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Na onda dos alimentos saudáveis, água de coco está se tornando um mercado bilionário
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O imposto do açúcar que vem sendo introduzido ao redor do mundo abre oportunidades de crescimento de mercados como o da água de coco, e o Brasil está muito bem posicionado para explorá-los.

 

No mês passado, escrevi aqui na coluna sobre o índice de sustentabilidade do sistema de alimentação da população, que é composto por um tripé: (i) a sustentabilidade na produção agropecuária, (ii) o combate ao desperdício de alimentos e (iii) a nutrição e a saúde na alimentação das pessoas. Para que o sistema todo seja sustentável, é preciso que os governos e a sociedade civil se unam para implementar práticas que melhorem o desempenho nesses três pilares.

Os desafios se tornam oportunidades, uma vez que as empresas e as pessoas se preocupam cada vez mais com esses temas. Introduzir alimentos saudáveis e nutritivos pode abrir nichos de mercado bilionários e, ao mesmo tempo, melhorar a vida da população. Um dos exemplos interessantes é a água de coco, que tomamos muito aqui no Brasil, mas que o mundo ainda está conhecendo.

Jean Piaget, biólogo e um dos mais importantes pensadores do século XX, falava que “o equilíbrio é a mais profunda tendência de toda a atividade humana”. É o equilíbrio que nós sempre buscamos na nossa vida privada e o que o Estado deve procurar fazer na formulação de políticas públicas.

Um exemplo dessa busca por equilíbrio nas políticas públicas é a criação de tributos específicos para desencorajar o consumo de certos produtos não nutritivos. Embora seja uma prática bem vinda, deve ser usada com moderação para não criar ônus excessivo aos setores econômicos envolvidos, o que prejudicaria o desenvolvimento do país.

 

“Imposto do açúcar”

No próximo mês de abril, o Reino Unido e a África do Sul vão introduzir impostos sobre as bebidas que contém grandes quantidades de açúcares, procurando reduzir os elevados níveis de obesidade da população. Portugal, Índia, Arábia Saudita e Tailândia implementaram impostos semelhantes no ano passado.

A Noruega, que ainda em 1922 criou imposto sobre produtos que contém elevadas quantidades de açúcares, aumentou a alíquota em 83% em janeiro deste ano, chegando a uma taxa de cerca de US$ 4,69 por quilo de chocolate ou outros alimentos doces. A Arábia Saudita, por sua vez, introduziu imposto de 50% sobre refrigerantes e de 100% sobre bebidas energéticas.

São cerca de 30 países, ou mais de 15% dos membros das Nações Unidas, que hoje possuem impostos específicos para os doces. Vários estados dos EUA e algumas regiões da Espanha também adotaram legislação semelhante, buscando combater a obesidade e as doenças associadas ao consumo de açúcares e ao sobrepeso.

A legislação que introduz impostos específicos encontra resistência por parte da indústria de açúcar e de alimentos que contém açúcares. Muitos argumentam que a introdução de impostos por si só não resolve o problema. Variam, também, as opiniões sobre o tamanho da alíquota para que o imposto seja eficaz.

O México, por exemplo, implementou um imposto de 10% sobre a venda de bebidas que contém açúcares (com exceção do leite) em janeiro de 2014. Conforme análise do Instituto Nacional de Saúde Pública do México, após a introdução do imposto no mercado mexicano, as vendas de bebidas que contém açúcares caíram 5,5% em 2014 e 9,7% em 2015. Ao mesmo tempo, as vendas de bebidas não tributadas subiram, em média, 2,1% ao ano no mesmo período.

 

A crescente obesidade e as políticas públicas

O problema da obesidade é muito grave. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade mundial triplicou desde 1975. Em 2016, mais de 1,6 bilhão de adultos (ou 39% do total) apresentavam sobrepeso. Dessas pessoas, 650 milhões (ou 13%) eram obesas. Hoje, na maioria dos países, o sobrepeso mata mais pessoas do que a fome.  Mais grave ainda é o fato de que 41 milhões de crianças menores de 5 anos estavam com sobrepeso em 2016. No mesmo período, o mundo possuía mais de 340 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos acima do peso ou obesos.

Aqui no Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde, uma em cada cinco pessoas está acima do peso. O número de pessoas com sobrepeso passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016.

