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Jair Bolsonaro
Bolsonaro já declarou intenção de saída do Mercosul caso a chapa esquerdista vença as eleições da Argentina.| Foto: Alan Santos/PR

A economia mundial está registrando novos e novos sinais de desaquecimento. Os investidores estão cautelosos, tentando achar mercados que ofereçam mais segurança. Como a revista The Economist escreveu recentemente, "o início de uma desaceleração depende tanto de humor quanto de dinheiro". E o humor nos mercados mundiais em geral está bastante ruim.

A ampla guerra comercial entre os Estados Unidos e a China está caminhando para um decoupling ou separação econômica. O Brexit, que deve acontecer no próximo dia 31 de outubro, também tende a acabar em divórcio sem acordo entre o Reino Unido e a União Europeia, interrompendo o livre comércio entre eles. Há meses, o Japão e a Coreia do Sul protagonizam outra guerra comercial por conta das divergências quanto à indenização às vitimas do período de ocupação japonesa da Coreia, de 1910 a 1940.

Por outro lado, aumentam as tensões entre os Estados Unidos e a União Europeia. A partir do próximo mês de novembro, há possibilidade de o governo americano impor tarifas mais altas sobre os automóveis importados do bloco europeu, do Japão e de outros países com os quais os EUA não têm acordos de livre comércio. A UE tentou negociar um acordo, mas a situação se agravou em julho, com a introdução, pela França, de um imposto de 3% sobre serviços digitais das gigantes de tecnologia, a maioria delas americanas (Amazon, Google, Apple, Facebook, Microsoft, Twitter, Airbnb, dentre outras). Outros países europeus estudam fazer o mesmo.

O futuro do livre comércio entre os Estados Unidos, o Canadá e o México também está incerto. O novo acordo USMCA, que substituiu o NAFTA, ainda precisa ser ratificado pelo Congresso americano. Ao mesmo tempo, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump condiciona a manutenção do livre comércio com o México às ações daquele país voltadas à redução da imigração ilegal de mexicanos e de pessoas de outros países da América Latina para os Estados Unidos. O sucesso dessas ações é muito incerto, e por isso, a ameaça de novas tarifas é bastante real.

Essas e outras incertezas em relação ao comércio mundial já estão prejudicando o crescimento econômico de muitos países. O jornal The Washington Post deu destaque para as nove grandes economias que estão à beira de recessão ou já em crise. O Brasil está na lista, juntamente com Alemanha, Reino Unido, Itália, México, Argentina, Singapura, Rússia e Coreia do Sul. Além dessas nove, vale mencionar outras economias em crise, como a Turquia, a Venezuela e o Irã.

Com as crescentes guerras comerciais e sanções econômicas, países com grande exposição ao comércio internacional são os que mais sofrem com o desaquecimento econômico. Por outro lado, países como o Brasil, que tem uma exposição pequena, mas cujas exportações são concentradas em commodities, são impactados negativamente pela queda de preços internacionais desses produtos decorrente da redução da demanda.

Os sinais de uma recessão mais globalizada estão causando a fuga de capital dos mercados emergentes para locais e instrumentos financeiros mais seguros. E o Brasil, que perdeu o grau de investimento em 2015, já vê as consequências dramáticas desse remanejamento. Na semana passada, o jornal Valor Econômico noticiou que no acumulado de 2019 até o dia 15 de agosto, a saída de investimentos de estrangeiros da bolsa de valores brasileira alcançou R$ 19,2 bilhões, que é o maior valor registrado no período desde o início da série histórica em 1996.

Os investidores precisam de previsibilidade

O governo do presidente Jair Bolsonaro está avançando com a importante agenda legislativa e regulatória voltada para o equilíbrio econômico e fiscal, a desburocratização, a abertura econômica e a redução da presença do Estado na economia. Com isso, tenta reverter a trajetória de décadas de baixo crescimento econômico e a doença de baixa produtividade.

Mas todas essas medidas importantes não serão suficientes sem mais uma tarefa fundamental − que é garantir a previsibilidade. Tanto quanto na economia mundial, os investidores buscam exatamente a previsibilidade e a segurança quanto ao futuro de seus investimentos.

E é nesse contexto que caem que como uma bomba as declarações do governo brasileiro sobre uma possível saída do Brasil do Mercosul no caso da eleição, na Argentina, da chapa esquerdista de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, com o previsível agravamento da situação econômica daquele país.

Em paralelo, crescem as tensões do Brasil com a Alemanha e a Noruega por conta dos questionamentos daqueles países em relação à eficiência da contenção, pelo Brasil, do desmatamento da Amazônia. Escala também o atrito com a União Europeia por conta da alegada ampliação de queimadas na floresta amazônica. O presidente da França Emmanuel Macron declarou a situação uma emergência internacional e incluiu o tema na agenda da reunião do grupo G7 que acontece neste fim de semana.

Essas crescentes tensões colocam em risco a ratificação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que é importantíssimo para a expansão e a diversificação das exportações brasileiras e para a vinda de novos investimentos.

Ao mesmo tempo, a surreal possibilidade de um "Brexit 2", com a saída do Brasil do bloco com a Argentina, Uruguai e Paraguai, formado em 1991, seria catastrófica para a região. Não está claro se as declarações do governo brasileiro foram apenas uma pressão política e se tinham por traz uma real intenção de sair do bloco. A saída só agravaria a situação econômica da Argentina e prejudicaria enormemente a indústria brasileira.

O Mercosul é um dos maiores destinos para as nossas exportações. É o quarto maior, após a China, a UE e os EUA. Em 2018, o Brasil vendeu US$ 20,8 bilhões em produtos para o bloco do Cone Sul, o que representou 8,7% do total das vendas externas do país. Mas há um outro detalhe: a grande maioria dos produtos que vendemos para a Argentina, Uruguai e Paraguai são bens manufaturados. A média de participação de manufaturados na nossa pauta exportadora para o Mercosul nos últimos dez anos foi de quase 90%.

Enquanto isso, os manufaturados representaram, no mesmo período, menos de 60% no comércio com a América do Norte, menos de 40%, no comércio com a União Europeia e menos de 11% no comércio com a Ásia (no ano passado, esse último número foi de 8,6% − exportamos praticamente só commodities para os países asiáticos).

O crescimento da economia brasileira depende do fortalecimento da indústria brasileira. A indústria gera os empregos e os salários. Os salários geram o consumo. E o consumo, por sua vez, estimula o crescimento da indústria, que contribui com o aumento do PIB.

E a indústria precisa de um ambiente de negócios mais desimpedido e precisa de acordos comerciais com outros países para ampliar os mercados para os produtos brasileiros.

Com isso, gostaria de deixar uma mensagem para o nosso governo: Aprendemos na vida que precisamos escolher as nossas brigas. Ao invés do "Brexit 2", devíamos fortalecer o Mercosul. Vale também manter um bom relacionamento com os países da União Europeia e em geral com todos os outros países. Precisamos deles para o sucesso econômico do nosso país. E para garantir a previsibilidade e a estabilidade que os investidores precisam.

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