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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

“Fascista”: a palavra proibida na União Soviética

Bons amigos pela destruição do mundo (Foto: wikimedia commons)

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"Shhh! é proibido falar a palavra fascista aqui!". De 1939 até 1941 nosso camarada Stálin proibiu o uso pejorativo da palavra fascista e fascismo na USSR. Agora eles eram amigos, e tinha até um tratado que tinha "amizade" no título.

O medo de entrar em guerra com a Alemanha e as ambições imperialistas dele fizeram ele virar um cachorrinho que tinha pavor de contrariar seu dono, Hitler. Vamos deixar o professor Dmitri Volkogonov explicar isso melhor na sua biografia de Stálin, na qual ele discorre com bastante detalhes como Stálin deixou de lado todo a ideologia comunista em troca de seus interesses imperialistas. Na página 74 do volume 2, o professor faz análise da situação como historiador e como ex-general soviético, então temos o privilégio de ter uma leitura não só histórica quanto militar dessa traição de Stálin: “é difícil explicar o desvio cínico de Stálin para uma política de coonestação do fascismo. Pode-se até entender a tentativa de escorar o pacto de não agressão com acordos de comércio e laços econômicos, mas negar todas as anteriores premissas ideológicas antifascistas foi demais.

Por exemplo, a “Declaração dos Governos Soviético e Alemão” assevera que “o acordo mútuo é de opinião que o fim da guerra entre a Alemanha, de um lado, e a Inglaterra e França, do outro, viria ao encontro dos interesses de todos os povos.” No entanto, esses povos poderiam muito bem se perguntar como isso era possível. Deveriam aceitar e se conformar com a tomada da maior parte da Europa por Hitler? Como poderia a Polônia, em ruínas que estava, aprovar a “assistência mutua” assinada por Molotov e Ribbentrop.” Agora, vamos dar uma pausa aqui porque esses pontos que o professor Dmitri explicou são muito importantes e precisam ficar bem claros, pois eles foram extremamente graves e vergonhosos: essa “Declaração dos Governos Soviéticos e Alemão” foi emitida em conjunto pela Alemanha nazista e pela União Soviética no mesmo dia do “Tratado de Amizade e Fronteira”, quando a Polônia já tinha sido repartida entre os dois ditadores, e as demais esferas de influência estavam delimitadas entre as duas potências.

Com esse contexto, compreende-se a mordacidade dessa declaração: Stálin e Hitler ofereceram em conjunto uma proposta de paz com a Inglaterra e França na qual eles deveriam aceitar as conquistas territoriais de Hitler; e Stálin cinicamente ganharia com isso, porque manteria, sem lutar, não só sua porção da Polônia, mas também todos os outros países que estavam negociando com os nazistas. Ou seja, se dependesse dos soviéticos, a guerra acabava ali, com eles e os nazistas "comendo" praticamente a Europa inteira; e Stálin e os comunistas estavam "de boa" com isso.

Tanto foi assim, que Molotov fez um discursão no Soviete Supremo, em 31 de outubro de 1939, mostrando todo o carinho e amizade com os nazistas, e - informação importante aqui - tudo foi aprovado por Stálin. Então, preste atenção no discurso fofo e inspirador que é um verdadeiro tributo da União Soviética à Alemanha nazista. “A Alemanha está na posição de um estado que se esforça pelo fim rápido da guerra e pela paz, enquanto a Inglaterra e França, que ontem clamavam contra a agressão, são agora pela continuação do conflito armado e contra a paz... Círculos governantes na Inglaterra e na França tentaram recentemente se apresentar como lutadores pelos direitos democráticos dos povos contra o hitlerismo, com o governo inglês declarando que seu objetivo na guerra era nem mais nem menos, a 'aniquilação do hitlerismo'... Não faz o menor sentido, como é também criminoso travar tal guerra para “aniquilar o hitlerismo” sob o falso estandarte da luta pela democracia... Nossas relações com a Alemanha melhoraram fundamentalmente. Isto aconteceu pelo fortalecimento de nossas relações de amizade, nossa colaboração prática, e por meio de nosso apoio político a Alemanha no esforço que faz pela paz.”

Esse discurso foi feito na mais alta-cúpula do legislativo soviético e Molotov critica abertamente o anti-hitlerismo da Inglaterra e França. O que é isso meu Deus do céu?! E o professor Dmitri continua expondo essa podridão moral e ideológica de Stálin e dos comunistas na página seguinte: “Afora o fato de tal mudança de linha política e ideológica causar perplexidade na mente pública, ela também revelava uma total falta de princípios. Stálin, que mandara milhões de pessoas para a morte ou para os campos de trabalho pela mais tênue suspeita de “impureza” ideológica, demonstrava uma excepcional falta de escrúpulo ao confraternizar com o fascismo. A palavra “fascista” desapareceu do vocabulário da liderança soviética. Berlim estava feliz.

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Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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