Além de impostos sobre produtos calóricos e de poucos nutrientes, os países estudam a proibição de publicidade de salgadinhos e outras comidas pouco saudáveis para crianças, além de incentivos para aumentar a produção de frutas e legumes.

Os especialistas afirmam que as políticas governamentais focadas em reduzir o consumo de alimentos com alto teor de açúcares e pouco nutritivos, que são a maior causa de ganho de peso, doenças cardiovasculares e diabetes, ajudam a diminuir os gastos governamentais com a saúde.

 

Novos produtos

As duas maiores multinacionais de refrigerantes, a Coca-Cola e a Pepsico, estão inserindo bebidas como a água de coco na sua estratégia de mercado para contrabalancear as decrescentes vendas de bebidas açucaradas. A Coca-Cola estima que o mercado estadunidense de água de coco totalizará US$ 1,5 bilhão até 2020.

Os especialistas da consultoria Technavio avaliam que, globalmente, o mercado de água de coco vai expandir dos aproximadamente US$ 2 bilhões em 2016 para mais de US$ 7 bilhões em 2021, representando um crescimento de 350% no período de 5 anos. Conforme dados da consultoria Arizton Advisory & Intelligence, em 2023, o mercado mundial deve ultrapassar US$ 8,3 bilhões.

Nas estratégias das multinacionais, a água de coco entra na categoria de “produto melhor para você” (em inglês, “better-for-you products”), saindo de um alimento de nicho para um produto da linha principal. Além de pura, a água de coco é vendida com adição de sabores e de sucos prensados a frio (esses últimos também estão crescendo muito em vendas).

A Technavio mostra que a água de coco está se inserindo no mercado como alternativa a várias bebidas gaseificadas, sucos e néctares. Por suas qualidades: poucas calorias, baixo teor de sódio e alta quantidade de potássio e eletrólitos, a água de coco está ficando cada vez mais popular.

As propriedades isotônicas e o baixo teor calórico permitem que a água de coco compita com as bebidas energéticas esportivas, por um lado, e por outro, com os refrigerantes light, que têm alto teor de sódio. Há, ainda um grande potencial na criação de versões inovadoras de bebidas, pela versatilidade da água de coco, que pode ser misturada com sucos ou adicionada de sabores.

Os consumidores em países ricos estão dispostos a pagar um prêmio adicional pela água de coco, em relação às bebidas tradicionais, por ser uma alternativa saudável, livre de sabores artificiais, adoçantes, conservantes, aditivos e glúten. Há, ainda, um amplo espaço para a água de coco orgânica.

 

O Brasil é líder na produção de água de coco

O Brasil é o maior produtor de água de coco do mundo, embora seja apenas o quarto maior produtor de cocos, com 4% da produção mundial, atrás da Indonésia, com 30% do total, das Filipinas, com 23%, e da Índia, com 19%.

Enquanto os brasileiros consomem muita água de coco, as exportações do País são ainda muito pequenas. No ano passado, o Brasil vendeu no mercado internacional US$ 8,1 milhões (6,7 mil toneladas) de água de coco. O maior destino foram os EUA (83% do total exportado), seguidos do Canadá (10%).

O Brasil tem grande potencial para aumentar a produção e as exportações desse produto fantástico, expandindo cada vez mais a sua participação nesse mercado bilionário. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO aponta que a produtividade de cocos na Ásia (que é responsável por quase 90% da produção mundial) está caindo. O problema é que a maior parte dos coqueirais foram plantados há 50 anos, enquanto o ápice da produtividade dessas plantas é entre os 10 e os 30 anos.

Nesse aspecto, o Brasil está em grande vantagem: a maior parte dos nossos coqueirais, que são localizados principalmente no Nordeste, são mais jovens. E há disponibilidade de terras para expandir a produção.

O imposto do açúcar que vem sendo introduzido ao redor do mundo abre oportunidades de crescimento de mercados como o da água de coco, e o Brasil está muito bem posicionado para explorá-los.

Ao mesmo tempo, esse imposto traz desafios por sermos hoje o maior produtor e exportador mundial de açúcar. É preciso buscarmos o equilíbrio para transformarmos desafios em oportunidades.

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