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Manifestação em frente à Casa Branca em maio de 2011.  Foto: REUTERS/Jason Reed
Manifestação em frente à Casa Branca em maio de 2011. Foto: REUTERS/Jason Reed| Foto:

“O otimismo é essencial para as realizações e também é base para a coragem e para o verdadeiro progresso”, escreveu o filósofo americano Nicholas Murray Butler, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1931. Este ano, que começou com grande otimismo nos mercados mundiais, termina com um pessimismo generalizado. Para mudar os rumos, o mundo vai precisar de criatividade.

A agência Bloomberg avalia que em 2019 o mundo “sentirá as dores” da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos este ano. E os mercados financeiros já começaram a sentir. A Bloomberg cita dados do Bank of America Merrill Lynch, que estima que, neste ano, as medidas protecionistas anunciadas contribuíram para uma queda líquida de 6% do índice do mercado de ações dos Estados Unidos S&P 500 (que mede o desempenho das ações de 500 grandes empresas listadas nas bolsas americanas). Já o mercado de ações da China perdeu US$2 trilhões em valor em 2018 e continua com a tendência de queda.

A falta de otimismo levou o Fed, banco central dos Estados Unidos, a seguir com o aumento de juros, indo contra os sinais que havia dado anteriormente. Analistas estimam que haverá pelo menos dois acréscimos em 2019. O mercado americano e os mercados emergentes já sentiram o impacto negativo dessas medidas.

“Desaceleração sincronizada” das economias mundiais

Com base nas previsões da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a Bloomberg aponta para a tendência de “desaceleração sincronizada” das economias mundiais. A economia mundial, que cresceu 3,6% em 2017 e deve terminar 2018 com expansão de 3,7%, deve ter um resultado de 3,5% em 2019 e repeti-lo em 2020.

Os Estados Unidos, que cresceram 2,2% no ano passado, devem finalizar este ano com um desempenho positivo de 2,9% (devido principalmente aos cortes de impostos), mas devem ter resultados piores em 2019 (2,7%) e em 2020 (2,1%).

A Zona do Euro, que está sofrendo com a possibilidade da saída do Reino Unido (prevista para março de 2019), bem como com a guerra comercial dos Estados Unidos (considerando as altas tarifas sobre o aço e o alumínio já aplicadas e as tarifas sobre automóveis, que podem sofrer aumento no ano que vem), deve desacelerar nos próximos dois anos. Um Brexit sem acordo sobre o período de transição teria um impacto gravíssimo não apenas na Zona do Euro, mas para a economia mundial como um todo.

A China e o Japão também devem desacelerar em 2019-2020 em consequência da guerra comercial. A Índia, mesmo desaquecendo, deve continuar crescendo a 7,5% por ano no mesmo período. Os analistas estão prevendo que os investimentos estrangeiros diretos na Índia em 2018 ultrapassem os na China pela primeira vez em 20 anos.

A incerteza quanto ao agravamento da guerra comercial, com a possibilidade da imposição de novas tarifas, gera pessimismo nos mercados, reduzindo o consumo e as previsões de lucro de empresas e, como consequência, diminuindo investimentos e prejudicando o crescimento da economia mundial. A trégua dada pelos Estados Unidos à China termina em março. Não há, entretanto, muito otimismo quanto à possibilidade de um acordo de paz entre as duas maiores economias mundiais.

No caso do Canadá e do México, nem o novo acordo, em substituição ao NAFTA, assinado sob pressões dos Estados Unidos, levou o último a retirar as tarifas sobre o aço e o alumínio.

Está cada vez mais longe o ideal de um comércio mundial aberto, justo e baseado em regras − e isso reforça a insegurança e aumenta o pessimismo nos mercados. Essa situação se torna ainda mais grave no momento, quando algumas empresas (“empresas exuberantes”, conforme a linguagem da revista The Economist) se expandiram muito nos últimos anos, ampliando excessivamente seu endividamento. O crescente endividamento amplia o risco sistêmico no mercado global.

Mudanças nos setores de tecnologia e de energia

A insegurança no ambiente de negócios também é agravada pelo aumento de violações cibernéticas e interrupções atípicas causadas por novas tecnologias. Por um lado, as empresas precisam investir cada vez mais em proteção de dados. Por outro, tentar se prevenir contra as interrupções como aquela que aconteceu no aeroporto de Gatwick, segundo maior do Reino Unido, que ficou fechado por mais de um dia por conta do aparecimento de um drone privado ilegal. O operador do drone não foi localizado pelas autoridades britânicas e a situação demonstrou vulnerabilidades do sistema global de aviação.

