Professores foram “formados” nessas casas| Foto: divulgação
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Não estou exagerando, não: animes podem formar professores, sim. Eu sou uma prova disso. Se sou um professor hoje e compartilho um pouco do que eu sei com vocês aqui, é graças aos famosos desenhos japoneses.

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Claro que recebi meus diplomas por meios convencionais, como qualquer um que tenha dedicado anos da vida em uma universidade. Mas posso dizer coma toda a certeza que o que formou a minha mente para decidir estudar História e Literatura foi um anime do qual, se você já passou dos 35 como eu, é bem possível que tenha sido um grande fã também: Cavaleiros do Zodíaco. Na década de 90, a antiga TV Manchete foi a “casa” de um dos animes mais influentes do Brasil e do mundo.

Como você sabe, Cavaleiros do Zodíaco é uma mistura incrível de história e mitologia grega. Até os “deuses” marcam presença lá: Atena, Poseidon, Ares e companhia. Nas sagas seguintes, até os deuses e heróis nórdicos aparecem. Mas, além de personagens muito carismáticos e bem construídos que fazem o espectador se envolver pessoalmente na história, a ambientação dá um show à parte: templos e construções gregas estão por todo lado e não passam despercebidos mesmo por crianças, como foi o meu caso.

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Depois de assistir à Saga de Hades inteira, eu já me via “formado” em Literatura e História. Era aquilo que eu queria estudar e ensinar!

Eu não fazia ideia de como eram os templos gregos, nem sabia direito o que eram templos e deuses gregos: tinha 6 ou 7 anos quando lembro de ter assistido a Cavaleiros pela primeira vez e ver o Seiya ser espancado por Shiryu no Coliseu... Isso mesmo, um Coliseu no meio de Tóquio. Isso não tirou em nada a imersão: nem sabia o que era e nem onde ficava o Coliseu de verdade. Mas de alguma forma eu sabia que aquilo representava algo que existia, ou existiu, no nosso mundo. O impacto que aquela e outras cenas icônicas tiveram em mim foi imemorial. Acho que não preciso nem dizer que assistia escondido dos meus pais: eles não iam gostar do seu filho assistindo a um desenho em que o personagem gritava “Golpe fantasma” ou “Cólera do Dragão”!

E as lendárias “Doze Casas”? Lindas representações da grandiosa Acrópole de Atenas e o sagrado Partenon, dedicado à própria Atena. Aliás, os cavaleiros estão lá: subindo a colina, entrando nos templos. Lembro de ter dito para mim mesmo: um dia quero ir lá. A propósito, eu fui lá! Uma das experiências mais marcantes da minha vida: subindo a Acrópole e vendo o Partenon pela primeira vez com seus 10 metros de altura e suas brancas colunas “crescendo” sobre mim... foi uma experiência quase transcendental. Chorei como uma criança ao ver o pôr do sol no sagrado Cabo Sounion, sob as colunas do icônico templo de Poseidon, cabo esse citado em um dos episódios, aliás. Citado, tambem, num “livrinho” aí chamado Odisseia, escrito por um tal de Homero. Nada mal, não é?

Mas, até realizar meu sonho, eu precisava crescer e ser “alguém” na vida: eu era só um garotinho quando assisti à primeira “Era” dos Cavaleiros. Mas na minha adolescência veio o sacramento final: a famosa Saga de Hades. Depois de assistir à saga inteira, eu já me via “formado” em Literatura e História. Era aquilo que eu queria estudar e ensinar! Cavaleiros fez parte da minha infância e adolescência: uma fase que passou, mas ficou.

O resto é história: hoje me considero feliz e bem-sucedido na minha escolha e carreira: 15 anos de magistério, milhares de alunos formados em sala de aula e “milhões” na internet: fico modestamente orgulhoso de dividir com vocês que tenho dois dos canais de história mais relevantes e assistidos em língua portuguesa: o Impérios AD e o Brasão de Armas, e minha vida mudou mais ainda com eles: sou reconhecido por onde passo e sempre encontro alguém ou recebo mensagens dizendo que por minha “causa” eles querem ser professores de História e Literatura: isso é mais do que jamais poderia pedir e esperar.

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Tudo isso por causa de um anime que despertou uma vontade incontrolável de estudar... E tenho certeza de que muita gente por aí tem uma história parecida com a minha.

Mas para ser justo, Cavaleiros do Zodíaco é só a metade da minha história. Dizem que heavy metal é só barulho, gritos, e gente batendo cabeça... Eu acho que não!

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]