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A Grande Fome foi uma tragédia, e Stálin e seus comparsas fizeram de tudo para ocultá-la e negá-la, não só dentro da União Soviética como para o mundo. E aqui chegamos à terceira e última parte da nossa série mostrando as manipulações escancaradas das estatísticas da União Soviética.
Portanto, vamos partir para o nosso prezado professor Stephen Wheatcroft. No seu artigo "Soviet Statistics under Stalinism: Reliability and Distortions in Grain and Population Statistics" (2019) (Estatísticas soviéticas sob o Stalinismo: confiabilidade e distorções nas estatísticas de população e de grãos), ele fala de outra manipulação terrível das estatísticas: a negação da crise de comida de 1936 e 1937 e das boas colheitas de 1937. Mas, como não faz parte do escopo do nosso estudo, eu deixo como recomendação de leitura pra vocês estudarem mais ainda as travessuras numéricas de tio Stalin e companhia.
Em outras palavras, a União Soviética não só enganou o povo e manipulou desonestamente as estatísticas do censo populacional, como também manipulou a produção de grãos para mostrar a “grande” produção que o sistema comunista havia gerado com as fazendas coletivas.
Mas um aspecto fica claro nesse estudo: os censos na União Soviética eram honestos e fieis à realidade, e esses registros são seguros, embora o professor Wheatcroft alerte que eles precisam ser usados de maneira crítica. O que não era confiável era o governo soviético, que cancelava, falsificava e adulterava os dados para esconder as falhas e tragédias causadas por sua política fracassada.
E outro estudo citado pelo professor Wheatcroft nesse artigo, que é específico sobre a mortalidade na Ucrânia, chamado “Mortality and Causes of Death in 20th-Century Ukraine” (Mortalidade e Causas de Morte na Ukrania do século XX), confirma essa falsificação descarada do governo soviético na p. 9: “Durante muito tempo, os desastres do período soviético foram um tabu, inclusive para pesquisa científica. De 1931 a 1954, nenhuma estatística sobre a mudança populacional foi publicada. Os raros indicadores gerais que apareceram foram manipulados ou mesmo falsificados. Em particular, os resultados do censo de 1937 foram considerados “defeituosos” e rejeitados; os seus autores foram declarados “inimigos do povo” e perseguidos; um novo censo foi organizado em 1939, mas como confirmou o de 1937, seus resultados foram falsificados antes de ser tornarem públicos.”
Só na Ucrânia, no censo de 1926, a população era de 29 milhões e em 1939 tinha apenas 30,9 milhões, ou seja, um crescimento de menos de 2 milhões, sendo que a projeção estatística era que a Ucrânia tivesse 35.5 milhões de pessoas
Outro estudo publicado pelos mesmos autores em 2002, chamado “A New Estimate of Ukrainian Population Losses during the Crises of the 1930s and 1940s” (Uma nova estimativa das perdas da população ucraniana durante as crises da década de 1930 e década de 1940), já vinha apontando esse mesmo padrão estatístico, o que mostra que muito estudos, apesar de mais antigos, continuam sendo apoiados por estudo mais recentes. Mas esse não é caso dos estudos de Mark Tauger, com sua teoria de que o clima foi o principal responsável pela fome. Naquele artigo, os autores mostram a catástrofe que foi a fome na Ucrânia, a partir da p. 262: “Em termos de mortalidade, nenhum outro país europeu viveu tais crises num espaço de tempo tão curto no século XX. A pior delas foi a fome de 1933, que resultou numa expectativa de vida inferior a 11 anos para as mulheres e pouco mais de 7 anos para os homens.” De acordo com esse mesmo estudo, só na Ucrânia, no censo de 1926, a população era de 29 milhões e em 1939 tinha apenas 30,9 milhões, ou seja, um crescimento de menos de 2 milhões, sendo que a projeção estatística era que a Ucrânia tivesse 35.5 milhões de pessoas; ou seja, 4.6 milhões de ucranianos desapareceram, entre esses 900 mil foram forçados a sair (por prisões por exemplo) e outros saíram por conta própria.
Ou seja, mais de 3 milhões de ucranianos morreram e deixaram de nascer devido a essa tragédia comunista. Então, da próxima vez que alguém te disser que o censo provou que a população aumentou depois da fome, esfrega isso aqui na cara dele.
Voltando à questão de essa tragédia ter sido genocídio ou não (porque isso de fato ainda é debatido na academia como mostrei em outros artigos), será que isso reduz em qualquer medida os horrores desse regime monstruoso? Ora, se não foi genocídio, dá pra confiar no comunismo, né? Tudo bem, fez uma “limpezinha” étnica de milhões aqui, “assassinatozinho” em massa ali, perseguições e execuções brutais de centenas de milhares de “pessoinhas” acolá, deportações forçadas que matou milhões ali, matou milhões de fome, escravizou milhões, cometeram crime contra a humanidade... Mas ufa, não foi genocídio, graças a Deus! Sim, esse é o sistema que vai salvar o Brasil e o mundo!