Elas eram os rifles da Idade Média: quando o assunto era precisão a longa distância, nada se comparava ao poder de um arco ou uma besta. Por isso mesmo, era comum vermos exércitos usando arcos e bestas uns contra os outros e, acima de tudo, decidindo batalhas. Mas o que determinava essa escolha e qual das duas armas era a mais eficaz no campo de batalha?
Muita gente não gosta de fazer comparações de armas antigas: é uma atitude moderada, que eu honestamente gostaria de ter, mas não tenho. E muita gente fica chateada com isso: sim, por incrível que pareça, há pessoas que ficam revoltadas quando veem alguém dando uma opinião que vai contra a sua. Veja, por exemplo, alguns comentários que recebi no meu vídeo no Brasão de Arnas sobre arcos longos vs bestas: descobri que existem alguns fãs emocionados das duas armas que não querem que elas sejam “derrotadas” de jeito nenhum.
Mas, como sempre faço em meu canal e aqui nas minhas colunas, vamos analisar as duas armas do ponto de vista histórico e material, pois assim saímos de mera opinião para um estudo interessante de itens tão poderosos que eram capazes de criar ou derrubar reinos inteiros.
Existem alguns fãs emocionados das duas armas que não querem que elas sejam “derrotadas” de jeito nenhum
Vamos começar pelos arcos longos ingleses. Sim, arcos longos “verdadeiros” eram ingleses. Embora os escoceses tenham criado o “brinquedo”, foram os ingleses que souberam como “brincar” de verdade. O mesmo caso aconteceu com o futebol: os ingleses criaram, mas os brasileiros que ensinaram ao mundo como jogar… (ensinaram; notem bem o verbo no passado).
Os arcos longos eram simples de serem feitos: madeira de teixo com cordas de cânhamo, linho ou seda ultraflexíveis. A madeira também era flexível, mas muito resistente. O problema é que poderia levar até dois anos para a cura da madeira. Portanto, era um trabalho cumulativo e lento.
Já as bestas podiam ser produzidas de forma mais rápida, contudo eram mais engenhosas e detalhadas, com sistemas variados de travas de metal e recarregamento: puxando a corda com as mãos mesmo, apoiando o pé em um suporte na ponta dela, ou usando um acessório de roldanas e manivelas giratórias com cordas que poupavam a energia do besteiro, mas que tomava muito mais tempo na recarga.
Agora vamos analisar sua eficiência. Em relação ao volume de disparo, é uma covardia: um arqueiro podia disparar até dez flechas por minuto com tranquilidade, enquanto um besteiro mal conseguia disparar duas usando o acessório de manivelas. E isso, naturalmente, dava uma vantagem enorme aos arqueiros sobre os besteiros no campo de batalha.
Por outro lado, os arqueiros se cansavam mais: em média, arcos longos em sua puxada máxima podiam chegar aos 70 kg de pressão. Portanto, depois de alguns disparos, era importante o arqueiro repousar para recomeçar uma nova sequência. Além disso, ele não podia segurar muito para disparar, do contrário a falha muscular arrasava o braço do arqueiro antes de começar. Então, era fundamental que o arqueiro tivesse um equilíbrio perfeito entre mira e velocidade de disparo.
No caso das bestas, era moleza: usando a manivela, o besteiro praticamente não fazia esforço algum; era só deixar o sistema fazer o trabalho duro. Aí, era só mirar o quanto quisesse para atingir até uma mosca no ar: com o alvo na mira, era só apertar o gatilho. Ao mesmo tempo, ele não podia “esquecer da vida” enquanto mirava: um campo de batalha não era lugar para contemplar os inimigos, mas sim para “furá-los” todos. Eficiência, praticidade e dinamismo poderiam representar a vitória ou a derrota completa no campo de batalha. Logo, se você fosse um arqueiro ou um besteiro, a última coisa que você ia querer era seu inimigo se aproximando. Mesmo em um cerco, onde as bestas podiam ser uma boa escolha, ela não necessariamente seria a melhor em todos os momentos. Tudo dependeria da força e velocidade do atacante e da distância dele em relação à muralha. Nesse caso, o arco longo poderia ser a melhor opção, pela velocidade e volume de disparos.
É claro que um headshot é sempre o sonho de qualquer atirador num campo de batalha, mas uma flechada bem dada na barriga, na perna, nas costas e até no braço poderia aposentar qualquer guerreiro por invalidez.
Portanto, comparando os prós e os contras de ambas as armas, é incontestável a superioridade do arco longo em relação à besta no quadro geral: maior volume de disparo com força e velocidade equivalentes: sua mira não precisava ser de um sniper. É claro que um headshot é sempre o sonho de qualquer atirador num campo de batalha, mas uma flechada bem dada na barriga, na perna, nas costas e até no braço poderia aposentar qualquer guerreiro por invalidez. Veja quantos cavaleiros franceses foram “afastados” do trabalho após a Batalha de Agincourt, em 1415, onde 6 mil ingleses, entre eles cerca de 4 mil arqueiros, derrotaram 30 mil cavaleiros franceses.
Isso me fez lembrar de uma frase icônica e cheia de significado dita por um dos maiores guerreiros da história: “eu costumava ser um aventureiro como você, mas então eu tomei uma flechada no joelho”. Sim, que referência!
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS