Na semana passada, dias antes da audiência do ministro Sergio Moro no Senado brasileiro, cheguei ao 45° andar de um prédio moderno, espelhado e imponente em Nova York para cumprir uma agenda de trabalho.
Na reunião, onde explanaria para um grupo de investidores sobre o ambiente político-brasileiro frente a este contexto , cinco mulheres e dois homens compunham a mesa. Assim que comecei a expor minhas ideias sobre a audiência de Moro e o que esperar desse evento para o desenrolar próximo do ambiente político-econômico do país, um dos homens me interrompeu perguntando: “Você não acha que a senadora Simone Tebet irá se sentir intimidada diante de uma figura tão imponente como a do ministro Moro?"
Antes que eu esboçasse uma resposta, sua chefe – chefe de pesquisas daquele fundo bilionário – tomou a palavra e disse: "Por que ela se intimidaria? Não a conheço, mas se é uma senadora da República e a presidente da CCJ, imagino que ela esteja mais do que preparada para uma situação dessas".
As palavras firmes dessa executiva sobre uma outra figura feminina de proeminência no contexto político-econômico me fizeram refletir sobre uma nova realidade: a da crescente participação de mulheres em posições de destaque nos fundos de investimentos e nos bancos que visito em Nova York e Londres.
O mercado financeiro, que ainda é excessivamente masculino, vem sendo tomado gradativamente por mulheres em posições de comando, ocupando, às vezes, o ponto mais alto do processo de tomada de decisões que determinam a rota que bilhões de dólares em investimentos deve seguir.
Por outro lado, as pesquisas que consulto me demonstram que o número de mulheres no mercado financeiro americano ainda é assustadoramente baixo. Aproximadamente apenas 10% das posições em fundos de venture capital e equity são ocupados por mulheres.
A expectativa é encorajadora
A expectativa para o futuro próximo, no entanto, é encorajadora. A ONG "Girls Who Invest" (Mulheres que Investem) estima que até 2030, mulheres representarão 30% de todo o mercado financeiro dos EUA. Um estudo do FMI mostra que a ausência de mulheres em posições de destaque neste mercado tem um impacto além da igualdade de gênero.
Segundo o documento, em 2015, apenas 2% das posições de CEO em instituições financeiras e menos de 20% dos membros de conselhos dessas instituições eram mulheres.
A Fidelity Investments, presidida pela brilhante Abigail Johnson, após estudo, concluiu que “mulheres” investidoras tendem a ter um desempenho melhor do que “homens” investidores. Apesar de a diferença ser mínima (0,4%), a característica identificada pela Fidelity como mais comum entre mulheres do que em homens é a aversão a riscos.
O Barclays, de Londres, em trabalho encomendado à Warwick Business School, encontrou uma diferença um pouco maior na performance feminina: 1,2%.
Para Greg McBride, rconomista-chefe do Bankrate, “mulheres conseguem um desempenho melhor porque não transacionam tão repetidamente quanto homens, seguram mais suas ações e tendem a ter mais paciência para obter bons resultados no médio e no longo prazo”.
Situação não é diferente no Brasil
No Brasil, a situação não é tão diferente. De fato, a participação das mulheres é ainda menor do que nos grandes mercados mundiais. Segundo Heloisa Cruz, gestora da Stoxos, seus cursos sobre investimento e educação financeira atraem apenas 5% de mulheres.
Quanto mais contingentes femininos buscarem participação como investidores, mais mulheres se interessarão e poderão assumir posições de liderança em um setor fundamental da economia mundial. Hoje, entre brasileiros que investem na Bolsa de Valores, apenas 11% são mulheres, apesar de representarem a maioria da população brasileira, 52%.
Em um futuro que não está tão distante, a própria sociedade reconhecerá a importância dessa diversidade de contribuições para a atividade do setor financeiro.
Infelizmente, metade do mundo ainda trata a outra metade como "minoria".