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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Como Stálin negou o vergonhoso Pacto Nazi-Soviético para o mundo

à esquerda, a linha feita a caneta pelo próprio Stálin dividindo a Polônia. À esquerda: a Assinatura de Stálin (azul) e de Ribbentrop (vermelho). (Foto: )

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Depois que a Alemanha nazista foi derrotada, os americanos encontraram os pactos secretos dos nazistas com os comunistas e jogaram tudo no ventilador para todo mundo ver. Em 1947 o departamento de relações internacionais publicaram o material e Stálin ficou maluco com aquilo.

Mas aquelas eram as cópias alemãs, os americanos não tinham as cópias soviéticas. Então, Stálin partiu para a boa e velha propaganda soviética acusando os americanos de anti-comunismo e falsificadores. E aí ele próprio escreveu e editou o panfleto “Falsificadores da História” dando a versão soviética sobre o pacto com os nazistas: foi um pacto necessário e fundamental pra sobrevivência da URSS e que não havia protocolo secreto nenhum; que foram os aliados que alimentaram a máquina de guerra nazista, que eram pró-nazis e etc. Como aconteceu durante toda a guerra fria, era a versão da URSS contra a versão americana. Só que você já deve imaginar, que no final, o falsificador da história era Stálin.

Depois que aquele império comunista caiu, os arquivos foram abertos e os pesquisadores encontraram os originais do pacto, que batem direitinho com as versões alemãs. E quando os pesquisadores foram confrontar o panfleto “Falsificadores da História” com os pactos nazi-soviéticos, eles viram que Stálin adulterou boa parte do panfleto, e ele fez isso a próprio punho. O estudo comparativo revisado pelos pares e publicado pela Academia Polonesa de Ciências chamado “Stálin e o panfleto “Falsificadores da História” mostra todos os trechos retirados ou adulterados por Stálin para enganar a opinião pública e como mesmo nesse documento os protocolos secretos foram veementemente negados.

É Molotov quem dá o último e definitivo atestado de como o governo comunista foi dissimulado e mentiroso, pela tamanha vergonha que aqueles protocolos secretos trariam pra União Soviética. Ele morre em 1986 levando seu segredo pra sepultura. Na sua última entrevista, em 1983, ao jornalista russo Felix Chuev que publicou o livro Memorias de Molotov, é revelado como Molotov mantém e reafirma a mentira stalinista sem balançar: quando perguntado sobre o “acordo secreto” com os alemães, ele respondeu que não havia nenhuma verdade naquilo. “Absolutamente nenhuma”, disse. “Não houve um acordo”, repetiu o jornalista. Não houve, não. Não, isso é um absurdo.” O jornalista insistiu: “agora certamente podemos falar nisso não?” Molotov respondeu: “Claro. Não há segredo nenhum aqui. Em minha opinião, esses BOATOS foram espalhados deliberadamente, para destruir reputações. Não, não, essa questão é muito clara. Não poderia ter havido nenhum acordo secreto desse tipo. Eu estava bem por dentro do assunto, na verdade estava envolvido nisso, e posso lhe garantir, sem sombra de dúvida, que é uma falsificação.”

Se esse pacto secreto fosse tão fundamental pra sobrevivência da União Soviética, por que mentir até o fim? Medo de crítica? Medo de propaganda anti-comunista? Ou será que eles estavam muito confiantes de que a União Soviética nunca iria cair e que a mentira continuaria enterrada? Mas caiu, e a verdade sempre aparece. O caso ao menos serve pra mostrar, como se ainda houvesse alguma dúvida, que o alicerce do comunismo foi a falsidade, a mentira e os milhões que morreram por elas.

Concluindo essa série de colunas, o Pacto Molotov-Ribbentrop não foi apenas um inofensivo pacto de não agressão: ele iniciou uma série de protocolos secretos e negociações entre comunistas e nazistas que queriam repartir entre eles não só a Europa, mas o mundo inteiro. Isso fica claro com o convite que a Alemanha fez à União Soviética para entrar para o eixo, e o interesse soviético de entrar para o eixo ficou claro com a apresentação das condições de Moscou a Berlim. Foi o “Tratado de Amizade”, nome oficial que consta nos documentos soviéticos e alemães que iniciou a segunda guerra mundial com a repartição da Polônia entre as duas potencias imperialistas. Stálin e Hitler deixaram suas ideologias de lado para se ajudarem mutuamente a alcançarem seus objetivos territoriais. Mas foi Hitler, e não Stálin, que quebrou essa amizade e atacou primeiro. E essa amizade foi uma mancha tão vergonhosa na história soviética que ela foi humilhantemente negada até o fim, o que trouxe ainda mais vergonha a esse regime assassino. Felizmente, os dois piores regimes da história humana foram destruídos. Mas o nazi-fascismo e o comunismo são lembretes dolorosos e que nunca podem ser esquecidos pelo nosso próprio bem: a humanidade pôde e sempre pode criar o mal que destruirá a si própria.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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