Ele divide a artilharia da competição com Dinda, do Quitéria, com 5 gols.
“Foi uma infância triste e complicada. As dificuldades chegaram a ponto de não ter o que comer na mesa. Tive que sair de casa aos 13 anos para arriscar na carreira longe da família”, concluiu o jogador em tom emocionado.
A experiência de vida de Laércio demonstra que ao se fazer aquilo que se gosta, sem perder as suas raízes, pode-se superar momentos difíceis da vida.