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Como os portugueses revolucionaram a navegação oceânica
| Foto: wikimedia commons

A Caravela portuguesa venceu o Cabo Bojador, sozinha. Um feito que não passou despercebido na história humana. Na verdade, a Caravela não conseguiu isso sozinha: o que seria desse “pedaço” de madeira impressionante sem seus navegadores? Eles foram feitos um para o outro, e parecia que o mar não seria não tinha limites para eles... Mas teve!

Depois da epopeia do dobrar o Cabo Bojador, como vimos no artigo anterior, a caravela não conseguiria ir mais longe. Portanto, a partir de metade do século XV, engenheiros portugueses, navegadores e a própria coroa portuguesa começaram a fazer um upgrade da Caravela. Um navio maior, mais largo, mais alto e com capacidade para levar muito mais homens e suprimentos para viagens mais longas, portanto um navio muito mais autônomo: era de um navio assim que os portugueses precisavam se quisessem conquistar os mares e chegar as Índias; e um navio assim eles fizeram... A Nau, ou grande navio!

Com velas maiores redondas, que substituíram a velha vela latina triangular da caravela, dois a três mastros, um castelo de popa, e três pavimentos, podendo chegar a cinco nos anos seguintes; e muito mais canhões de bronze à disposição para serem “jogados” no convés e nos pavimentos inferiores; que poderiam cuspir fogo nos inimigos de uma maneira nunca vista antes na arte da guerra naval. Também temos o galeão e a carraca, outras duas invenções portuguesas posteriores: tudo indica que os galeões eram navios de guerra por excelência, enquanto as naus e as carracas eram mais de transporte. Entretanto, alguns dos mais respeitados especialistas navais, como o professor George Modelski, dizem que não é possível notar uma distinção quanto a terminologia desses navios, sendo os termos nau, galeão ou carraca usados intercambiavelmente na época para se referir ao mesmo tipo de navio. Seja como for, esse super navio era um dragão que revolucionou o mundo e a forma como se passaria a lutar no mar pelos próximos 500 anos... E até hoje, na verdade.

Seguindo os passos de Gil Eanes, outro navegador português resolveu navegar a Oeste para escapar dessa tormenta: Bartolomeu Dias

É porque a velha tática de abalroar e abordar navios, que vinha desde a Grécia Antiga, já tinha sido aposentada pelos portugueses: a partir daquele momento, quem quisesse ser um player profissional no mundo deveria entrar nesse jogo criado pelos portugueses. E senhoras e senhores, todos entraram nele. Todas as potências mundiais nos séculos seguintes fizeram do mar o seu poder hegemônico: Holanda, Inglaterra e EUA se tornaram mestres desse jogo, superando em muito o seu criador.

Agora os portugueses estavam preparados para continuar explorando o inexplorável: o Atlântico Sul. A cada ano eles conseguiam descer mais; entretanto, assim como o Cabo Bojador, eles encontraram outro obstáculo aparentemente intransponível: as correntes e ventos contrários no Golfo da Guiné. Eles perceberam que costear a África para o Sul seria demorado e ineficiente demais, colocando em risco todo o empreendimento que as navegações representavam. Não valeria a pena o esforço, tempo e dinheiro para uma viagem que ficaria impossível de se fazer. Mas, seguindo os passos de Gil Eanes, outro navegador português resolveu navegar a Oeste para escapar dessa tormenta: Bartolomeu Dias. Ele navegou tão a Oeste que mais tarde Duarte Pacheco Pereira teria descrito a descoberta de novas terras... Antes de 1500, em sua crônica Esmeraldo de Situ Orbis.

Mas essa Volta, termo técnico usado desde o Cabo Bojador para descrever essa navegação a Oeste, era insuportável: eram meses em alto mar, sem terra à vista, com o terror da calmaria atormentando os dias e as noites dos tripulantes. O sonho dos navegadores portugueses de evangelizar e conquistar os pagãos sarracenos e chegar às Índias se tornava um pesadelo cada vez mais real de uma forma que eles nunca poderiam imaginar.

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