A depressão, doença do século XXI, parece ter chegado aos espaços corporativos / Foto: Getty Images| Foto:

Há alguns dias eu estava conversando com um conhecido que trabalha em uma central de atendimento ao consumidor de uma empresa. No meio da conversa, acabamos entrando no assunto de depressão, e ele me contou que dos 60 funcionários da central de telemarketing, 8 estavam tomando antidepressivos. O número, que não parece alto, revela, no entanto, que quase 14% dos colaboradores daquela empresa fazem tratamento contra a doença – o que é uma porcentagem alarmante. Se pensarmos que existem pessoas lá que podem ter a doença sem se dar conta e sem se tratar, o número pode ser ainda maior. Depois da conversa pensei no assunto e me questionei: a doença do século XXI invadiu os espaços corporativos?

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A depressão em números

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De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 120 milhões de pessoas sofrem de depressão ao redor do mundo. Enquanto isso, no Brasil esse número chega a 17 milhões. Somente em 2013, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) registrou 61.044 afastamentos de profissionais de seus empregos por conta apenas da depressão.

Negligência e falta de informação

O fato é que a depressão é uma doença muito negligenciada. Muitas pessoas acusam o doente de estar fazendo drama, quando, na verdade, a depressão é uma patologia que necessita de tratamento como qualquer outra. Dizer para um paciente depressivo que ele não se esforça para ficar feliz é o mesmo que dizer para uma pessoa que tem um problema de vista que ela não se esforça para enxergar bem. Infelizmente este é um comportamento muito recorrente entre as pessoas que convivem com depressivos, e isso piora e muito a situação do doente.

Entretanto, boa parte dos comportamentos equivocados com relação à doença é devida à falta de informação sobre a mesma. Até mesmo os termos relacionados à doença são usados de forma incorreta, como “deprimido” e “deprimente”. Além do mais, a depressão possui níveis, e muitas pessoas não se atentam para o fato de que um caso moderado não incapacita totalmente o paciente. E é daí que surgem comentários como “é besteira” ou, pior, “isso logo vai passar”, que dá a impressão de que o tratamento é desnecessário.

Depressão e trabalho

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Tanto a depressão quanto o transtorno de ansiedade vêm sendo encarados como problemas relacionados ao trabalho. E a incidência da doença costuma ser maior em profissionais que lidam com o público. Outro fator que agrava a situação psicológica dos trabalhadores é uma gestão mal estruturada, que não incentiva o bom trabalho, que dificulta a resolução das atividades ou que cobra mais do que o profissional tem condições de oferecer. A sobrecarga ou a sensação de incapacidade de resolver problemas ou concluir projetos afeta a autoestima do profissional e sua satisfação com o trabalho, sensações que funcionam como catalisadores da doença.

Pensando na situação que falei no começo deste artigo, vem o questionamento: o que uma organização pode fazer para evitar que seus colaboradores desenvolvam a doença?

Essa é uma preocupação que tem aumentado principalmente nas empresas de grande porte, e que precisa se estender para as de médio e pequeno porte também. Muitas organizações já disponibilizam acompanhamento psicológico para os funcionários, bem como pesquisas e avaliações de comportamento periódicas, a fim de diagnosticar e ajudar os colaboradores doentes a se tratarem e se recuperarem. No entanto, para além das ações de tratamento da doença, acredito que seja importante que as empresas se atentem às condições de trabalho, relacionamento interpessoal, reconhecimento e desenvolvimento dos colaboradores, incentivo ao desenvolvimento profissional, entre outros aspectos capazes de aumentar a satisfação no trabalho. Como diz o velho ditado “é melhor prevenir do que remediar”.