Desde dezembro estou morando nos Estados Unidos e percebo como é forte aqui a chamada ‘economia colaborativa’ (sharing economy). As pessoas estão cada vez mais dispostas a compartilhar o uso de bens e serviços por meio de aplicativos de celular e de plataformas de internet.
Por exemplo, estou seriamente considerando não ter um carro próprio. Além do transporte público eficiente e de boas ciclovias, empresas como a Zipcar alugam carros por hora. Os carros são espalhados pela cidade toda. A reserva é feita pelo aplicativo de celular, pelo número de horas que eu precisar. Basta usar um cartão eletrônico para abrir e ligar o carro, e dirigir. A gasolina, o seguro e a manutenção estão incluídos.
Segundo dados da Zipcar, cada carro de uso compartilhado tira outros 3 carros das ruas. O resultado é uma grande economia de recursos e eficiência ambiental. Assim como muitas pessoas que vivem aqui, acho gratificante participar desse esforço de economia.
Em 2011, os professores da Universidade de Harvard Michael E. Porter e Mark R. Kramer introduziram o conceito de ‘valor compartilhado’ (shared value). Conforme esse conceito, numa sociedade moderna, as empresas que estão mais atentas aos valores da comunidade, incorporando-os na sua estratégia corporativa, conseguem ser mais competitivas e gerar mais lucro, transformando o atual sistema econômico e o capitalismo em geral. Essa estratégia vai muito além da responsabilidade social corporativa.
O sucesso da empresa e o bem-estar da sociedade são interdependentes. Por exemplo, uma indústria de refrigerantes hoje só pode ser bem sucedida se estiver preocupada com a obesidade e com a nutrição da população e introduzindo versões de bebidas sem açúcares, sem corantes ou aditivos artificiais e com mais nutrientes. Uma empresa de produtos lácteos, da mesma forma, criando produtos sem lactose, por conta da preocupação com o grande número de pessoas que hoje têm intolerância à lactose.
Mas a economia colaborativa vai muito além disso. As pessoas se preocupam umas com outras e com a sociedade em geral. E o desenvolvimento da tecnologia digital, bases de dados, algoritmos, plataformas e redes sociais facilitaram muito a colaboração.
Em seu artigo na revista Forbes, o escritor Bernard Marr afirma que “no futuro, nós devemos ter muito menos coisas e compartilhar muito mais.” E explica que no século passado a classe média buscava possuir mais coisas. Ter mais dinheiro significava ter mais coisas. Mas à medida que a industrialização ficou mais barata, a barreira caiu e as pessoas mais pobres podem ter mais bens. Mas esse maior acesso não garantiu a prosperidade e o bem-estar.
A classe média na sociedade moderna está se preocupando muito mais com a subutilização de recursos e está disposta a compartilhar. Além do Uber e de outras empresas de compartilhamento de carros, dos patinetes elétricos e bicicletas, da Airbnb (onde as pessoas alugam seus apartamentos e casas de veraneio por temporada) e de espaços de coworking (onde vários especialistas, muitas vezes em áreas diferentes dividem o mesmo escritório) que já temos no Brasil, há muitas outras formas de economia colaborativa. Empréstimos diretos entre as pessoas, financiamento coletivo, compartilhamento de capital humano, entrega a domicilio de sobras de comida por restaurantes e muito, muito mais.
Michael Spence, professor da Universidade de Nova Iorque, cita uma recente pesquisa que revelou que os carros são usados, em média, apenas 8% do tempo. Normalmente, é o deslocamento até o trabalho e de volta. No restante do tempo o carro fica parado, ocupando um espaço precioso nos grandes centros urbanos.
Spence escreve que “o processo de exploração de recursos subutilizados liderado pela internet – sejam eles bens físicos ou recursos financeiros ou humanos – não parará e está acelerando. Os benefícios de longo prazo consistem não apenas em ganhos de eficiência e produtividade…, mas também em criação de tão necessários novos postos de trabalho que precisam de um amplo espectro de competências.”
No momento em que a automação substitui vários empregos tradicionais, a economia colaborativa cria. Além de evitar desperdícios de recursos e contribuir para a preservação do meio ambiente. Zipcar e outras empresas da economia colaborativa marcam o momento de transformação. Os empresários que querem sobreviver no futuro devem estar atentos a essas tendências e preparar-se para incorporá-las em seus modelos de negócio.
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