Como você já leu (ou poderá ler) no meu artigo anterior, em 1580 a Espanha era Portugal e Portugal era a Espanha. Com a União Ibérica Felipe II tem a marinha mais poderosa que o mundo já vira, e ela recebe um nome à altura: La Armada Invencible, ou no nosso bom e velho português, a Invencível Armada. Agora nada mais poderia ficar entre Felipe II e seu maior sonho: a conquista total da Inglaterra.
Curiosamente, ao longo das primeiras décadas do século XVI, a Espanha estava se tornando mestra no jogo dos tronos: herdava poder e influência com facilidade através da diplomacia e casamentos fortunosos. E ninguém herdou tanto poder como Filipe II. Veja o mundo que ele herdou de seu papai, Carlos V, e o mundo que agora ele herdava dos portugueses. A cristandade não tinha dúvidas de que se Deus estava do lado de alguém, só podia ser de Filipe, e Filipe, mais do que ninguém, tinha plena certeza disso.
Então, se ele tinha Deus e tantos galeões infestados de canhões ao seu lado, o que quisesse seria dele. O que ele realmente queria era Inglaterra e tinha motivos que considerava bastante nobres para acabar com a raça dos ingleses. Para Filipe, a Inglaterra era o antro vil do protestantismo, então era a missão dele, como escolhido por Deus, a de colocar um fim naquela nação herege de uma vez por todas.
O poderoso império espanhol tremeu em suas bases. O Império Português terminou de desmoronar
Então, em julho de 1588 ele reúne 130 navios com 55 mil homens no total, entre eles 18 mil soldados profissionais, a nata do exército espanhol: o tercio. Essa unidade militar era a mais respeitado e temida da cristandade. Essa combinação apocalíptica de terremoto e maremoto avançava para a Inglaterra e a aflita monarca inglesa, Elisabete I, teria que se preparar bem se quisesse continuar com seu trono e com seu pais.
Mas nada é tão ruim que não possa ficar pior. Elizabete sabia disso e o perigo não vinha só de fora, vinha de dentro também. A Inglaterra tinha cerca de 50% de católicos; a chance desses católicos se revoltarem e tomarem o lado de Filipe era real. Além disso, a Armada espanhola contava com católicos e espiões ingleses que forneciam informações importantes ao rei. Além disso, Filipe conhecia muito bem os ingleses. Foi cunhado de Elizabete, casado com sua já falecida irmã Mary.
Contudo, ao lado dela estavam dois velhos lobos do mar determinados a manter a Inglaterra dos ingleses: Lord Howard of Effingham e Sir Francis Drake.
Eles reúnem algumas dezenas de navios mal preparados: a Inglaterra passara por problemas demais nos últimos 100 anos para ter tempo de construir uma frota. Mas era o que eles tinham, e com isso eles partiram para o ataque no mar. O objetivo era não deixar a armada espanhola aportar: se isso acontecesse era o fim, e toda a corte inglesa sabia disso. Então navios incendiados e com explosivos (propelidos apenas pelas velas) são enviados em direção à Armada. Esse ataque dá certo e causa uma grande desordem e algumas baixas importantes nos espanhóis... Mas esse pequeno revés não é o suficiente para frear os ibéricos, e os dois lados sabiam disso. Durante cerca de um mês, os ingleses lutavam, e agora uma ajuda importante acabava de chegar: seus irmãos protestantes, os holandeses.
Mesmo assim, a conquista da Inglaterra era só questão de tempo e enquanto a Armada não fosse derrotada a ameaça era constante. Durante um mês os ingleses e holandeses conseguiram segurar a invasão, enquanto os holandeses aproveitavam para se revoltar contra o domínio espanhol. Por incrível que pareça, a maré parecia virar contra Filipe II e depois de um mês no mar, sem sucesso e lutando contra intensos ataques ingleses, os espanhóis decidem voltar para a Espanha contornando o canal da Mancha. Ali ficou claro que Filipe tinha feito alguma coisa que deixou Deus bem chateado: uma tempestade acaba com metade do Armada Ibérica, matando mais de 20 mil homens. Aquele acidente foi uma catástrofe inimaginável que Filipe não podia acreditar. O poderoso império espanhol tremeu em suas bases. O Império Português terminou de desmoronar. Felipe II percebeu que não era tão divino quanto achava.
A rainha Elizabete I saiu como uma heroína e a identidade nacional inglesa a partir daquele momento é descoberta: agora Deus estava do lado dos protestantes, e principalmente da monarca inglesa; certamente foi o que acharam depois daquele milagre. No entanto, das cinzas dessa invasão uma nova superpotência global surgiria e ainda não seria a Inglaterra. Essa nova potência protestante estava sedenta de vingança e determinada a pegar tudo que pertencia aos católicos. Principalmente uma joia gigante e valiosa só encontrada no sul do planeta, e que nós chamamos carinhosamente de Brasil.
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