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Muita gente fica surpresa de saber que os vikings realmente chegaram na América, como expliquei na minha coluna anterior. Mas mais surpresos ainda, e até indignados, ficam os “guerreiros da justiça social” em ver a palavra índio sendo usada nesta coluna. Ora, índio é um termo histórico usado há séculos que nada tem de ofensivo, como mostra o próprio dicionário Aurélio no referido verbete. Aliás, antes de escrever este artigo dei uma rápida pesquisada na própria página da Funai e há vários artigos de 2023 usando a palavra índio. E não se esqueça de visitar o lindo Museu do Índio quando vier ao Rio de Janeiro.
Deixando os resmunguinhos de lado, o fato é que não eram nem índios, nem indígenas, nem nativos: para os vikings, os habitantes da América do Norte eram os skraelingar, que no nórdico antigo significava “bárbaro”. E se bárbaro significava “bom de briga”, então os índios norte-americanos eram bárbaros mesmo... E dos grandes. E a gente sabe disso por causa da nossa velha e querida "Saga de Erik, o Vermelho", que conta alguns detalhes interessantes sobre esse primeiro encontro de civilizações.
O filho de Erik, Leif, foi o primeiro a pisar na América, mas nos meses que passou lá não encontrou nenhum skraelingar. Ele deixaria esse “privilégio” para seu irmãozinho mais novo, Thorvald Eriksson. Dois anos depois da descoberta épica de Leif, Thorvald parte para a Vinland, terra das vinhas, como foi carinhosamente chamada. E no capítulo XIV da saga, a situação do pobre Thorvald não podia ficar pior: ele mal saiu do navio, e já levou uma flechada na barriga. Então exclamou: “Em boa terra chegamos, e grande é a gordura sobre a barriga”, talvez em referência ao sangue gorduroso saindo da sua pança.
Depois de se assustarem com o mugido de um boi levado pelos vikings, os skraelingar saem correndo de medo. Mas poucos dias depois eles voltam com uma multidão para destruir os invasores.
De qualquer forma, a saga diz que, ao verem seu líder caído e sangrando, os vikings partiram para o ataque “urrando” em direção aos inimigos e conseguiram matar 8 deles, colocando o restante para correr. A saga também diz que os índios estavam em número muito maior, o que não é de se espantar, claro. Depois de passarem o verão ali, eles resolvem novamente retornar para a Islândia. Pouco tempo depois outra expedição retornaria para Vinland, e dessa vez para ficar.
160 vikings liderados por um mercador inteligente e visionário chamado Þorfinnr Karlsefni, para o qual em breve farei uma coluna exclusiva aqui, chegam na América novamente. Só que dessa vez a pancadaria é ainda mais violenta que antes. Depois de se assustarem com o mugido de um boi levado pelos vikings, os skraelingar saem correndo de medo. Mas, poucos dias depois, voltam com uma multidão para destruir os invasores. As sagas contam que as poucas dezenas de vikings ali ficaram apavorados com a multidão que brandia “escudos” e até “catapultas” nas suas canoas, estas últimas sendo um claro exagero da saga.
Alguns vikings são mortos, mais índios ainda, mas os vikings perceberam que aquele lugar verdejante não era para eles. Como a própria saga diz: “Karlsefni e seus companheiros tinham agora a opinião de que embora aquela terra fosse boa e fértil, sempre haveria terror e guerra pairando sobre ela, causada por aqueles que viviam lá antes deles.” Os seja, eles só tinham uma alternativa agora: fugir de Vinland e nunca mais retornar. Aliás, se você quiser saber mais detalhes sobre essa história incrível, dá uma olhada no meu vídeo “Vikings Vs Índios: Quem VENCEU a Batalha”, no meu canal Brasão de Armas.
É uma história tão épica, que virou até anime – os famosos desenhos japoneses que encantam os jovens e os não tão jovens, como eu. É um dos mais incríveis a que eu já assisti... E é sobre ele que a gente vai conversar em breve.