A China surgiu como a bola da vez para o presidente Jair Bolsonaro por razões além das óbvias. Naturalmente, por ser nosso grande parceiro comercial, não poderia ser excluído do mercado brasileiro de forma sumária.
A narrativa de campanha, na qual Bolsonaro criticava a China, era vazia e certamente não levaria a lugar nenhum, como não levou.
À medida que o choque de realidade da Presidência da República se iniciava, a necessidade de possuir um mínimo conhecimento estratégico também se mostrou obrigatória.
Um país não precisa escolher entre um lado ou outro para demonstrar sua independência. A polarização política no Brasil criou a ilusão de que tudo no planeta é binário. Nunca se tratou de uma escolha entre os Estados Unidos ou a China. Trata-se de uma decisão sobre que tipo de posição o Brasil quer ter no mundo, o que quer conquistar e como quer ser percebido. Na política externa, uns compram e incorporam a imagem do parceiro mais forte; outros, transformam-se no mais forte e fazem com que parceiros menores o sigam.
Os Estados Unidos devem sim ser parceiros brasileiros naquilo que diretamente faz sentido para um país como o Brasil. A área da educação, por exemplo, pode ser uma grande oportunidade. No Catar, Emirados Árabes e na própria China existem campi de prestigiosas universidades americanas. A presença de universidades como Georgetown, Johns Hopkins, Columbia, entre outras, no Brasil poderia servir como um desafio na busca de qualidade das universidades brasileiras, não só pelos padrões de comparação que poderiam se estabelecer, como também na profícua geração de benchmark.
Cooperação em Defesa é outro setor onde faz sentido explorar e compreender o que pode ser feito com os EUA. O acordo aprovado no Senado para permitir o uso da Base de Alcântara serve de exemplo. Durante anos a base esteve inutilizada, abandonada e sem propósito. Com esse acordo, o Brasil pode se beneficiar nos negócios via lançamento de satélites comerciais. Além disso, a transferência de tecnologia é outro ponto valioso. Não podemos nos esquecer da sinergia e do histórico relacionamento empresarial entre os dois países. Boeing e Embraer são apenas os pontos mais recentes.
A China é um país comprador, enquanto o Brasil é um país produtor. Não há necessidade de narrativas ideológicas quando um quer vender e o outro quer comprar. A narrativa de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de que a China queria comprar o Brasil pode até ser verdadeira. No entanto, depende de o Brasil querer se vender para a China. Apesar das sinalizações de que a China seria aos poucos excluída de uma parceria de negócios, a pressão do Ministério da Economia e do Ministério da Agricultura em razão dos números na balança comercial mudaram aos poucos a narrativa do Palácio do Planalto. Temos de vender soja, carne bovina e carne suína para os chineses.
Um último aspecto que não pode contaminar as aproximações internacionais é a emoção. O governo demonstra, desde o fim do ano passado, um grau de emoção muito grande quando se menciona uma outra nação.
Assim como no pôquer, um país como o Brasil não pode demonstrar na primeira rodada o seu amor incondicional por alguém em especial, nem seu ódio mortal por um outro. Ser pragmático em política externa e no comercio exterior blinda um país e impede que suas cartas sejam reveladas de cara.
Visivelmente houve um sentimento de decepção do lado brasileiro quando vimos a Argentina e a Romênia na lista para a OCDE. Talvez, com menos emoção e mais pragmatismo, a construção da estratégia para que o ingresso do Brasil se acelerasse pudesse ter sido mais ampla. Houve uma postura excessivamente negativa durante a campanha presidencial em relação à China, que acabou por levar o Presidente a pedir desculpas durante a reunião dos Brics.
Hoje, há uma postura excessivamente positiva que pode levar a concessões e acordos que talvez não sejam os ideais para nosso país. A cara de paisagem deve reinar quando uma promessa de crédito de US$ 100 bilhões é apresentada, como essa oferecida pelos chineses. A soberania de que tanto se fala também passa pelo controle das emoções. Um país soberano deve soar forte e pragmático, seco, sem emoção, e objetivo na política externa e no comercio exterior.
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