No setor de tecnologia, as empresas líderes se tornaram mais “poderosas, ágeis e expansivas em suas ambições do que qualquer geração de empresas antes delas”, deixando menos espaço para o desenvolvimento de startups, conforme escreve a The Economist. Esse ambiente prejudica a concorrência, essencial para o incremento da produtividade.

Além disso, a The Economist chama de “movimento tectônico” a mudança provocada pela China no mercado de tecnologia, deslocando os Estados Unidos, que até hoje mantinha a liderança global nesse área. O setor de pagamentos móveis da China já é dez vezes maior do que o americano. O comércio eletrônico já é quase o dobro do dos EUA. E o volume de capital de risco investido em startups tecnológicas, que quase não existia há 5 anos, está se aproximando do nível dos EUA.

No setor de energia também há mudanças importantes. A The Economist analisa o impacto negativo das sanções dos Estados Unidos contra o Irã, que foi o quarto maior produtor de petróleo bruto em 2017. A Arábia Saudita, provavelmente, não conseguirá suprir a falta do produto iraniano. Os Estados Unidos, onde a produção de gás de xisto está crescendo, precisaria investir mais na exploração e na logística para aumentar as exportações. A crise na Venezuela e a situação instável na Nigéria e na Líbia contribuirão para uma maior volatilidade de preços de petróleo. O aumento de preços terá um impacto negativo na economia mundial, prejudicando de forma mais grave os países mais pobres.

Preservação ambiental e temais sociais

Essa situação complicará ainda mais a implementação da agenda de preservação ambiental. Os dados divulgados pela Organização das Nações Unidas em outubro de 2018 demonstram que a implementação do Acordo de Paris sobre o Clima é urgente, levando em consideração o agravamento dos desastres naturais e das temperaturas extremas. Entretanto, aumenta o descontentamento popular quanto às medidas que os países pretendem implementar para alcançar as metas do acordo.

Os Estados Unidos, segundo maior poluidor mundial, se retiraram do acordo. Mais recentemente, na França, os protestos dos “coletes amarelos” impediram o aumento de tarifas sobre os combustíveis fosseis.

O Acordo de Paris estabelece as metas, mas o escopo de medidas dependem de cada país. A insegurança quanto à implementação do acordo coloca ele em risco e a imprevisibilidade impacta negativamente o ambiente de negócios.

Mais um exemplo recente da contestação de acordos internacionais é a retirada do Japão da Comissão Internacional da Baleia e a retomada da pesca de baleias a partir de julho de 2019. A The Economist relata que a comissão proibiu a pesca comercial de baleias há mais de 30 anos, quando várias espécies estavam quase extintas.

O Brasil, que sempre foi protagonista em questões ambientais, infelizmente, não escapou dessa tendência. O novo governo anunciou a possibilidade de renegociação de alguns compromissos internacionais assumidos na área de preservação ambiental.

Para fomentar a atividade econômica, é preciso criatividade para reverter essa tendência pessimista e de imprevisibilidade. E há, sim, notícias a serem comemoradas: vários países têm anunciado medidas de abertura comercial: a China segue reduzindo suas tarifas de importação unilateralmente; no dia 30 de dezembro de 2018, entra em vigor a Parceria Transpacíficica, introduzindo o livre comércio entre os primeiros 6 países que ratificaram o acordo − Austrália, Canadá, Japão, México, Nova Zelândia e Singapura; e a partir de fevereiro de 2019 entra em vigor o acordo de livre comércio entre Japão e União Europeia.

Em paralelo, o mundo corporativo começa a abraçar causas políticas e sociais (se manifestando a favor da imigração, por exemplo) e estabelecendo suas próprias metas de implementação do Acordo de Paris na área de preservação ambiental (reduzindo o uso de embalagens de plástico, introduzindo materiais recicláveis e combatendo desperdícios).

Paul Allen, co-fundador da Microsoft, uma vez falou o seguinte: “Eu escolho o otimismo. Eu espero ser catalisador não apenas provendo recursos financeiros, mas também fomentando o senso de possibilidades: encorajando os melhores especialistas a colaborar em temas interdisciplinares, desafiando o pensamento convencional e descobrindo caminhos para solucionar os problemas mundiais mais difíceis”.

Penso que o mundo precisa escolher o otimismo, ser criativo e seguir colaborando e se unindo em torno de soluções globais, e não olhando somente para o seu próprio umbigo. Sem o otimismo e a união, o progresso ficará cada vez mais distante.

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